A paixão do brasileiro por soluções fáceis, rápidas e (quase sempre) ineficientes

A atual greve dos caminhoneiros traz à tona uma verdade sobre o povo brasileiro: adoramos soluções que, na realidade, não são soluções de fato. Ideias simples e diretas que não nos encaminham a soluções reais, apenas passando a mensagem de que, após colocadas em prática por determinados grupos, seriam capazes de resolver as questões mais difíceis como num passe de mágica.

Acompanhando as reações diversas que presenciamos em resposta a essa greve, pelo menos cinco soluções deste tipo ganharam força nos últimos dias: 1) a política de preços da Petrobras deve acabar; 2) basta cortar a carga tributária sobre os combustíveis para que tudo se resolva; 3) uma intervenção militar resolveria a situação; 4) o fim da corrupção resolveria tudo; e 5) gastos peculiares (como a pensão para filhas de militares) deveriam ser extintos para cobrir um possível subsídio para o combustível.

Em absoluto podemos negar o direito a opinião, qualquer que esta seja. É importante notar que toda e qualquer sugestão é dada objetivando o mesmo fim, ou seja, aquele de procurar uma resolução para as questões. Esse carrossel de informações e sugestões está bem movimentado atualmente, dos maiores analistas políticos do Brasil ao indivíduo que possui o menor nível de conhecimento sobre o cenário atual. A problemática se dá sobre a dificuldade existente de concretizar as mudanças sugeridas.

Vamos às soluções propostas:

  1. “Devemos acabar com a política de preços da Petrobras”. 
    Uma empresa de petróleo e gás vive da produção e comercialização destes produtos. Dado que a definição do preço dos combustíveis (ao menos os fósseis) é definida internacionalmente, com base nos preços do barril de petróleo, temos que quando este sobe, o preço dos produtos derivados acaba subindo, assim como quando ele cai o preço doméstico deveria cair. A política de subsídios praticada sobre os preços desses combustíveis distorceu essa lógica: entre 2006 e 2014, independente da alta ou queda do preço do petróleo, ficamos na margem entre R$2,50 e R$3,00 nos preços da gasolina. Bom para o povo? Na verdade, não: a Petrobras acumulou uma dívida imensa no período (dentre outros motivos, pela “função social” de comprar combustível mais caro e vender mais barato internamente graças ao congelamento) e, como empresa parcialmente controlada pelo governo, repassou a conta ao povo brasileiro logo em seguida. A política de preços atualmente em vigor (e sob forte pressão) tem como objetivo, além de acompanhar os preços internacionais, reduzir a dívida da empresa – e o fez brilhantemente até então. Acabar com essa política de preços fará com que a desconfiança em torno do pagamento desta dívida aumente – e, novamente, adivinha quem irá arcar com os custos e consequências, caso a Petrobras quebre?
  2. “É só cortar os impostos”
    Nossa carga tributária é altamente regressiva. No Brasil, quem tem menos paga mais, proporcionalmente. Essa triste constatação não é novidade. Sendo assim, o mais prudente seria pegar e cortar pela raiz os tributos estaduais e federais que compõem quase metade do preço da gasolina e um terço dos preços de diesel e etanol, certo? Mais ou menos. A pergunta que não pode ser esquecida é: o que vai cobrir as despesas que estão sendo custeadas com esses impostos ou, caso a redução desejada seja permanente, de onde serão retirados recursos para que essa diminuição ocorra de verdade? Caso contrário, não se surpreenda com o óbvio fato de que alguém arcará com essa reposição de receitas, a partir de novos impostos ou do aumento das alíquotas já existentes. Como o governo não gera receitas (apenas as extrai da sociedade), esse alguém é você, caro leitor.
  3. “Se os militares tomarem o poder, tudo será resolvido”
    Imaginemos uma tomada de poder pelos militares, nesse exato momento. A questão fiscal deixa magicamente de ser um problema? Teremos realizado a façanha de resolver problemas graves do país (inclusive a questão do preço dos combustíveis)? Qual seria o efeito prático de trocar a liderança do país há poucos meses de distância de eleições gerais, deixando de lado vias democráticas?
    Essa solução costuma ser sugerida por pessoas de idade mais avançada, que viveram o período militar no Brasil – e pelos que por estes são mais influenciados diretamente. Como da máxima de que no Brasil se reescreve até o passado, um glorioso caminho do período militar é apresentado como encaminhamento de todo e qualquer problema: educação, saúde, segurança, economia e tudo mais. Mas esquecem-se da instabilidade política que isso causaria no país, ainda mais com a proximidade cada vez maior das eleições. No fundo, de duas uma: ou há um desejo por uma intervenção que “moralize todo o cenário” (seja lá o que isso quer dizer), ou algo passageiro que não muda muito as coisas dado que eleições se aproximam. Em qualquer um dos casos, soa a um “vamos delegar a outrem uma situação que não sabemos como resolver, mas esperamos que eles saibam”.
  4. Basta acabarmos com a corrupçãoa ONU diz que ela tira R$200 bilhões por ano aqui do Brasil
    Nosso país, segundo a organização Transparência Internacional, é um dos países com maiores índices de percepção de corrupção por sua população em todo o mundo. Em termos do que temos sido apresentados pela Lava Jato e operações análogas nos últimos anos, a sensação é justamente essa. De fato, temos por aqui muitos incentivos que permitem que a corrupção ocorra (como a dificuldade de punição).
    Mas, especificamente sobre esses R$200 bilhões anuais: Sabemos com exatidão onde estão os desvios ocorridos? Como podemos mitigá-los? Criar incentivos para reduzir isso seria benéfico, mas, em termos de valores, quão benéfico? Todos concordamos que a corrupção poderia ser muito menor, mas apenas apresentar este valor como sendo a solução do problema e não explorar os meios pelos quais poderíamos fazer deste montante um poderoso recurso auxiliar não ajuda. Curiosamente, os mesmos grupos que costumam utilizar este dado como salvação da lavoura são contra possibilidades reais de diminuição do gasto público, como a reforma da previdência.
  5. “E aquela pensão das filhas de militares? R$5 bilhões por ano para nada!”
    Algo que espanta qualquer pessoa que dá uma olhada nos desembolsos públicos é a quantidade de penduricalhos existentes. Diversos grupos de interesse acabam sendo beneficiados por medidas que, caso perguntados, nem eles saberiam justificar os porquês. Essa famigerada pensão às filhas solteiras de militares é um exemplo disso. Esquisito? Sem dúvidas. Como encerramos com isso? Na verdade, desde 2000 não são concedidos novos benefícios deste tipo, apenas continuam a ser pagos os que já existem em atividade. E por que motivo absurdo simplesmente não deixamos de pagar por isso imediatamente? Porque há rigidez constitucional que impede que isso seja feito àqueles que tiveram o direito concedido (fato inclusive que complica a reforma da previdência, pois alega-se que esta seria capaz de ferir direitos adquiridos).

Possivelmente sua constatação como leitor é que o Brasil simplesmente não tem solução, já que qualquer ideia acaba não resolvendo as coisas. A questão na verdade não é essa: a ótica sob a qual costumamos visualizar estes problemas é que não tem nos permitido soluções. Veja que em todos os casos o peso do Estado é notável: a carga tributária existente e a atuação deste (que tem seus custos repassados a todos) estão presentes em todos os casos.

Não, este não é o momento em que este autor irá pregar que o fim do Estado é a solução. Aliás, este item apenas não aparece na lista apresentada neste artigo apenas por terem um apoio menor, mas é notável que exista apoio pelo fim do Estado ou algo análogo a isso.

O encaminhamento de questões amplas envolve discussões igualmente extensas. Principalmente no tocante ao Estado e em sua atuação. Em um momento de contas públicas apresentando seguidos déficits, a maior verdade que não costuma ser visualizada é que, assim como um cobertor curto, se queremos esticar para uma cobrir outra parte, necessariamente teremos de descobrir outra – a não ser que queiramos reduzir o que está sendo coberto. Essa é a base da Lei de Responsabilidade Fiscal.

A solução, na prática, seria analisar os custos e benefícios dos diferentes programas públicos para apontar o que deveria permanecer e ser aprimorado e o que poderia ser descontinuado. A má notícia: isso envolveria algo tão complexo e demorado quanto um orçamento base zero.

Chegamos a situação atual com muito “jeitinho” e soluções rápidas de curto prazo. Infelizmente, para sairmos com consistência disso, tempo e esforço serão necessários para avaliar as prioridades. Crises como a atual são a maior demonstração disso.

Caio Augusto – Editor do Terraço Econômico

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em maio de 2018:

– Terraço Econômico (30/05/2018): http://terracoeconomico.com.br/a-paixao-do-brasileiro-por-solucoes-faceis-rapidas-e-quase-sempre-ineficientes

– Investing.com Brasil (30/05/2018): https://br.investing.com/analysis/a-paixao-do-brasileiro-por-solucoes-faceis-rapidas-e-quase-sempre-ineficientes-200221103?preview_fp_admin_1234=this_is_1234

OS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS: O CUSTO DA PREVISIBILIDADE

Diante da maior greve de caminhoneiros que o Brasil já teve – e dos efeitos negativos que já são observados em termos de abastecimento -, temos que uma das mais sensíveis solicitações da classe é que os preços dos combustíveis sejam mais previsíveis. Para alguns, isso significa que deve ser reduzida a carga tributária. Para outros, que deveria ser encaminhado o fim da política de preços que tem sido praticada pela Petrobras. Qualquer uma dessas medidas gerará um custo de bilhões.

Durante a semana anterior, quando Pedro Parente anunciou uma queda de 10% no preço do diesel, mesmo quando deixou claro em entrevista coletiva que tratava-se de uma decisão apenas da empresa e não relacionada a algum pedido do governo, ele deixou clara a impressão de que a decisão poderia sim ter sido impactada por alguma pressão do governo. Até os mais recentes dados, a redução de 10% e congelamento por 15 dias será por conta da Petrobras, sendo esta compensada financeiramente pelo governo no período que se seguir (de outros 45, totalizando 60 dias de congelamento).

Para a Petrobras, possíveis prejuízos serão amargados por 15 dias. Para o governo, durante todo o resto do período em que for envolvido o congelamento de preços. Mas, quando acabar o período acertado de congelamento, o que deve acontecer com a política de preços?

E DEPOIS?

A Petrobras ressurgiu das cinzas. A política atual de preços é um dos fatores que ajudou a empresa a sair de uma de suas piores situações financeiras na história, por permitir que deixasse de arcar com os custos do subsídio que fez por muitos anos. Tal política também é elogiada por permitir que a empresa recupere capacidade de pagamento de sua dívida, esta que, em virtude não só destes subsídios como também de péssimos investimentos e de corrupção, aumentou sensivelmente nos últimos anos. Outra importância desta política é que ela segue a realidade dos preços internacionais – estes que, inclusive, também estão aumentando fortemente em decorrência dessa subida dos preços do petróleo, além do aumento do dólar, que também subiu sensivelmente.

Porém, tal política é criticada, mesmo antes do início da greve dos caminhoneiros, pelo efeito de baixa previsibilidade de preços que gera: como o preço do barril de petróleo saiu da casa dos US$45 para se aproximar recentemente de US$80, os combustíveis dele derivados viram uma alta de quase 50% no período dos últimos 12 meses. Com o modal rodoviário dominando os meios logísticos no Brasil, temos que variações diárias no preço dos combustíveis são sentidas com bastante proximidade por todos que deste modal se utilizam.

Uma possível solução seria fazer como hoje é apresentado o sistema de custos do setor elétrico brasileiro: mensalmente e por meio de bandeiras que indiquem se o custo subiu ou diminuiu. Assim como com os preços dos combustíveis, a energia teve seus valores diretos ao consumidor reduzidos e virtualmente congelados durante o período de Dilma Rousseff e, visto o efeito negativo em relação aos investimentos no setor e ao tamanho do subsídio necessário para manutenção disso, decidiu-se que a variação dos preços acompanharia sim os custos reais, mas de maneira mais suave ao longo do tempo.

Imaginar que o preço dos combustíveis possa simplesmente ser congelado, principalmente considerando um cenário internacional de alta devido a diversas questões que reduzem a oferta (da crise venezuelana às sanções dos EUA ao Irã) e podem levar o preço do barril dos atuais US$80 para mais de US$100 em 2019, é simplesmente admitir que ou o governo brasileiro tem de subsidiar sabe-se lá como esse aumento ou que a Petrobras irá diluir todo seu valor para que o brasileiro tenha um combustível mais barato.

Outra medida complementar seria estudar o efeito tributário sobre os combustíveis e verificar como as receitas atualmente obtidas poderiam vir de outros lugares. Porém, em um cenário que demanda urgentes decisões e respostas rápidas, a curtíssimo prazo, anunciar uma redução dos impostos e uma política de reajustes mensais parece ser bem mais razoável. Quanto ao efeito negativo sobre as contas públicas, deve-se procurar recuperar as receitas de outros meios. Quanto a Petrobras, imaginando-se que mantenha o monopólio e não seja privatizada, ao menos não serão repassados custos de subsídio novamente aos brasileiros.

Segundo Temer afirmou na noite de domingo (27/05), a escolha será de manter o congelamento por 60 dias com participação de CIDE e PIS/COFINS. A política de preços da Petrobras irá continuar, mas agora com reajustes mensais (e não mais diários). Nos próximos capítulos vamos acompanhar se isso será a continuidade da política de preços ou se está ficará abandonada em prol de um congelamento mais longínquo.

A escolha da Petrobras está entre aumentar a previsibilidade (espaçando mais os reajustes) e a paridade internacional nos preços. A terceira via é aceitar que a fênix ressurgida voltará para as cinzas por não ter autonomia de decisão sobre os preços de seu próprio core business.

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Publicações deste artigo, que foi escrito em maio de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (28/05/2018): https://blog.guideinvestimentos.com.br/textos/os-precos-dos-combustiveis-o-custo-da-previsibilidade/

NÃO TEMOS GASOLINA, Zeus nos ajude! | Terraço em Quinze Minutos #30

https://soundcloud.com/terracoeconomico/nao-temos-gasolina-zeus-nos-ajude-terraco-em-quinze-minutos-30 – Problemas na incorporação, mas está neste link

No podcast de hoje, Victor Candido, Rachel de Sá, Caio Augusto e Eduardo Scovino batem um papo sobre A GREVE DOS CAMINHONEIROS QUE TÁ PROVOCANDO O CAOS NESTA NAÇÃO. Afinal, a culpa é de quem?

Também falamos sobre a crise de comunicação na última ata do Conselho de Política Monetária, o Copom.

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Cadastro Positivo (e o resto em baixa)! Terraço em Quinze Minutos #29

No podcast de hoje, Lucas Goldstein, Rachel de Sá, Caio Augusto, Eduardo Scovino e a estreante Talitha Speranza batem um papo sobre:

Alta dos juros de títulos americanos joga dólar perto dos R$3,70
Argentina em crise: o que aconteceu?
Cadastro Positivo é aprovado na câmara dos deputados
Serviços em baixa desanimam projeções do PIB para 2018.

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GASOLINA: O COMBUSTÍVEL DO POPULISMO FISCAL

Uma das notáveis mudanças ocorridas após a troca entre Dilma e Temer foi a mudança de postura em relação à política de preços da Petrobras. Após a descoberta do pré-sal, em meados do segundo governo Lula, praticou-se no Brasil uma política de “congelamento” dos preços dos combustíveis derivados de petróleo. A ideia apresentada pelos governantes era de que, como tínhamos descoberto uma das maiores reservas do mundo, compensaria aguardar os frutos desta exploração mantendo o preço em um mesmo patamar. Usaram a gasolina (diesel também) como combustível para uma política populista e irresponsável.

Para fazer com que esse tipo de congelamento de preços ocorresse, ou o governo tinha de manter um preço mais alto quando o petróleo (que dá a base de preços gasolina e diesel) estava baixo ou tinha de comprar mais caro lá fora para vender mais barato aos brasileiros. Tal política resultou em um custo imenso para a empresa estatal, que viu sua dívida aumentar sensivelmente. 

Isso gerou uma consequência bizarra: quando o preço do petróleo subia, a empresa tinha prejuízos com sua atividade principal. 

OS PREÇOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS

Com a entrada de Pedro Parente na presidência da Petrobras, tivemos a equiparação entre os preços nacionais e os internacionais. Tal política de preços passa a considerar como regra a seguinte situação: caso os preços internacionais subam, os nacionais serão reajustados para cima e, caso o contrário ocorra, os preços serão reduzidos. Essa nova política de preços ajuda bastante na redução da dívida da empresa, uma vez que reduz a zero os subsídios anteriormente praticados. Para qualquer comerciante, de qualquer produto, essa é a lógica básica de qualquer negócio.

Nos últimos 12 meses pudemos observar um aumento considerável no valor internacionaldo petróleo: saindo dos arredores de US$50 em junho de 2017, aproximando-se a US$80 nos dias atuais. 60% de aumento em um ano. Como não poderia deixar de ser, os preços dos combustíveis acompanharam esta subida vertiginosa. Se por um lado isso ajudou nos resultados da Petrobras, se fez sentir no bolso dos brasileiros.

Mais recentemente, o governo Temer tem sinalizado que está ciente dessa grande mudança nos preços dos combustíveis e estuda maneiras de torná-la mais suave. Como é notável que o governo brasileiro não é capaz de controlar os preços internacionais do petróleo, temos que essa “suavização” só pode ocorrer de duas maneiras: controlando a política de preços da Petrobras diretamente – o que é, basicamente, repetir o que vimos nos governos Lula e Dilma – ou reduzindo a carga tributária sobre os combustíveis.

Segundo a FECOMBUSTÍVEIS, a participação dos impostos sobre o preço dos combustíveis é imensa: 43% no preço final da gasolina, 27% sobre o diesel e 26% sobre o etanol. Os impostos são três: ICMS, PIS/COFINS e CIDE (sendo o primeiro estadual e os últimos dois federais). No caso dos dois impostos federais, CIDE tem incidência de R$0,10 por litro de gasolina, R$0,05 por litro de diesel e não tem efeito sobre o álcool; PIS/COFINS envolvem R$0,79 por litro de gasolina, R$0,46 por litro de diesel e entre R$0,11 e R$0,13 por litro de álcool.

Uma visão inicial mostra que há um belo espaço para redução do valor dos combustíveis apenas diminuindo a participação de impostos federais sobre eles, certo? É aí que vem a surpresa: estamos há alguns anos não fechando as contas públicas (e a previsão é de que voltemos a fazer isso, em um bom cenário, apenas na próxima década), o que significa que toda e qualquer mudança realizada para reduzir arrecadação federal de algum ponto necessariamente envolverá aumento por outro lado. Podemos chamar isso de algo que já vimos muito no Brasil: populismo fiscal. 

A decisão do governo Temer sobre reduzir o preço dos combustíveis ocorrerá, impreterivelmente, através de mudança direta na política de preços dos combustíveis ou por redução da carga tributária. No primeiro caso, incorrerá em perdas de gestão e autonomia da Petrobras e, no segundo, em perda de arrecadação pública. Qualquer que seja o caso, será uma medida popular porque aliviará o peso desta despesa no bolso do brasileiro – o que talvez não mude o fato dele ser o presidente mais impopular da história do Brasil, mas é mais um dos fatos que entra para a lista de “foi um péssimo presidente, mas pelo menos fez…”

Infelizmente, qualquer que seja o caso, a conta chegará justamente aos brasileiros. Seja por meio de um endividamento maior da Petrobras que, como empresa estatal, cobrará a conta de todos nós, ou mesmo pelo aumento de tributos em outras áreas. Não há almoço grátis, principalmente quando se trata do já velho conhecido e curiosamente adorado populismo brasileiro.

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Hoje o maior blog independente de economia do Brasil, foi criado por 4 amigos em 2014, o motivo? Fornecer análises claras e independentes sobre economia e finanças, sempre com a missão de informar o leitor.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em maio de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (25/05/2018): https://blog.guideinvestimentos.com.br/textos/gasolina-o-combustivel-populismo-fiscal/

Previsões erradas, expectativas frustradas

Um breve retrospecto: de Dilma a Temer, esperávamos que a tempestade fosse embora

Início de 2016. Expectativas negativas sobre a economia nos colocavam no pior dos mundos em muito tempo: estávamos no auge da pior crise econômica, perspectivas políticas eram péssimas, o trio dólar-inflação-juros nas alturas. Diversos eram os motivos para se ter desesperança com o Brasil e isso se refletiu diretamente nas expectativas econômicas da época.

O processo político e jurídico do impeachment tirou Dilma Rousseff da jogada. Tínhamos então seu vice, Michel Temer, que logo em seu primeiro discurso já afirmava que, embora mantendo programas sociais diversos, iria oferecer ao país uma guinada econômica. Preceitos intervencionistas seriam aos poucos abandonados, a iniciativa privada teria mais liberdade de ação e, enfim, o notável problema fiscal (as contas públicas que não fechavam) teria um encaminhamento real de solução.

O “mercado” comprou a ideia de que as melhorias viriam. As expectativas passaram a melhorar a partir desta mudança de mentalidade. Ainda em 2016, retração econômica, mas já com uma mudança considerável no tocante a inflação: saímos dos dois dígitos para ficarmos abaixo do teto da meta (à época, 6,5% ao ano), uma notável conquista do que fora amplamente chamado de Dream Team da economia, com Ilan Goldfajn no Banco Central e Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda .

2017 se iniciou com um encaminhamento sensível de queda para a inflação e, consequentemente, para os juros. O banqueiro central brasileiro afirma que foi possível quebrar a espinha dorsal da inflação no país no meio do ano e, após o balanço dos 12 meses deste período, tivemos uma das menores inflações de nossa história, que ficou abaixo do piso da meta. Junto com a inflação os juros também despencaram.

Uma completa lua de mel entre dados positivos e expectativas de um país de crescimento mais vigoroso e consistente. Previsões para 2018 indicavam que, se 2017 representou o início de uma recuperação econômica, este próximo ano significaria uma elevada marcha de avanço na economia.

Quadro recente: ressaca “inesperada”: 2018Hora da expectativa virar realidade – vermos o crescimento tão falado nos períodos anteriores – ao menos era o que o cenário indicava. O que de fato tem acontecido?

Já estamos próximos do meio do anoe os resultados da recuperação estão aquém do esperado. No próximo dia 30 de maio conheceremos os resultados do PIB do primeiro trimestre de 2018 e a maioria dos indicadores antecedentes e aqueles que servem de proxy apontam para um fraco resultado, gravitando em torno de zero.

Tal resultado mata praticamente a possibilidade do PIB crescer 3,0% este ano, como muito foi ventilado. A única forma seria uma revisão dos resultados verificado no ano passado, ou seja, uma revisão altista do PIB de 2017 poderia aumentar o carrego estatístico (carry-over) positivo para esse ano – este é o efeito de crescimento ou queda no PIB que um ano faz impactar no ano seguinte. Mas não contem com isso, não é comum revisões tão volumosas assim.

O leitor atento e atualizado certamente verificou pipocar aqui e acolá números como crescimento de 3,5% a 4,0% do PIB para este ano. O Focus, por ser a mediana, também captou essa euforia exacerbada, embora em menor intensidade. A projeção saiu de cerca de 2,0% em meados de setembro para quase 3,0% em março deste ano.

Mas como você diz que foi superestimada? Quem poderia saber que a recuperação seria mais fraca que isso? Falando agora fica parecendo engenheiro de obra pronta. Bom, nós tínhamos alguns sinais desde aquela época que talvez esses números estivessem exagerados.

Primeiro ponto, para atingir 3,0% ou mais, a economia brasileira teria que crescer em média praticamente 1,0% em todos os trimestres até o final deste ano, desempenho que só foi verificado no último boom que o país passou. Era bastante improvável um desempenho dessa magnitude numa saída de recessão tão intensa como a que passamos, com forte queda da produtividade, elevado desemprego e incerteza.

A recuperação econômica de um país como o nosso, no qual o setor de serviços representa ⅔ de tudo que é produzido, depende de pessoas com renda, crédito e emprego para se concretizar – e, certamente, desemprego ainda alto e endividamento também, contribuem negativamente para isso.

O segundo ponto foi justamente a elevada incerteza em torno da aprovação da reforma da previdência, peça fundamental do início da consolidação fiscal e condição sine qua non para uma retomada consistente. Em termos práticos, por mais que muitas medidas importantes tenham sido tomadas (mais como sinalizações), o lado fiscal ainda tem problemas de grande magnitude a serem resolvidos.

O terceiro ponto, que parece estar sendo notado apenas mais recentemente: estamos neste ano diante de uma eleição altamente imprevisível. Tal qual 1989, existe uma miríade de candidatos com propostas diferentes entre si, não tendo até então candidatos com fortes intenções de voto. Ter diversos candidatos e propostas por si só não é problemático, mas a questão delicada é que, como em eleições deste tipo, o candidato vencedor pode ter muito menos apoio popular e no Congresso do que seria necessário para aprovar reformas importantes e urgentes como a da previdência, o que prolonga a dificuldade de resolução de diversos problemas.

Um último, mas não menos importante, ponto é a mudança do cenário internacional, com o processo de encerramento dos estímulos monetários na europa e a tendência ascendente dos juros internacionais (sobretudo nos EUA), que reduzem a rentabilidade relativa do Brasil e atraem recursos para fora do país, elevando a taxa de câmbio.

Tão logo os resultados de conjuntura começaram a sair, como varejo, indústria, serviços e etc, logo se viu um resultado fraco para os primeiros meses do ano. Enquanto as vendas no varejo cresceram apenas 0,3% no primeiro trimestre e a produção industrial mostrou estabilidade (0,0%), o volume de serviços recuou 0,2% nos primeiros três meses do ano, frente os últimos três do ano passado (todos resultados com ajuste sazonal).

Com isso, o Banco Central mostrou em seu Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que tenta ser uma proxy para o PIB (ainda que com defeitos no curto prazo), uma queda de 0,13% da atividade econômica no primeiro trimestre. Ainda tentando antecipar o PIB, o Monitor do PIB do Ibre/FGV mostrou alta de 0,3% em igual trimestre.

A retomada do mercado de trabalho tem se mostrada fraca, com o desemprego ainda superando os 12,0% (na série ajustada sazonalmente). Assim, após os resultados já conhecidos e a frustração com a reforma da previdência, começou-se a revisão das projeções com esta chegando a próximo de 2,50% nas últimas leituras do boletim Focus.

Devagar com o andor, que o santo é de barro: muita calma na hora de prever!

O diagnóstico desta ressaca é uma mistura de otimismo exacerbado e mudanças que não aconteceram sendo contabilizadas no tempo presente, além de uma boa dose de “esquecimento” sobre dados da economia real que não dão respaldo a essa magnífica recuperação que era esperada.

A economia real talvez seja bem menos empolgante do que indicam os ritmos propalados pelo mercado, seja para momentos de desespero ou para outros de euforia. O “mercado” é uma importante instituição e guia para os agentes e em geral possuem uma racionalidade um pouco acima do que a média dos agentes, mas nós sabemos que ele não é perfeito. Nesse caso, a assimetria de informação e talvez até algum problema de Moral Hazard, tenha influenciado no comportamento eufórico exacerbado.

Não estamos negando os diversos avanços ocorridos e que ainda ocorrem, por vezes com aprovações de projetos menores e menos midiáticos, mas o ritmo reformista deste governo já foi, se perdeu (coisas que o calendário eleitoral faz).

Por fim, devemos ressaltar um máximo cuidado na avaliação das projeções que pipocam no mercado, sempre avaliando a factibilidade delas (sobretudo pela própria série de tempo da variável), bem como as condicionantes que sustentam as previsões, que no caso atual pareceram claramente subestimar os reais problemas que 2018 trariam para a nossa porta.

 

Caio Augusto – Editor do Terraço Econômico

Arthur Lula Mota – Editor do Terraço Econômico

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em maio de 2018:

– Terraço Econômico (24/05/2018): http://terracoeconomico.com.br/previsoes-erradas-expectativas-frustradas

TEMER RETOMA O POPULISMO | Controle dos Preços dos Combustíveis

TEMER RETOMA O POPULISMO | Controle dos Preços dos Combustíveis

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse hoje por meio de seu Twitter que já está combinado com presidente do Senado Federal sobre o destino dos recursos da reoneração sobre folha salarial que está em discussão: reduzir os impactos do aumento do diesel. Disse também que com esse mesmo objetivo será zerada a CIDE (imposto federal que incide sobre os combustíveis).

Tal medida, caso ocorra de fato, em um cenário de déficits anuais seguidos nas contas públicas, demonstra que Temer não diz a verdade quando menciona que não tem preocupação com a popularidade. Tal decisão toma o caminho contrário a diversas reformas trazidas nos últimos dois anos e confirma uma continuidade da evolução do quadro fiscal negativo – uma vez que os recursos da reoneração poderiam ser utilizados para reduzir a dívida pública, mas apenas compensarão um subsídio.

O canto da sereia do populismo é atraente. Mas já vimos esse filme anteriormente: a chance de se afogar é real.

Arthur Solowiejczyk e Caio Augusto | Editores do Terraço Econômico

 

Nota publicada na página do Terraço Econômico no Facebook em 22/05/2018 – https://www.facebook.com/terracoeconomico/posts/1954581427925991 

FORO PRIVILEGIADO (quase) CAIU! Terraço em Quinze Minutos #28

No episódio de hoje, Lucas Goldstein, Renata Kotscho Velloso, Arthur Solow, Caio Augusto e Eduardo Scovino analisam, tintim por tintim, os temas:

Restrição do foro privilegiado a parlamentares
Caso Marielle: O Globo aponta suspeitos do assassinato
Banco Neon é liquidado pelo Banco Central
Lista da Forbes dos líderes mais poderosos
Trump quer abandonar acordo nuclear com o Irã
38 países querem que os EUA e a China terminem guerra comercial

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Trilha: bensound.com

BANCOS COMUNITÁRIOS – UMA BOA (PORÉM CONCENTRADA) IDEIA

Uma das maiores favelas do Brasil, a Paraisópolis, vai ganhar em breve um banco (um mini banco central) que emite moeda para uso exclusivo na própria comunidade. Essa ideia não é nova no Brasil: o primeiro projeto data de 1998, com o chamado Banco Palmas, da favela de Palmeiras, em Fortaleza; tampouco a ideia é nova no mundo: o prêmio Nobel de Economia de 2006 foi para Mudammad Yunus, criador de um banco de microcrédito na Índia que se utiliza deste modelo de ter a sua própria moeda.

A ideia é positiva e possui uma lógica econômica atrelada a ela, mas tem seus prós e contras. Pelo lado positivo, vemos que se cria um incentivo positivo ao desenvolvimentointerno das regiões que se utilizam deste modelo. Além do fato da moeda criada ser de circulação válida apenas no território pré-determinado, geralmente o foco de atuação é o de emprestar recursos aos moradores e, como contrapartida dos pagamentos dos empréstimos, muitos projetos da região tendem a ser beneficiados. Um verdadeiro ciclo virtuoso pode ser iniciar.

Diante dessa regionalização, a promoção de um desenvolvimento mais focalizado pode fazer com que a região fique mais resistente a problemas socioeconômicos que a cerquem em comunidades próximas. O acompanhamento mais direto que se tem com a proximidade da tomada de decisões dos bancos – sabe-se mais diretamente a quem se vai emprestar, sua capacidade de pagamento e o quanto essa pessoa pode contribuir para a comunidade – é um fator de fortalecimento do sistema.

Por último, mas não menos importante, temos a ampliação dos meios de pagamentos dos negócios da comunidade. Saindo do papel moeda e entrando em meios diretos de financiamento, ou mesmo de pagamentos em si (esses bancos comunitários costumam ter seus próprios cartões de crédito interno), a própria violência se reduz: no caso da pequena cidade de São João do Arraial, no Piauí, registra-se um nível consideravelmente inferior de violência em comparação aos municípios da mesma região. 

Como nem tudo são flores, temos também o lado negativo. Justamente devido a essa centralização, temos que o desenvolvimento possível alcança um limite dentro das possibilidades daquela região. O retorno existe e é crescente, mas, num limite em que esgotam-se todas as possibilidades de melhoria, o contínuo desenvolvimento cessa. Na prática, isso pode significar que os ganhos obtidos com essa prática sirvam para, no longo prazo, manterem as pessoas em situação econômica e social melhor do que seria sem tal estrutura, mas pior do que poderia ser, caso tivesse a possibilidade de crescer e se desenvolver ainda mais amplamente.

Outro problema, também derivado da focalização na região, é o fato de que assim deixa-se de aproveitar uma gama de oportunidades advindas do mercado fora da comunidade. Com isso, das duas, uma: ou o crescimento e desenvolvimento estarão fadados a um limite que uma hora irá desestimular a continuidade do sistema, ou aos poucos a integração das benesses internas com o “mundo fora da comunidade” acabará por assim dissolver o sistema montado internamente.

E emergem problemas práticos da utilização de dinheiro próprio, como a segurança contra falsificações, o problema de a moeda não ser digital e poder ser roubada facilmente, além, claro, do fato de que se o processo não for bem coordenado e houver emissão de dinheiro demais, a inflação irá acontecer nessa moeda, e, com isso, as pessoas irão naturalmente abandoná-la e retornar para a moeda forte – no caso, o próprio real do nosso dia-a-dia.

Na prática é difícil afirmar que o lado negativo supere o positivo, dadas as experiências bem sucedidas e duradouras que podemos observar no Brasil. Hoje, com apoio do BNDES para a gestão dos fundos e amparo legal da Secretaria de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, tais iniciativas oferecem uma estruturação maior em termos financeiros por onde passam e se instalam.

Entretanto, seria ainda melhor se as comunidades pudessem, entre si, realizar uma troca de ganhos através do mercado. A complexidade disso envolveria, por exemplo, a necessidade de se avaliarem os câmbios paralelos entre as moedas criadas. Se os bancos centrais do mundo todo já temem a descentralização através das criptomoedas, imagine através de diferentes e pequenas unidades regionais de “bancos centrais”.

Em suma: trata-se de uma elogiável ideia, porém esta que é limitada regionalmente e em ganhos.

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Publicações deste artigo, que foi escrito em maio de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (17/05/2018): https://blog.guideinvestimentos.com.br/textos/bancos-comunitarios-uma-boa-porem-concentrada-ideia/

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No episódio de hoje, Lucas Goldstein, Caio Augusto, Eduardo Scovino e Renata Kotscho Velloso analisam, tintim ou tintim, os temas:

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