FALTAM FISCALIZAÇÃO E RESPONSABILIZAÇÃO, SOBRAM TRAGÉDIAS

Nesta última sexta-feira mais uma tragédia evitável ocorreu no Brasil: uma barragem de rejeitos da Vale em Brumadinho-MG estourou. Não é a primeira vez que uma catástrofe dessa ocorre, muito provavelmente não será a última. Por que será que esse tipo de situação segue ocorrendo?

Temos em nosso país uma atmosfera que atrai esse tipo de ocorrência por basicamente duas razões: ausência de responsabilização e fiscalização altamente deficiente. Para piorar, a culpa é sempre atribuída de maneira cruzada: setor público culpa as empresas por não cuidarem de suas estruturas e as empresas apontam que o problema é a ausência de fiscalização. Os dois lados estão corretos em apontar o erro e errados na postura.

Nossa fiscalização para questões ambientais é realmente deficiente. Especificamente quanto a barragens, apenas 3% de todas as existentes no país foram fiscalizadas no ano de 2017. Porém, a responsabilização por aqui também não é das melhores, para usar um eufemismo imenso. Você já parou para pensar no que ocorreu após o incidente análogo em Mariana-MG? Segundo o prefeito da cidade, estão sendo “enrolados” há três anos.

Faltam fiscalização e responsabilização. Para fiscalização, está claro que não avançamos em nada após o incidente em Mariana. Por responsabilização, dados os efeitos até hoje aguardados em termos de punição, também não.

Fato é que esse tipo de ocorrência por si só repercute mundialmente de maneira muito negativa. Primeiramente pelo descaso que levam a sua ocorrência e, logo em seguida, pelo jogo de empurra-empurra que ocorre para acharmos culpados e deixarmos a impressão, logo após isso, que tudo está tudo bem novamente.

Além da punição de mercado – as ações desabaram na sexta-feira, feriado em São Paulo, e devem cair consideravelmente ainda dados os efeitos jurídicos até então colocados contra a Vale -, a empresa e os responsáveis diretos por esse desleixo catastrófico devem ser punidos exemplarmente. Não é aceitável que duas tragédias ocorram, em menos de cinco anos entre uma e outra, pelo mesmo motivo e, ainda assim, nada venha a ocorrer.

É preciso melhorar a gestão dos órgãos fiscalizadores. Também é preciso reforçar ainda mais a importância de medidas preventivas eficazes. Enquanto a fiscalização for o único motivo de fazer reparos e, exceto em sua presença, continuarmos com essa amálgama de perigosos “jeitinhos”, não se poderá deixar de crer que mais e mais eventos como esse virão a ocorrer.

Não podemos esquecer, para além de todos os efeitos negativos de mais uma tragédia dessas, que institucionalmente isso representa que nosso poder público não é crível em suas punições no tocante a crimes ambientais. Se por um lado isso pode parecer o paraíso para quem pretende vir abrir um negócio à base de “gambiarras” por aqui, para quem vê a importância real das instituições – a imensa maioria, no caso -, a sensação é de que vivemos em um país que não é sério e não parece nem estar próximo disso. Fiscalização, assuma seu papel com gestão mais eficiente e cumpra suas funções. Empresas, prestem ainda mais atenção nos resíduos gerados por seus processos produtivos. Se por aqui nem o que parece óbvio está fácil de entender, será sempre salutar relembrar isso.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em janeiro de 2019:

– Blog da Guide Investimentos (29/01/2019): https://blog.guide.com.br/textos/faltam-fiscalizacao-e-responsabilizacao-sobram-tragedias/

BOLSONARO EM DAVOS: MAIS ECONOMIA, MENOS IDEOLOGIA

Durante sua primeira viagem internacional como presidente do Brasil, Bolsonarocompareceu com uma equipe de ministros ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. A ausência de outras figuras bastante importantes como Theresa May, Donald Trump e Xi Jinping e o otimismo espalhado com sua eleição o colocam em posição de destaque nessa conferência.

Seu aguardado discurso foi breve, durou menos de dez minutos, e fartou-se de afirmar que o Brasil está em plena transformação. O foco foi o de dizer que estamos abertos ao mundo que quiser investir em terras tupiniquins e que, diferentemente do que se havia (ao menos de impressão) anteriormente, não olharemos mais parceiros de investimentos apenas sob a ótica da ideologia ou das supostas “nações amigas”. Foram apresentadas também, no breve discurso de Bolsonaro, os compromissos de reformar a previdência e abrir mercados.

Não que de um discurso esperássemos as soluções todas do Brasil – ainda mais pelo fato de que tais ideias ainda estão sendo apresentadas por aqui e só começarão a ser discutidas após o recesso das casas legislativas e a posse dos novos representantes. Mas a falta de profundidade no como chegar a esses fins desejados deixou uma sensação de que falta algo.

Se por aqui o estilo “solta a notícia e depois vê, a depender das opiniões, se confirmamos ou se desmentimos” tem razoável sucesso entre seus apoiadores, para o resto do mundo que investe a ideia central é a da confiança na palavra. Sendo o Brasil um país com um enorme mercado e atualmente posicionado em um pré-ciclo econômico positivo (dado o fato de ter saído de sua maior crise econômica e ter considerável capacidade ociosa a ocupar), agora faltará colocar na prática o discurso anunciado, ou aguentar o efeito negativo existente de não se manter a palavra.

Como já falamos que o Bolsonaro venceu e o que o mercado tem com isso, uma batalha importante a ser vencida para colocar a pauta liberal em prática é contra o corporativismo do congresso eleito. O presidente conta mesmo com vários apoiadores, mas de grupos de interesses diferentes que podem fazer valer suas opiniões. Um deles, para citar, é o dos militares: alguns deles já se manifestam contra a presença deste grupo na reforma previdenciária – o que talvez a tornaria mais uma reforma meia-sola como as que já vimos em outros tempos.

Apesar de já discutido diversas vezes desde o final do segundo turno das eleições presidenciais de 2018, Bolsonaro representa por um lado a continuidade de mudanças iniciadas no governo Temer e por outro a guinada em assuntos que por este último permaneceram iguais. Há real expectativa de que, como o próprio presidente afirmou tantas vezes, seja possível “mudar isso daí”.

Por ora, assim como no discurso em Davos, o que se aguarda é que a “batalha contra a ideologia” seja superada pela deliberação real de avanços econômicos. Ou então, como alguns críticos ferozmente indicaram após este discurso, o resultado será “um fracasso”.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em janeiro de 2019:

– Blog da Guide Investimentos (23/01/2019): https://blog.guide.com.br/textos/bolsonaro-em-davos-mais-economia-menos-ideologia/

Política monetária e ciclo econômico: EUA e Brasil nos anos recentes

A crise de 2007/2008 teve grande impacto sobre a política monetária em todo o mundo, mas essencialmente sobre a maior economia do planeta. Os Estados Unidos, como meio de incentivar a atividade econômica, levaram suas taxas de juros a patamares virtualmente iguais a zero, situação que permaneceu assim até bem recentemente. Ao final de junho de 2006, a taxa era de 5,25% ao ano. A partir de dezembro de 2008 passou a ser de 0,25% ao ano e ficou entre isso e 0,75% até dezembro de 2016, quando retornou a subir. O patamar atual é de 2,5% ao ano.

Desde o final de 2017,  várias apostas têm sido feitas quanto ao número de vezes que o FOMC aumentaria a taxa de juros básica americana. No entanto, o que se tem perguntado é sobre o motivo de tal política e como esta decisão impacta o mundo, principalmente nos países em desenvolvimento.

A política monetária do FED é feita por meio de três instrumentos: taxa de juros básica da economia (Federal Funds Rate), treasures (compra e venda de ativos) e comunicação, com o comprometimento de maximizar o emprego, ou seja, atingir o pleno emprego, estabilização de preços e controle da taxa de juros de longo prazo.

Dessa forma, desde a crise de 2008, a autoridade monetária americana adotou a política do Quantitative Easing, que tinha como principal objetivo aquecer a economia americana mediante a queda da taxa de juros de curto prazo. Para o Brasil, o QE provocou uma apreciação da moeda nacional, aumento do consumo de crédito e diminuição da taxa de juros impulsionada pela queda da inflação.

Com esta política, a economia americana conseguiu retomar o crescimento, mas a preocupação se voltou para o controle da inflação, pois em tempos de aquecimento econômico, o aumento dos preços deve ser monitorado impreterivelmente. Por esta razão, a partir de 2015 o FED começou sinalizar que o momento seria de graduais elevações na taxa de juros americana (política conhecida como tapering) e, desde então foram realizados oito aumentos nesta taxa, chegando a 2,00%-2,25% em setembro de 2018.

No Brasil, estas elevações da FED Funds trouxeram volatilidades expressivas na taxa de câmbio, principalmente no ano de 2018, em que já se tinha um cenário interno de bastante incerteza política. Assim sendo, antes de entender o motivo do impacto do aperto monetário norte-americano sobre a economia brasileira, é preciso saber que o BCB, diferentemente do FED, gere a política monetária por intermédio do regime de metas de inflação, que por meio das expectativas dos agentes em relação a inflação brasileira, se estabelece uma meta de inflação para o controle do nível de preços.

O instrumento de polîtica monetária utilizado pela autoridade monetária neste caso é a taxa de juros de curto prazo (Selic), que em reuniões do COPOM define-se uma meta para esta taxa, com o objetivo de ajustar as expectativas dos agentes a meta de inflação pré definida.

Com isso, depois que o FED começou a subir a taxa de juros, os investimentos americanos ficaram mais rentáveis devido ao retorno maior e risco mais baixo se comparado ao Brasil (no mesmo período com a estabilidade da inflação, o BCB começou a reduzir a Selic), ou seja, ocorreu fuga de capital no Brasil que se intensificou devido a incerteza sobre os rumos da economia brasileira com as eleições, colaborando ainda mais para a volatilidade cambial no país.

No cenário atual, as autoridades americanas voltaram a se debruçar sobre a questão da trajetória das taxas de juros por lá. Enquanto no mês de novembro não foram criados o número de empregos nos EUA que se tinha projetado – sinalizando o que o FED já tinha dito há alguns dias de que a quantidade de aumentos na taxa de juros se reduziria – para o mês de dezembro a criação de empregos superou as projeções. Isso, na prática, mostra que o caminho não será tão simples daqui em diante, pois o equilíbrio entre aumento da taxa de juros e continuidade do crescimento econômico é bastante difícil de ser previsto.

Para o Brasil, esta notícia é positiva, pois com a inflação em expectativas ancoradas em proximidade da meta, o mercado não enxerga aumento da Selic pelo Bacen e a taxa de juros americana estabilizada, os investimentos no Brasil tendem a aumentar (isso levando em consideração que o ajuste fiscal será feito). Atualmente temos o menor patamar nominal de juros de toda a série histórica: desde março de 2018 estamos em 6,5%, sendo que menos de dois anos antes (setembro de 2016) passamos a observar redução do arranha-céus de 14,25%, nível no qual nossa taxa básica de juros permaneceu por pouco mais de um ano seguido.

Em termos práticos, os rumos econômicos da maior economia do mundo sempre impactará os outros países, principalmente se forem emergentes, como é o caso do Brasil. Ainda assim, não se podem deixar de lado características específicas de cada país a respeito, por exemplo, do ponto do ciclo econômico em que cada um se encontra.

Quanto ao ponto do ciclo econômico, Brasil e Estados Unidos encontram-se, segundo analistas, em posições opostas. Por aqui, saímos engatinhando da maior crise de nossa história (2015-2016) e, portanto, devemos estar próximos a um novo ciclo de crescimento (que pode ser reforçado por políticas liberais até então propostas). Na terra do Tio Sam, analistas preveem que no máximo entre o final de 2019 e o início de 2020 deve se iniciar a próxima crise.

Isso coloca o Brasil como sendo uma grande oportunidade de investimento neste ano e no próximo. Mas, é sempre importante frisar, tudo dependerá por aqui do quanto reformas estruturantes gerarão de impacto real e, por lá, de quando a próxima crise virá.

Quando a próxima grande crise vier, é claro que seremos afetados. Mas nossa capacidade de resistir – e sair dela, esperamos todos, de forma sustentada -, será definida pelo intervalo compreendido entre o agora e o início do tsunami que está sendo previsto.

 

Caio Augusto – Editor do Terraço Econômico

Jéssica Martins – Graduada em Economia Empresarial e Controladoria pela FEA-RP/USP

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em outubro de 2018:

– Terraço Econômico (18/01/2019): https://www.terracoeconomico.com.br/politica-monetaria-e-ciclo-economico-eua-e-brasil-nos-anos-recentes/?fbclid=IwAR1Kr4Si_7hqgedcOTyAHbtXINuh8agJw0qTWNh6uRZBDdmFKpkIxYBN9Kw

– Investing.com Brasil (18/01/2019): https://br.investing.com/analysis/politica-monetaria-e-ciclo-economico-eua-e-brasil-nos-anos-recentes-200224612?preview_fp_admin_1234=this_is_1234

BOEING E EMBRAER: VALOR ESTRATÉGICO OU SINERGIA?

O mercado da aviação mundial recebeu uma notícia importante no meio de 2018: Boeing e Embraer anunciaram que estariam para formar uma Joint Venture. Dois destaques logo vieram à tona, pela opinião de especialistas: a depender dos resultados da negociação, a empresa brasileira perderia valor estratégico ou ocorreria uma sinergia que a colocaria de vez no mercado global.

Embraer já é conhecida mundialmente por seus jatos executivos econômicos, elegantes e com uso elogiado pela interação amigável com o usuário. Também é conhecida em todos os cantos pela ilha de excelência que representa em termos de mão-de-obra técnica, pesquisa e desenvolvimento de produtos na área em que atua, gerando produtos comercialmente viáveis e também soluções de segurança militar ao Brasil. São estes os dois fatores que, simultaneamente, geraram preocupação e animação com essa união.

O fato de ser eficiente no processo de colocar seus jatinhos executivos no mundo representa uma possibilidade bastante positiva com essa fusão. Atualmente, um dos mercados que poderiam passar a ter mais aeronaves da Embraer é o dos EUA, no qual atualmente temos a Bombardier (principal concorrente da Boeing) como presença – e, segundo a própria Boeing, isso ocorre devido a incentivos canadenses e ingleses que permitem que a empresa venda seus aviões abaixo do preço de custo.

A alta capacidade de geração tecnológica e estratégica em termos militares é uma preocupação com essa operação entre a brasileira e a norte-americana. Existe inclusive uma cláusula, a chamada Golden Share, que permite que o governo brasileiro vete operações que prejudiquem a soberania nacional em qualquer circunstância. O governo Bolsonaro já sinalizou que não vetará a operação porque não observa que haverá danos desta natureza.

Ainda está sendo discutido como funcionará na prática o acordo entre as duas empresas. Mas, pelo que se tem até então, será criada uma nova companhia na qual 80% das ações serão da Boeing e 20% da Embraer, tendo a norte-americana responsabilidades comerciais e a brasileira mantendo suas atividades para aeronaves de segurança nacional e jatos executivos.

Colocando de lado a discussão clássica no Brasil do que seria ou não “estratégico ao nosso futuro como nação”, não podemos nos esquecer que a Embraer não é uma empresa que deve fazer qualquer negócio por fazer. Caso a negociação em curso seja bem-sucedida, a empresa brasileira verá suas atividades se reduzirem (ficarão apenas em jatos executivos e defesa) em relação ao leque que possuem atualmente e, na prática, ficarão mais dependentes das ações da norte-americana, o que tem incomodado os acionistas.

A situação atual é de que o conselho de administração deu aval à operação e o governo afirma não se opor (ou seja, não usará a golden share). Ainda falta a aprovação por parte dos acionistas. Vencerá o pensamento da sinergia positiva ou do risco de perder valor estratégico nacional? Acompanhemos os próximos capítulos.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em janeiro de 2019:

– Blog da Guide Investimentos (14/01/2019): https://blog.guide.com.br/textos/boeing-e-embraer-valor-estrategico-perdido-ou-sinergia-positiva/

BolsoGuedes confusos, Trump em apuros e Reino Unido apreensivo! Terraço em Quinze Minutos #64

Nesta edição, Lucas Goldstein acompanha Caio Augusto, Daniele Chiavenato, Douglas Albuquerque e Renata Kotscho Velloso com os seguintes temas:

BolsoGuedes se estranham, Onyx desfaz a bagunça e todos seguem fazendo as pazes
Brexit: Theresa May segue perdendo
O eterno vai e volta da reforma da previdência
Trump em apuros: democratas assumem a presidência da câmara
Presidente do Banco Mundial renuncia ao cargo
Guedes oficializa presidente da Caixa e faz discurso polêmico

APPLE PERDE UM FACEBOOK EM VALOR: DEPENDER DE INOVAÇÃO CUSTA CARO

Em 2018 observamos um fenômeno surreal: pela primeira vez na história uma empresa superava US$1 trilhão em valor de mercado. Essa empresa era a Apple – pouco tempo depois a Amazon também superou essa marca.

Após um dezembro turbulento no mercado de ações norte-americano, com perdas históricas em praticamente todos os setores – as maiores desde os anos de 1930 e 1931, impactados pela recessão de 1929, para este mês -, vimos a empresa da cobiçada maçã entrar em 2019 tendo registrado uma perda impressionante: mais de US$450 bilhões foram embora desde o pico alcançado em 3 de outubro de 2018.

Para se ter uma ideia, essa perda supera, em valor, 496 empresas do índice S&P500 (apenas Microsoft, Alphabet, Amazon e Berkshire Hathaway têm valores superiores). A perda supera o valor de mercado do Facebook e é o triplo do valor do McDonald’s.

Se por um lado essa perda foi reflexo de uma desvalorização imensa nos ativos de renda variável como um todo nos Estados Unidos, outro fator também é determinante para a variabilidade do valor da Apple. Este fator é a dependência da inovação, como falamos em: Apple e Amazon: Quem fica acima do trilhão?

Brevemente apresentada, essa dependência é o necessitar da Apple em ter produtos realmente inovadores que consigam manter as receitas, as margens e a subida de valor. Provavelmente o leitor vai pensar que esse é o desafio de qualquer empresa, porém, se para o mercado como um todo é preciso que essa corrida competitiva ocorra para conquista de mais marketshare, temos a Apple como sendo dependente disso para manter o que conhece atualmente como patamar de valor.

A justificativa apresentada por Tim Cook, em uma carta surpreendentemente negativa aos investidores, baseia-se em dois aspectos: as receitas do mais recente iPhone estão diminuindo e a China, em desaceleração de sua economia, estaria contribuindo fortemente para tal perda de valor.

Seria o fim da Apple? O começo do apocalipse? Não. A empresa segue sendo impressionantemente valiosa, próxima de US$700 bilhões atualmente. Porém, soa um sinal de alerta: até quando a empresa dependerá exclusivamente de inovações disruptivas para manter seu crescimento? É sustentável, pensando em longo prazo, que uma empresa cresça desta maneira?

Essa empresa revolucionou o mercado da música com o iPod. O mercado dos smartphones com o iPhone. Chacoalhou o mercado com as possibilidades quase infinitas do iPad. Surpreendeu boa parte com o inovador Apple Watch. Tais inovações, com as comparações devidamente proporcionalizadas, levaram a empresa a patamares nunca antes vistos em termos de valor de mercado.

Um dos maiores especialistas em valuation corporativo do mundo, Aswath Damodaran, disse às vésperas do pico de valor alcançado que a Apple era “a maior máquina de dinheiro da história”  Ainda que neste exato momento uma nova e surpreendente tecnologia esteja sendo desenvolvida e o valor quebre novos recordes em breve, é sadio questionar: este crescimento totalmente dependente de inovação disruptiva é sustentável a longo prazo?

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em janeiro de 2019:

– Blog da Guide Investimentos (09/01/2019): https://blog.guide.com.br/textos/apple-perde-um-facebook-em-valor-depender-de-inovacao-custa-caro/

POSSE DE BOLSONARO: UM POUCO MAIS PRESIDENTE DO QUE CANDIDATO

Neste dia primeiro de janeiro de 2019 tivemos a posse de Jair Messias Bolsonaro como presidente do Brasil. Um cerimonial com esquema de segurança nunca antes visto – justificado pelo atentado ocorrido ao então candidato – e um público considerável presente – segundo o Gabinete de Segurança Institucional, 115 mil pessoas.

Os discursos para o Congresso Nacional e ao povo após a passagem da faixa são sinalizações do que deve ocorrer nos anos de mandato. Seguindo o que anunciou em campanha, as pautas principais serão a da ética, do combate à corrupção, de uma guinada em pautas morais que, segundo Bolsonaro, estariam uivadas de ideologia de esquerda, e, por último, mas não menos importante, de uma mudança econômica no tocante a maior competitividade e redução do peso do Estado.

Diferentemente do modo como vinha se portando até as últimas semanas, quando já era eleito, Bolsonaro demonstrou um pouco mais de direcionamento ao que irá fazer como presidente e menos como o impressionante chamador de votos para si mesmo que demonstrou ser no pleito de 2018.

Demonstração disso é o fato – bastante positivo, é preciso ressaltar – de que os discursos abandonaram a toada do “nós contra eles” e abraçaram o tom do “vamos todos juntos rumo a um novo país”. Sim, com os direcionamentos que majoritariamente o presidente e seus eleitores concordam, mas saindo da retórica de nomear grupos que deveriam ser “varridos do país” ou algo do tipo.

Especificamente quanto ao campo econômico, reforçou como pontos principais a confiança, a abertura de mercados, o compromisso do governo em não gastar mais do que arrecada e a redução de regulamentação e burocracia sobre o setor produtivo. Elencou ainda o setor do agronegócio como sendo aquele que continuará desempenhando papel decisivo neste momento de retomada do crescimento.

O aceno ao setor produtivo é importante e tal mudança tem forte potencial positivo ao permitir, talvez finalmente, um choque de capitalismo ao Brasil. Em terras tupiniquins somos absolutamente acostumados a protecionismo, ao Estado sendo uma presença notável em toda e qualquer etapa de nossas vidas. Ao menos em discurso, caso não haja um novo estelionato eleitoral, veremos uma mudança sensível em relação a este fato sempre presente.

Provavelmente o leitor deve lembrar agora de algo importante: em quase 30 anos como congressista, Bolsonaro votou quase sempre em pautas estatizantes; seria possível uma mudança tão grande agora?

Pois é, o benefício da dúvida foi democraticamente concedido ao trigésimo oitavo presidente brasileiro acreditando nesta hipótese de mudança. Se atribuem “esqueçam o que eu escrevi” a Fernando Henrique Cardoso, denominado príncipe da sociologia que após seu governo passou a ser considerado um “monstro do neoliberalismo” dadas as mudanças promovidas, talvez este cometa raro de mudanças passe por aqui novamente. Nos resta torcer por um bom governo e para encontrar um Brasil realmente mudado daqui a quatro anos.

Feliz 2019 a todos!

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em janeiro de 2019:

– Blog da Guide Investimentos (02/01/2019): https://blog.guide.com.br/textos/posse-de-bolsonaro-um-pouco-mais-presidente-do-que-candidato/