BolsoHaddad 2019: VEM METEORO! Terraço em Quinze Minutos #46

Nesta edição, Lucas Goldstein, Rachel de Sá, Renata Kotscho Velloso e Caio Augusto abordam os temas:

Ibope: Haddad sobe 11% em uma semana e aponta para segundo turno com Bolsonaro
EUA X China: a guerra comercial continua
Decisão do Copom sai na noite desta quarta-feira
Reconciliação… só entre as duas Coreias

SOBREVIVEU (ATÉ AGORA) A POLÍTICA DE PREÇOS DA PETROBRAS

O mês de maio de 2018 é inesquecível aos brasileiros. Uma greve que parou o país e nos ensinou sobre nossa imensa dependência do modal rodoviário, teve como base a questão do preço dos combustíveis, especificamente do diesel. O problema seria a política implementada de Pedro Parente, cujos reajustes permitidos eram diários. Mas que política de preços é essa?

A política de preços que a Petrobras aplica para os combustíveis é a seguinte: de acordo com a cotação internacional do petróleo e de outros fatores que sobre ela influem (a taxa de câmbio, por exemplo) passa a ser definido o preço nacional. Com isso, caso o preço do petróleo suba e/ou nossa moeda se desvalorize, o preço do combustível sobe. Desde a mudança dessa política, em julho de 2017, diesel e gasolina já tiveram seu valor aumentado em cerca de 50%.

Duas perguntas surgem quando este assunto vem à tona: se o Brasil tem petróleo, qual seria a razão de preferir importar e não refinar aqui? E, afinal, se essa política de preços permite que tantos aumentos aconteçam, por que ela continua em vigor?

A resposta da primeira pergunta é técnica, mas pode ser resumida no fato de que, apesar do Brasil ser autossuficiente em petróleo, é no tipo grosso, que é mais difícil de ser refinado, e, na prática, faz compensar que seja exportado o óleo grosso para que depois seja importado o óleo refinado. Diminuir essa dependência é uma estratégia possível, mas que poderia vir a aumentar os custos da empresa – e, por isso, vem sendo paulatinamente abandonada.

Quanto a segunda resposta, trata-se de uma questão mercadológica: como a Petrobras detém o monopólio do refino de combustíveis, mas não o de importação dos mesmos, para haver paridade o suficiente que incentive a chegada de novas empresas, é preciso que a competição de preços ocorra via importação.

Longe de ser uma unanimidade, principalmente em relação ao fator “quem vai arcar com essa subida de preços”, tal política ficou em cheque após a saída de Pedro Parente – que ocorreu logo após o final da greve dos caminhoneiros, entre o final de maio e o início de junho. Tal política resiste até hoje, apesar de agora contar com mudanças, por exemplo, na periodicidade dos reajustes.

Sobre ela, dois questionamentos seguem em aberto, infelizmente com menos destaque do que a suposta “maldade neoliberal” que vende tantas manchetes: se não houver mais monopólio do refino por parte da Petrobras, será que mais empresas não entraram nesse mercado e, via concorrência, veríamos uma queda de preços? E, quanto a “quem vai pagar essa conta”, não seria melhor deixar sobre quem consome o combustível (e sobre a cadeia do modal rodoviário) do que difundindo mais um custo por toda a sociedade e fingindo que ele não existe?

Enquanto existir a discussão e a política seguir em frente, ao menos temos um positivo realismo de preços (que parece obviedade, mas por aqui talvez seja estranho): uma empresa de comércio e industrialização de derivados de petróleo pode se beneficiar, vejam só, de um aumento nos preços dos produtos que comercializa (não só com a retomada de geração de lucros como também com a redução da dívida, ambos fatores positivos ao país, já que o Estado brasileiro é o maior acionista da empresa).

Vamos ver até quando dura essa tão combatida – e tão positiva – política…

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em setembro de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (17/09/2018): https://blog.guide.com.br/textos/sobreviveu-ate-agora-a-politica-de-precos-da-petrobras/

APPLE E AMAZON: QUEM FICA ACIMA DO TRILHÃO?

Recentemente, a Apple e a Amazon conseguiram superar a histórica marca de um trilhãode dólares em valor de mercado. Já indicamos que essas duas empresas estavam na chamada “corrida do trilhão” e que provavelmente seria a Amazon a primeira a superar. Erramos: foi a Apple.

O superar de uma marca de valor tão alta passa uma mensagem de que as empresas foram, ao longo do tempo, um bom investimento para quem deteve seus papéis. Mas, na prática, o que isso quer dizer sobre a continuidade dessa valorização – ou o que isso tem a ver com a empresa seguir acima do trilhão?

A Apple é uma empresa acostumada a quebrar paradigmas quando o assunto é tecnologia. Inovou no meio de vender mídia pelo iTunes, no meio de ouvir mídias externamente com o iPod, mudou a estrutura do setor de comunicação com o iPhone (tornando a estrutura inclusive uma espécie de padrão para todos os fabricantes), adicionou uma nova forma de trabalhar com o iPad e fez uma incursão intensa no mercado de tecnologias wearable com o Apple Watch. Em suma, isso resume praticamente 20 anos de expansão de mercado e crescimento da empresa. Porém, fica o questionamento: é essa reinvenção continuada que sustenta o crescimento – e depender exclusivamente disso é perigoso, pensando no longo prazo, mesmo que a empresa tenha “criado demandas” com tais invenções?

Amazon é um empresa multi-setor. Começou como um marketplace e hoje se expande de maneira vertiginosa. Não é à toa que, no artigo que mencionamos no primeiro parágrafo, há uma comparação com a Buy’n’Large, empresa que fornece todos os produtos e serviços na animação Wall-E. Seu crescimento tem se baseado em uma abertura para estes novos mercados e também em inovações logísticas que têm promovido ao redor do mundo. Aqui há uma diferença fundamental em relação a Apple: também há dependência de inovações tecnológicas, mas a expansão para novos mercados tem maior potencial de fidelizar clientes amplamente do que se fosse única e exclusivamente depender do que de novo seria apresentado a cada ano. Mais diretamente: é mais fácil imaginar que comprar quase tudo de um mesmo lugar e é maior fidelização do que comprar apenas alguns itens tecnológicos individualmente.

No fim das contas, o que definirá a capacidade dessas empresas – e de outras que ainda não alcançaram essa cifra, mas têm altas chances, como a Alphabet – de continuarem sua escalada em valor estará no meio em que elas oferecerão aos seus consumidores, como demandas que justifiquem sua continuidade consumindo seus produtos e serviços. Isso depende não só de tecnologia como também de inovação e de presença na vida das pessoas.

Depender basicamente de novas invenções acaba, na prática, sendo algo que coloca em xeque a capacidade da Apple de crescer ad infinitum. Ampliar a presença em muitos setores (colocando seu jeito de fazer as coisas) sinaliza ser uma força da Amazon. Talvez ambas sigam acima de um trilhão de dólares durante muito tempo – mas é possível que, no longo prazo, a Amazon apresente um crescimento mais sustentável e robusto.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em setembro de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (14/09/2018): https://blog.guide.com.br/textos/apple-e-amazon-quem-fica-acima-do-trilhao/

Patrimônio dos candidatos: pouco significa, mas significa algo

O tema central das últimas semanas são as eleições presidenciais. Comparativos com o pleito de 1989, extremismos ganhando espaço e insegurança com o futuro do país não faltam. Dentre todas as discussões, uma que de vez em quando é levantada como suposto mérito ou demérito: o patrimônio dos candidatos.

Não surpreendentemente, neste tópico também temos dualidade: enquanto alguns afirmam que os maiores patrimônios são frutos de roubo (porque seria impossível ficar milionário de outro jeito), outros apontam que os menores seriam fruto de extrema incapacidade, principalmente considerando aqueles que tiveram certa condição de fazer este acúmulo.


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O maior patrimônio declarado dentre os candidatos a presidente é o de João Amoêdo, do Novo, enquanto o menor é o de Guilherme Boulos, do PSOL. Isso significa necessariamente que um é extremamente hábil e outro absolutamente inapto? Na verdade, não.

É preciso ter em mente o fato de que ter sido hábil em uma área, não indica que será óbvio ver um bom desempenho em todas – já escrevi sobre isso aqui no Terraço, levando em conta a ótica política de criação de heróis que o brasileiro médio tanto admira.

A capacidade de atuação na esfera pública, no fim das contas, é o que vai mais importar em relação ao potencial de um candidato em ser ou não um bom político na prática. E, é claro, a avaliação disso envolve uma complexidade de fatores muito maior do que simplesmente observar o patrimônio acumulado.

A comparação direta do patrimônio acumulado, com a capacidade de atuação política, é tão frágil quanto a analogia entre o orçamento doméstico e as contas públicas. Mas diante da mais notável fragilidade, pode ser encontrada uma mínima relação (que estimo ser o motivo pelo qual essa questão dos patrimônios dos candidatos render tantas manchetes). Neste caso, a relação é a de que aqueles que tiveram um patrimônio acumulado mostraram-se mais capazes de lidar com algum patrimônio (o deles).


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Usar como argumento que seu candidato é o mais rico e portanto é o mais capaz – ou que é o que tem menor patrimônio e por isso seria o mais honesto – não parece ter qualquer relação com a capacidade dele de articulação política ou de ser, de fato, um bom governante. Mas não deixa de significar, pelo menos, que ele tenha alguma noção maior sobre o que é um orçamento – reforço aqui, nem que seja o dele.

Por isso, da próxima vez que se deparar com uma reportagem a respeito do patrimônio de um candidato – nestas eleições ou nas próximas -, pense no que realmente existe de relação entre isso e a vantagem ou desvantagem em se depositar seu voto nele. Com altas chances, se este for seu único pré-requisito (não dá para duvidar que em um país de 147,3 milhões de eleitores pelo menos uma ínfima parte pense assim), provavelmente você estará fazendo uma escolha vazia.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em setembro de 2018:

– Terraço Econômico (13/09/2018): http://terracoeconomico.com.br/patrimonio-dos-candidatos-pouco-significa-mas-significa-algo

– Investing.com Brasil (13/09/2018): https://br.investing.com/analysis/patrimonio-dos-candidatos-pouco-significa-mas-significa-algo-200222803?preview_fp_admin_1234=this_is_1234

Saem Lula e Garotinho, entra Eduardo… Campos!? Terraço em Quinze Minutos #44

Nesta edição, Lucas Goldstein, Arthur Solow, Renata Kotscho Velloso e Caio Augusto abordam os temas:

Brasil consternado: Museu Nacional arde em chamas no Rio
Ele voltou: Horário eleitoral e seus personagens
EUA: Indicado de Trump para a Suprema Corte pode ser aprovado
Trump: novo livro polêmico será lançado no dia 11/9
Argentina: peso entra em queda livre e Macri anuncia novos cortes

Museu Nacional: mais uma vítima da falta de prioridades

O mais antigo e vasto museu brasileiro, o bicentenário Museu Nacional, foi consumido por um incêndio em praticamente sua integralidade na noite deste domingo, dois de setembro de 2018. Muitos são os culpados: descaso, má alocação orçamentária dos responsáveis por sua conservação, atrasos em manutenções anunciadas. Acidentes acontecem, mas algumas fatalidades infelizmente têm uma previsibilidade triste no Brasil. Essa foi mais uma delas.

Para além do apontar de culpados, algo muito importante precisa entrar em discussão. Por que em nosso país as questões importantes acabam tornando-se urgentes para que possa enfim se pensar em alguma saída? Quantos espaços de tal importância precisaremos ver serem destruídos enquanto outros, com prioridade que pode ser questionada, continuam recebendo recursos vultosos? O Maracanã, nas vizinhanças do museu destruído, teve seu orçamento inflado em 211 milhões de reais, segundo o TCU. O orçamento anual do Museu Nacional era de menos de 0,25% desse superfaturamento.

Neste ano, completando 200 anos de existência, organizadores do museu colocaram no ar uma vaquinha virtual que visava angariar recursos para a reforma de uma sala que havia sido consumida por um ataque de cupins. O item da sala: o Maxakalisaurus, primeiro dinossauro de grande porte montado montado no Brasil. A vaquinha teve seu objetivo de R$30.000,00 alcançado em quase duas vezes.

Outra reflexão importante neste momento: até quando o temor de que outras formas de financiamento possam ocorrer irá impedir com que muitos pontos importantes de cultura e história em nosso país possam ser melhor conservados? Por que há tanto impedimento legal, tanta complicação, tanto embaraço, mesmo quando existe o interesse privado em angariar ou mesmo diretamente doar recursos com essa finalidade? Atualmente, uma das limitações é, curiosamente, constitucional: a Emenda Constitucional 241/95 impede que o orçamento se amplie além da variação da inflação do período.

É claro que a questão é mais complexa do que isso. Não necessariamente esse repasse de recursos de origem privada iria diretamente para tais projetos. Peguemos a UERJ, responsável pelo Museu Nacional desde 1954, como exemplo: a universidade vive uma crise orçamentária sem precedentes e poderia usar esse recurso adicional de diversas maneiras diferentes. A própria USP, como já escrevi em 2016, utilizou seu orçamento crescente entre 2010-2014 ampliando a folha de pagamentos, enquanto outros projetos (como o Museu do Café, que fica dentro do campus de Ribeirão Preto) seguiram no esquecimento.

A abertura para incursão de capital privado em entidades públicas ou de interesse público poderia ter um outro efeito positivo: o do aumento do interesse por essas estruturas. Através de tais possibilidades, o orçamento destes entes poderia ser reforçado não apenas financeiramente como também em nível de atenção, já que aqueles que direcionarem recursos, ao menos teoricamente, terão uma preocupação maior com os efeitos disso do que aqueles que pagam sem perceber, por meio de impostos. Novamente, no caso da USP, cujo orçamento é composto por parte do ICMS paulista: há uma diferença entre a atenção dada ao recurso que entra tendo sido pago na compra de um produto por um dos 40 milhões de habitantes do estado e o recurso que, por exemplo por um programa deendowment (a Escola Politécnica da USP tem um), entra diretamente através de uma contribuição de alguém que já fez parte daquela comunidade acadêmica.

Há um projeto, de autoria da Senadora Ana Amélia (PP-RS), que trata do assunto. Através de tal medida, seriam muitas as possibilidades adicionais para diversos entes públicos, sem que inclusive ocorresse o temido “corte orçamentário justificado por essa entrada de capital privado”. Essa complementaridade entre o orçamento público e privado, com execução pública – ou seja, não orientada para geração de lucro, mas sim com foco no bem-estar gerado -, poderia ser uma verdadeira revolução que, no fim das contas, impediria tragédias como as da noite deste primeiro domingo de setembro de 2018.

Novamente, para além do apontamento de culpados e responsáveis, será preciso analisar o tamanho do dano causado ao Museu Nacional após esse incêndio. Seu acervo de mais de 20 milhões de itens catalogados certamente foi bastante prejudicado, perdendo-se assim um montante imenso de registros da história brasileira que, em comparação com o que se tem em outros países, já é deveras escasso. Mas, além do tratamento de contingências, é importante pensarmos em como diminuir tais ocorrências no futuro.

Abrir a mente para novas possibilidades, para além do medo típico do capital privado, pode ser uma boa ideia.

Publicações deste artigo, que foi escrito em setembro de 2018:

– Terraço Econômico (03/09/2018): http://terracoeconomico.com.br/museu-nacional-mais-uma-vitima-da-falta-de-prioridades