COMO SERÁ 2020 no Terraço em Quinze Minutos #143

Nesta edição, Caio Augusto acompanha Pedro Lula Mota, Rachel de Sá (e outros, #descubra) com os seguintes temas: Eleições novas no UK (a novela Brexit continua), decisão do COPOM sobre os juros e pra onde devemos ir ano que vem e algumas previsões terraceiras para o próximo ano (que, cá pra nós, já começou!). Leia também os artigos do Terraço Econômico em: terracoeconomico.com.br

 

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DAVOS 2020: SUSTENTABILIDADE, OTIMISMO CAUTELOSO E A BALEIA BRASILEIRA

Fórum Econômico Mundial em Davos ocorreu na última semana, entre os dia 21 e 24 de janeiro. É possível dividir a análise sobre o evento em três pontos: primeiramente, qual foi seu foco; em segundo lugar, como o Brasil se posicionou; em terceiro, como foi a observação geral dos participantes do mundo empresarial (os CEOs presentes).

O tema central do encontro suíço neste ano teve o nome Stakeholders for a Cohesive and Sustainable World, ou seja, colocar todo mundo (de agentes a impactados por ações econômicas) em uma mesa para discutir como o mundo pode ser mais sustentável em diversos aspectos – divididos em sete temas: futuro da saúde, como salvar o planeta, sociedade e o futuro do trabalho, economias mais justas, melhores práticas de negócios, além da geopolítica e o uso das tecnologias da melhor maneira possível.

As visões que podem ser encontradas sobre o evento relacionam-se todas com a sustentabilidade de uma maneira geral: reconhece-se que o meio ambiente tem importância primordial e que esforços precisam ser empreendidos para que as mudanças climáticas caminhem mais lentamente (pressão mais notável do evento foi essa), que o capitalismo está em franca mudança (dentre outras razões porque as rotinas de trabalho são diferentes e a tecnologia é cada vez mais inclusiva) e que uma integração melhor entre as economias é mais benéfica do que um isolacionismo cujas tendências têm sido observadas (como por exemplo na guerra comercial China-EUA ou mesmo no Brexit).

Quanto ao posicionamento do Brasil, tivemos um foco exclusivo na economia. Como apresentado pelo Ministro da Economia Paulo Guedes, o mundo parece olhar mesmo com novos olhos nosso país. Nossa equipe econômica teve encontros diretos com mais de 50 chefes de grandes negócios interessados em investir por aqui e recebeu elogios de diversos órgãos internacionais, o que sinaliza fortemente que a confiança sobre nosso país está mesmo retomando.

A questão da Amazônia não passou batida. Mesmo não sendo a especialidade de Guedes, ficou a cargo dele defender que o governo está em cima de ações maiores de prevenção aos incêndios e ao desmatamento na área. Pode não ter por si só melhorado a situação, mas não piorou a visão internacional sobre a questão, dado que apesar deste tópico ter aparecido em diversas apresentações, a visão foi mais de que o Brasil se responsabiliza e toma atitudes do que “o país está deixando de lado a questão”.

Por fim, a visão de quem faz negócios, das empresas, especificamente de seus CEOs, presentes no Fórum. De um lado, a coleta de informações com eles sinaliza que uma desaceleração global de aproxima: segundo a PwC, 53% dos entrevistados preveem uma redução no crescimento já em 2020 – o que representa uma alta considerável, dado que no ano passado essa previsão era de 29% e, em 2018, de apenas 5%. O ciclo econômico é, sem dúvidas, fator de uma tirada de pé do acelerador para muitos presidentes de empresas globais.

Do lado cheio deste copo temos o apaziguamento de conflitos comerciais, majoritariamente o que existe entre os Estados Unidos e a China. Há um esperado efeito de confiança nos mercados globais advindo dessa calmaria esperada após a Phase One – mesmo que ainda seja possível questionar qual a validade prática desse acordo e, no fim das contas, que a finalização do mesmo (a Phase Two que, segundo Trump, deve parar nela e não ter fases seguintes) fique em ritmo de espera até as proximidades das eleições nos EUA (fator que, articulador que é, Trump certamente utilizará como carta na manga para seguir à frente da Casa Branca).

O leitor deve estar pensando “e o que o item baleia brasileira está fazendo no título?”. Bem, esse termo esteve no discurso de Paulo Guedes no evento, que sinalizou como o governo brasileiro está fazendo para que nossa economia retome. Comparando nossa economia a uma baleia bastante machucada com arpões – que seriam os obstáculos que o Estado tem colocado nas últimas décadas, seja por corrupção, burocracias, ineficiências ou mesmo irresponsabilidades em diversas áreas – e que, a cada novo passo dado (como a reforma da previdencia ano passado) um arpão é retirado e a movimentação aumenta.

Infelizmente não tivemos escapatória de outra previsão não muito condizente com os fatos: nessa apresentação, Guedes disse que a retirada de arpões teria previsão de fazer o país crescer 1% no primeiro ano, 2% no segundo, 3% no terceiro e 4% no quarto ano – “e já está acontecendo”, apontou quando o crescimento de 2019 deve ficar em torno de 1,3% e o desse ano deve ficar ao redor de 2,5%. Pode ter servido para empolgar os presentes, mas não necessariamente tem bases reais na possibilidade de crescimento do país – a não ser que alguma solução de fato muito rápida aos entraves do crescimento sustentável brasileiro esteja por vir.

Em suma, Davos 2020 foi assim: para um mundo em que a sustentabilidade ampla é o foco, o Brasil se apresentou como uma oportunidade de investimentos (da qual muitos presentes concordaram e sinalizaram investir) e quem faz os negócios segue torcendo pelo melhor mas aguardando o pior cenário.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 27/01/2020

O CHAMADO DA TRIBO: LIVE GUIDE – TERRAÇO ECONÔMICO

Nesta quinta-feira, 23/01, estivemos na Guide Investimentos para uma live pelo Instagram que discutiu o Relatório Anual 2020, de nome O Chamado da Tribo. O nome do relatório relaciona-se ao autor Mario Vargas Llosa, autor de uma obra com este mesmo nome e que, ao longo de sua vida, passou por uma grande mudança de pensamento: de um militante político de esquerda para ser um liberal.

A analogia do nome do relatório ao Brasil se dá pelo fato de que nosso país também vive esse rito de passagem. Após o impeachment de Dilma Rousseff e a entrada de Michel Temer, em 2016, nosso país começou a dar sinais de que caminharia do estatizante meio de vida para outro de ares mais liberais. Reformas são tocadas adiante desde então.

Um ano de bastante representatividade para essa mudança de paradigma foi, justamente, 2019. O primeiro ano de Jair Bolsonaro foi marcado, para além de suas idas e vindas no campo político, pela Reforma da Previdência. Essa marca histórica permite um alívio fiscal de aproximadamente R$800 bilhões para os próximos dez anos – isso sem contar outras medidas como combate à fraude no setor que deverão fazer o valor final chegar a R$1 trilhão – e, para além disso, sinaliza fortemente que regras que distorciam o orçamento e faziam com que os mais pobres transferissem renda aos mais ricos não serão mais toleradas (mesmo considerando que algumas categorias mantiveram em pé seus privilégios).

Os benefícios da responsabilidade fiscal aliada a uma abertura do país a novas (e privadas) oportunidades se mostra no ganho de confiança que tem sido observado, além das previsões mais positivas dos últimos anos quando o assunto é o crescimento do PIB. Nosso CDS, que é em termos diretos o diferencial de juros que pagamos para pegar empréstimos no exterior (o famoso “risco país”) está em nível bastante baixo e, o dólar que assume patamares de novo-normal acima de R$4 demonstra que o capital especulativo deixa o país a medida que aquele outro mais interessado em investir produtivamente está aos poucos chegando.

Nosso país passa por um momento avesso ao mundo desenvolvido: por aqui, nosso ciclo econômico indica que cresceremos mais; lá fora, há fortes indicativos de que uma desaceleração se aproxima. Essa combinação é mais um forte motivo para que foquemos na continuidade das reformas estruturais (como a administrativa e a tributária) e também na abertura do país. Afinal de contas, é para onde há mais potencial que o capital acaba por fluir – e, estando na ponta de crescimento do ciclo econômico, se demonstrarmos que vale a pena investir por aqui, certamente viraremos uma grande oportunidade nessa próxima década.

Um ponto que não se pode perder de vista é que apesar de termos conseguido um avanço fundamental em 2019 (a reforma previdenciária), os desafios seguem imensos aqui e lá fora. EUA e China assinaram acordo comercial, mas ainda não se tem finalização do mesmo; Brexit já tem data para ocorrer, mas ainda não se sabem os reais efeitos dessa mudança; acordo Mercosul-UE foi firmado, mas a mudança de diretrizes na Argentina após a eleição recente (a volta ao kirchnerismo) pode vir a ser um obstáculo para a tramitação do acordo; a Europa segue em desaceleração de sua economia; o cenário político nacional segue desafiador em seu segundo ano após a saída do presidencialismo de coalizão para outro meio em que mesmo os analistas políticos mais experientes têm dúvidas sobre o que seria a real base do governo nas casas legislativas.

Em resumo, temos que a caminhada rumo a um país de crescimento mais sustentável começou. Ela é longa, difícil, cheia de espinhos e corporativismos no meio do caminho. Mas, tal qual disse o chinês Lao Tse, um caminho de mil quilômetros começa com o primeiro passo. Que em 2020 possamos seguir nessa caminhada para que, um dia, deixemos de ser o “país do futuro” para ser aquele local em que o futuro de fato tenha chego.

O vídeo da transmissão está disponível até às 18:30h de hoje (24/01) no instagram da Guide.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 24/01/2020

2020 JÁ COMEÇOU ACELERADO no Terraço em Quinze Minutos #149

Nesta edição, Caio Augusto acompanha Rachel de Sá e Renata Velloso com os seguintes temas: acordo comercial EUA-China (Phase One assinado, e agora?), Coronavirus (uma ótica médica e econômica sobre a doença) e Brasil com crescimento de PIB privado e queda de PIB público (e o que isso significa). Leia os artigos do Terraço Econômico em: terracoeconomico.com.br

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NOTA – PSOL E TALÍRIA PETRONE EXALTAM LENIN

O Terraço Econômico vem repudiar as exaltações feitas pela deputada Taliria Petrone (PSOL-RJ) e seu partido no dia de ontem à ação de Lênin, um dos principais personagens da Revolução Russa de 1917.

A herança eterna que a deputada enaltece não é, como faz parecer, positiva. Tal qual o Chavismo na Venezuela, levou a redução considerável de liberdades e direitos humanos.

Tal qual nossa outra pontuação na semana anterior a respeito do agora ex-secretário da cultura, não é possível fazer menção como se positivo fosse de momentos da história que representaram grandes retrocessos humanos.

A tentativa de reescrever a história, como se pode ver à luz clara dos dias atuais, ocorre à esquerda e à direita. E, no fim das contas, se essa é a oposição que aí está, realmente estamos em situação política lastimável.

A liberdade e os direitos humanos devem sempre ser preservados diante de alternativas autoritárias como essas.

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SECRETÁRIO DE PREVIDÊNCIA no Terraço em Quinze Minutos #148

Encerrando nossa temporada de férias (de surpresa, excepcionalmente em uma terça-feira), Caio Augusto recebeu Bruno Bianco, Secretario Especial Adjunto de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, para discutirem os seguintes temas: o que representou a aprovação da reforma previdenciária para o país (em termos de contas públicas e justiça social), como seria um sistema adequado de previdência que envolva capitalização e como nossa reforma foi vista perante o mundo. Leia também os artigos do Terraço Econômico em: terracoeconomico.com.br

 

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NÃO PODEMOS PERDER A CAPACIDADE DE RECONHECER ABSURDOS

Provavelmente o maior assunto da semana anterior foi o vídeo do agora ex-Secretário da Cultura, Roberto Alvim, em que o anúncio de um programa de premiação artística no Brasil tinha um conjunto de aspectos que fazia ser o próprio anúncio o último ponto importante. Música sombria, olhar dos filmes do Stanley Kubric, citação muito próxima de outra emitida por quem disseminou a propaganda nazista (e até posições de todos os itens muito parecida com a de uma foto deste mesmo personagem sombrio) …. Não faltaram motivos para questionar a permanência de Alvim no cargo.

O vídeo foi amplamente criticado – nacional e internacionalmente -, as repercussões foram diversas e em menos de doze horas após a publicação já tínhamos a demissão do Secretário. Segundo alguns, porque Bolsonaro se sensibilizou com o absurdo. Segundo outros, porque é bem assessorado juridicamente – já que seria possivelmente encaixada uma omissão neste caso como crime de responsabilidade.

Qualquer que seja o motivo, ainda assim tivemos uma sequência de questionamentos sobre como aquela ação talvez tenha sido exagerada demais, que se tratava apenas de um conjunto de coincidências (como o próprio ex-Secretário afirmou, ao dizer inclusive que concorda com a frase apesar de sua origem). Para alguns, no fundo, nada demais aconteceu.

Alguns pontos poderiam ser levantados sobre essa questão, para além do fato de que essa série de “coincidências” tornaram a situação de fato absolutamente insustentável.

Em primeiro lugar, é sempre importante relembrar que, sim, deve haver liberdade absoluta de discurso. A fala, a opinião, por mais que possa irritar, causar descontentamento e discórdia, não pode ser cerceada – sob o risco de, amanhã, quem apoiar o cerceamento ter sua vez de ser cerceado. Porém, a partir do momento que sua fala representar algo maior do que meramente sua opinião, por exemplo sendo ela porta-voz de alguma instituição (neste caso, o direcionamento da cultura por parte do governo no Brasil), há de se pensar na responsabilidade daquilo. Provavelmente nosso Presidente não pensa assim, mas não deixa de fazer sentido.

Como segundo ponto, não podemos nos esquecer qual foi a promessa feita por Bolsonaro durante a campanha e reafirmada em seu discurso de posse: nosso país estaria finalmente livre de amarras ideológicas. Estar livre dessas amarras significa que o Estado vai deixar de intervir de acordo com o que imagina ou que o direcionamento central vai ser simplesmente oposto ao que se tinha anteriormente? Independente da resposta que o governo tenha, querer colocar algo tão livre quanto a arte como sendo “heroica e nacional, (…) imperativa, (…) ou não será nada” é, aos olhos de qualquer um que queira entender, um direcionamento bastante evidente.

Como terceira observação, nunca podemos perder a régua que distingue o “deixa isso pra lá” do que são os verdadeiros absurdos. Esqueça as comparações rasteiras sobre qual regime foi pior, o nazismo ou o comunismo; pare de pensar se quem defende um desses não tem moral para falar do outro; e, por favor, pare com a “contagem de mortos” que supostamente justificaria a existência de um como maldade e do outro como compensação. O que é absurdo, que é fora do razoável de uma maneira inquestionável, deve estar nas memórias de todos para que simplesmente não torne a acontecer, não porque deveria servir de base para justificar a próxima atrocidade humana que se seguir.

Uma mudança realmente robusta em nosso país passa não só pela guinada econômica que temos observado desde Temer e agora vemos com Bolsonaro. O Brasil não se restringe à sua economia avançar ou ficar estagnada, mesmo que esse aspecto seja de fato primordial a todos nós. Qual o sentido de vermos um lado avançar e outro provavelmente parar no tempo ou até retroceder? Se Gandhi libertou a Índia, isso lhe dá o direito de cometer um assassinato? Se Madre Teresa de Calcutá fez um trabalho nobre pelos mais pobres, isso lhe dá o direito de tacar fogo em um orfanato? Lula por ter sido um presidente de um período em que o Brasil sinalizava melhorar a cada dia (e de fato muita gente viu sua vida melhorar em seus governos) está autorizado a receber propina de grandes construtoras em forma de imóveis de lazer?

Para além de aspectos políticos, sociais e econômicos, absurdos permanecem absurdos. O que nos diferencia diante do papel que podemos exercer na sociedade é o fato de não termos olhos vendados a esses fatos condenáveis. Nem tudo é condenável só porque se discorda mas, mesmo com aquilo (ou aquele) que se concorda e gosta muito, não podemos esquecer que, uma vez mais, absurdos seguem sendo absurdos. Não precisa começar um movimento revolucionário entre as pessoas que você conhece, basta de alguma maneira lembrar do que é de fato absurdo.

Ao final deste artigo, uma reflexão para pensarmos sobre os absurdos que vemos e, como diz uma expressão dos dias de hoje, “passamos pano”, fingimos que não existem. Se perdermos nossa capacidade total de repararmos no que está errado, teremos perdido, no fim das contas, nosso senso real de humanidade. Importante notar que nós, do Terraço Econômico, também já nos manifestamos em relação a esse (no mínimo) bizarro caso.

 

“Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.

Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram

meu outro vizinho que era comunista.

Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram

e levaram meu vizinho católico.

Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e me levaram;

já não havia mais ninguém para reclamar…”

Martin Niemöller – 1933 – Símbolo da resistência aos nazistas

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 20/01/2020

LEITURA INDICADA: THE ARMCHAIR ECONOMIST

A economia geralmente está ligada a aspectos cotidianos das grandes movimentações sociais: o quanto o país cresceu, como os preços estão evoluindo, qual o efeito do dólar em alta sobre os preços do pão (cujo trigo é majoritariamente importado), dentre outros aspectos. Porém, para além desses pontos, a economia também se preocupa com os incentivos, os pontos que, quando bem direcionados, conseguem na grande maioria das vezes alcançar resultados esperados – muito mais do que meramente mudando leis e aguardando que elas “passem a pegar”.

Existem alguns livros que levantam essa temática que você já deve ter ouvido falar, como o best seller Freakonomics (de Stephen Dubner e Steven Levitt) ou mesmo o brasileiro Sob a Lupa do Economista (de Carlos Eduardo Gonçalves e Mauro Rodrigues). Este indicado agora, o The Armchair Economist (de Steven Landsburg), segue na mesma linha, mas com o diferencial interessante: ele se apresenta, para além dos exemplos levantados, como uma lente da economia, uma visão de como os economistas visualizam a sociedade de forma mais direta – focada, claro, nos incentivos.

A OBRA É DIVIDIDA EM SEIS PARTES.

A primeira, What Life Is All About, faz uma apresentação de alguns conceitos diretos que importam muito para a economia com exemplos da vida. Princípios como o da indiferença (levantando a questão da poluição do ar e quem realmente se importa com ela), questionamentos sobre como a lei que obriga o uso de cinto de segurança acabou gerando mais acidentes do que antes (através do olhar pelos incentivos que ela gera) e uma discussão sobre os porquês dos shows do Rolling Stones sempre venderem todos os ingressos (e como a resposta a isso não é tão óbvia assim) estão presentes ali.

Na segunda, Good and Evil, aborda-se a moralidade pelo ponto de vista dos economistas. Aqui discutem-se os problemas que a democracia gera para a tomada de decisões em políticas públicas, a importância da formação de preços para a melhor alocação de recursos na sociedade (a eficiência sobre a equidade, assunto sempre polêmico em relação aos economistas) e até como decisões baseadas na economia já se comportaram em tribunais mundo a fora.

Temos na terceira, How to Read The News, há o maior foco de todo o livro sobre essa ideia de que o leitor deveria vestir os óculos da economia e dos incentivos para verificar o funcionamento da realidade. Nesta parte a questão da guerra às drogas (e como você deveria escolher um lado nessa eterna batalha) é abordada, assim como também a respeito das estatísticas de desemprego e o que querem dizer sobre o que vem a seguir na economia e também uma proposta que, embora focada nos EUA, para nós brasileiros até parece esquisita: a de encaminhar ao fim o bipartidarismo tradicional na política (para que mais ideias possam vir a ser discutidas).

Durante a quarta parte, How Markets Work, o autor retoma o olhar sobre coisas da vida que quase nunca são observadas com a visão econômica (e praticamente nunca com o enfoque de que funcionem como mercados), tais quais o porquê de a pipoca custar mais caro no cinema (e como as respostas óbvias a isso não acertam os reais motivos), o porquê da vida ser cheia de decepções e, para não dizer que seriam apenas os “mercados da vida”, também fala sobre precificação de ações e como isso funciona.

Com a quinta parte, The Pitfalls of Science, o autor fala de como tudo deve ser questionado, desde a eficiência de Einstein como cientista até como economistas estão sujeitos a cometer erros o tempo todo.

Encerrando a obra com a sexta parte, The Pitfalls of Religion, há uma menção direta do autor sobre não ser ambientalista e não acreditar no que chama de “religião da ecologia”, fazendo um comparativo entre o meio utilizado por ambientalistas para apresentarem a necessidade de mudanças sociais evitando um colapso ambiental e como os economistas utilizam os dados e modelos para chegar a seus encaminhamentos sobre a realidade.

Trata-se de uma obra que provavelmente vai deixar um pouco assustado quem acredita que os economistas são insensíveis, mas, no fim das contas, é um ótimo meio de, durante várias das situações apresentadas, pelo menos pensar “isso me parece mais verdadeiro do que o que já havia visto anteriormente”. E, se você realmente gostar muito da obra, talvez você seja mais parecido com um economista do que parece, independente do que isso signifique para você.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 17/01/2020

ECONOMIA PARA JORNALISTAS no Terraço Em Quinze Minutos #147

No quarto episódio da nossa temporada de férias recebemos Ecio Costa, Professor Dr. da UFPE e comentarista de economia da CBN Recife e discutimos sobre os seguintes temas: as barreiras que os economistas encontram para transmitir suas mensagens (saindo do economês e chegando a um discurso mais amplamente compreensível), o papel da mídia em informar sobre economia (nosso entrevistado deu um curso sobre economia para jornalistas e nos conta essa experiência) e como falar de liberalismo (esse palavrão!) na região Nordeste do Brasil.

Leia também os artigos do Terraço Econômico em: terracoeconomico.com.br

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2020: otimismo vai vem, pé no chão também

Atire a primeira pedra quem, desde 2017, não ouviu, disse ou pensou que “agora o Brasil vai decolar novamente”. Seja porque houve uma mudança na guinada econômica com o impeachment de Dilma e a entrada de Temer, pela aprovação de reformas no caminho ou ainda pelo fato de que estamos realmente há muitos trimestres ainda abaixo do nível pré-crise, é difícil encontrar quem não tenha tido qualquer contato com essa afirmação.

No terceiro ano seguido em que a euforia deságua em decepção – o que se encerrou, 2019 -, iniciamos, segundo o Boletim Focus, na faixa de 2,5~3% para o PIB e, após contabilização do ano todo, devemos observar um resultado real que custa a ser metade disso. Ainda assim, a surpresa positiva advinda dos dados do terceiro trimestre já começam a reativar a euforia para 2020.

Dois termos são bastante importantes para se observar quando o assunto for “o quanto o Brasil deve crescer a seguir”. O primeiro é o chamado PIB potencial que, em termos diretos, é o quanto o país consegue crescer, no longo prazo, considerando sua capacidade instalada. O segundo é o hiato do produto que, no fim das contas, é a diferença entre o PIB que está sendo observado e o que poderia ser (o potencial).

Segundo estudos publicados no Blog do IBRE-FGV (cujos autores foram Claudio Considera, Elisa Carvalho de Andrade e Juliana Carvalho de Cunha Trece), praticamente todos os setores brasileiros (excetuando-se o de intermediações financeiras) encontram-se em hiato negativo. Isso é um bom sinal, porque demonstra que os setores devem encontrar crescimento e não o contrário disso. Porém, os mesmos estudos indicam que nosso PIB potencial está na faixa entre 1~1,5%, o que demonstra que a realidade anterior de crescimento fabuloso pode ter ficado para trás.

As previsões do início de dezembro de 2018 para o PIB deste ano que acaba de se iniciar estão nas proximidades de 2,2%. Na prática, essa previsão não é irreal, dado que realmente o crescimento tem começado a dar as caras por aqui.

O que não podemos perder de vista é o fato de que ainda há um caminho considerável de reformas espinhosas a serem trilhadas – citando apenas duas, a administrativa (a respeito do tamanho e funções do Estado) e a tributária (que está longe, mesmo entre os especialistas, de ter um consenso sobre qual a melhor forma de ser feita) – e a estabilidade do país no longo prazo depende de avanços institucionais sólidos no momento presente. Em outras palavras: não espere que a aprovação de reformas sirva como um toque de Midas para o crescimento, porque realmente não será assim.

Um ponto importante é o fato de que o país se encontra em uma transição interessante: estamos observando uma redução do tamanho do Estado como parte do PIB e um aumento da participação da iniciativa privada. Esse movimento necessário (devido ao esgotamento dos meios estatais de crescimento) demora, mas pode nos trazer, ao longo do tempo, um crescimento sustentável como nunca antes.

Sobre 2020: torcer para crescer e fazer nossa parte investindo para isso, sim; nos iludirmos com um crescimento mágico e irreal, de novo não.

 

Artigo publicado na Revista da Associação Comercial e Industrial de Franca (ACIF-Franca)