Selic em 4,5%, com viés de manutenção ou mesmo ainda uma nova queda (talvez de 25bps) antes de retomar o crescimento que, segundo o Boletim Focus mais recente, deve rumar nos próximos três anos a 6,5%. Em outras palavras: o paraíso brasileiro da renda fixa é cada vez mais uma realidade do passado.
“Fuja da renda fixa!!!”. Provavelmente você já leu ou ouviu essa frase diversas vezes nesse 2019. Mas o grande enigma nessa afirmação está no seguinte ponto: você conhece seu perfil de investidor para dizer qual o passo mais adequado a ser dado para fugir da renda fixa? E, além do mais, como diz a grande sabedoria de finanças, você “nunca deve deixar todos os ovos em uma cesta só”. Vale a pena tirar tudo da renda fixa e alocar em renda variável?
Pouco tempo atrás falamos aqui que você não deve abandonar de todo a poupança, basicamente porque ela serve ainda para despesas correntes – já que, no fim das contas, é um esforço não muito efetivo migrar esses recursos para outros que paguem IOF e IR dado o curto espaço de tempo que ficam na conta até serem destinados. Agora, vamos defender que você não abandone a renda fixa.
Todos os meses você recebe seus rendimentos (salário, alugueis, retirada de lucros etc) e, após pagar suas contas todas, se felizmente estiver no grupo dos brasileiros que consegue verificar que sobrou dinheiro, tem de fazer alguma coisa com ele. Neste caso, esse dinheiro que sobrou não necessariamente cairá bem para a poupança, já que os desembolsos do mês em teoria foram feitos e agora o dinheiro ficaria aguardando novas destinações.
Assim sendo, para onde direcionar esses recursos excedentes? É preciso olhar diretamente para onde estão as sobras de dinheiro dos meses anteriores.
Considerando que não sobre dinheiro em muitos períodos ou, quando sobre, seja numa quantia não muito elevada, o melhor a se fazer é procurar algum investimento em renda fixa que lhe dê mais tranquilidade financeira ao longo do tempo. Essa tranquilidade, no caso, é a de não ficar sempre preocupado com a pergunta “e se algo sair dos conformes neste mês?”.
Imagine que você tenha um total mensal de rendimentos de R$3000,00 e que suas contas mensais fiquem ao redor de R$2700,00 (já considerando aquela margem de segurança da qual falamos no artigo sobre não abandonar a poupança). Com esses R$300,00, supondo que você não tenha nenhuma reserva, é válido que você procure alguma alocação de renda fixa em que você possa manter seu dinheiro lá aguardando uma das duas situações a seguir.
A primeira delas é uma oportunidade positiva. Sabe aquela promoção de viagem que aparece inesperadamente e sugere ser uma grande oportunidade de viajar com sua família? Se você tiver algum recurso parado, pode ser essa a hora de utilizá-lo. A segunda, é uma ocorrência negativa. Você acordou, se arrumou, estava indo para o carro para mais um dia de trabalho quando descobre que ele não está ligando porque a bateria drenou. Caso você viva no limite de seu orçamento, pensar em uma bateria nova já lhe causará calafrios porque “vai faltar dinheiro no mês que vem”, mas se você tiver algum dinheiro parado em reserva, por mais que ninguém goste de desembolsar em situações ruins, basta pegar esses recursos, comprar a bateria nova e seguir com a vida.
No fim das contas, a renda fixa mantém, então, uma função primordial: a de conservar o valor do dinheiro excedente para o caso de oportunidades ou ocorrências inoportunas. Como a vida é cheia de idas e vindas – e eventos não programados, positivos e negativos -, convém você estar minimamente preparado para encarar uma praia ou mesmo uma ressaca do mar.
“Mas e se eu já tiver recursos em reserva e quiser algo com maior potencial de retorno? ”. Aí entramos em um campo mais sofisticado, o da renda variável. Fique atento ao próximo artigo desta coluna!