Apoie a Reforma no Terraço em Quinze Minutos #102

Lucas Goldstein, Caio Augusto e Paulo André entrevistam os economistas Paulo Tafner e Daniel Duque sobre a Reforma da Previdência, com as questões:

– Muito se diz sobre o sistema de capitalização e a previdência no Chile. Inclusive, com comparações entre a proposta do governo Bolsonaro e o modelo chileno. O que há de verídico nisso? Em uma proposta para o Brasil, o que de modelos externos que “deram errado” poderíamos aprimorar?

– No dia 26 de maio, manifestações por todo o país expressaram apoio à reforma da Previdência. Qual a importância da opinião pública para o sucesso ou fracasso da reforma?

– O que você acha da afirmação “o Brasil vai avançar muito após a reforma da previdência”? Em que sentido mais específico você acredita que será possível avançar?

– A previdência é uma questão discutida em todo o mundo, basicamente porque vivemos mais tempo do que antigamente e essa é uma realidade internacional. No mundo, os países estão mais orientados a aumentar a idade de acesso a aposentadoria ou a outras medidas como a capitalização?

SELIC EM BAIXA: HORA DE DIVERSIFICAR

A frase “o Brasil é o país da renda fixa” é tentadora e, de certo modo, observando a realidade mundial de taxas de juros (Selic) em queda — e juros reais baixos —, também verdadeira. Ainda assim, não é mais tão fácil quanto antigamente fazer com que o seu dinheiro trabalhe por você.

Uma simples conta mostra como a taxa de juros, que saiu do patamar de 14,25% para o atual 6,5% a.a. faz diferença: no primeiro caso, em aprox. 5,25 anos (ou 63,01 meses), dobrar seu capital era possível sem aportes adicionais; no nível atual, a mesma façanha só é possível em 11,10 anos (ou 133,20 meses). É uma diferença abissal e que conta muito, especialmente no longo prazo.

Para deixar ainda mais preocupado o investidor de renda fixa, a expectativa não somente é de que a Selic se mantenha neste patamar, mas que como venha a ser reduzida nos próximos trimestres. Segundo o Boletim Focus de 21/06/2019, nossa taxa básica de juros deve encerrar este ano em 5,75% a.a. e, num horizonte que alcança 2022, chegaria a 7,5%. Sim, esse é o mesmo país que teve surreais 45% a.a. em março de 1999 e 26,5% entre março e junho de 2003, além de ter passado a maior parte da atual década em dois dígitos.

Você que teme pelo tradicional 1% ao mês, talvez esse retorno não virá com a mesma facilidade de antes. A má notícia é:  se não houver mudança de comportamento na alocação dos seus investimentos, talvez tal retorno fique apenas como mera lembrança. Contudo, a boa notícia é:  em situações como essa, a liquidez antes concentrada em renda fixa começa a flutuar para outros tipos de investimentos que, no fim das contas, devem apresentar maior rentabilidade — mesmo que a risco superior.

Esse movimento de diversificação, em busca de retornos superiores, já mostra seus efeitos: segundo a Anbima, a indústria de fundos de investimentos alcançou R$5 trilhões (o equivalente a 74% do PIB do país). Os fundos de renda fixa, antes maioria absoluta, agora dividem espaço com fundos de diversas categorias, como os de ações, os multimercados, os cambiais, de previdência, de investimento imobiliário, entre outros. Sozinhos, os de renda fixa compõem 43% do total — e a proporção dos outros fundos tem crescido nos anos recentes, conforme podemos acompanhar no gráfico a seguir:

Diversificar, em investimentos, nada mais é do que buscar alternativas de ganho que, ao longo do tempo e mesmo diante de riscos superiores, façam o caminho compensar por causa dos retornos. Ou, como você já deve ter ouvido alguma vez, é a sábia lei de “não colocar todos os ovos em uma só cesta”.

O desafio é sair da zona de conforto que a renda fixa tradicionalmente oferece. Como já foi dito, apesar da “má” notícia: os juros costumeiramente elevados estão cada vez mais na memória e menos na realidade dos fatos. Mas, o lado bom é que existem alternativas diversas.

A dica direta sobre como fazer essa transição passa por verificar qual é o seu perfil de investidor e quais as alternativas possíveis em termos de investimentos. Outra dica é não fazer isso perguntando para o gerente do seu banco: na Guide, por exemplo, você consegue fazer essa mudança — melhor para o seu dinheiro — de maneira muito mais eficiente.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em junho de 2019:

– Blog da Guide Investimentos (25/06/2019): https://blog.guide.com.br/textos/selic-em-baixa-hora-de-diversificar/

A GRANDE APOSTA: INDICAÇÃO PARA A EMENDA DE FERIADO

Você que está lendo este artigo encaixar-se-á em uma das duas categorias a seguir: está aproveitando a emenda de feriado fora de seu trabalho (descansando ou fazendo alguma atividade extra) ou está no trabalho contando as horas para o encerramento do expediente. Qualquer que seja o caso, aqui vai uma dica de filme para aproveitar o dia.

Grande Aposta (título original The Big Short) conta a história baseada em fatos reais de agentes do mercado financeiro que viram o que aconteceria no pré-crise de 2008. Trata-se de um dos filmes mais claros e bem explicados (mesmo quem for mais leigo consegue compreender até os conceitos técnicos apresentados, dada a didática das explicações) sobre o que aconteceu na pior crise desde 1929.

Logo de início, temos um dono de um fundo de investimentos que parece estar desconectado da realidade. Vivendo “em seu próprio mundo”, ele começa a notar que alguns índices de atraso de pagamento em hipotecas começaram a se elevar. Em seguida, olha com detalhes as relações de diversos devedores que compõem títulos de investimento tidos como seguros (com notas AAA por agências de rating) e verifica que, de fato, muitos atrasos estavam ocorrendo.

De posse dessas informações, decide tomar uma atitude que assusta a todos: opta por apostar contra o mercado financeiro. Dada a estabilidade deste mercado – afinal, como dizem no filme, “ninguém deixa de pagar sua casa” -, muitos julgaram-no como lunático. Para se ter ideia, nem título possível para se fazer essa aposta existia até então. Como grandes instituições financeiras julgaram que isso era literalmente “dinheiro de graça”, toparam a aposta e, enquanto ela não se concretizava, bônus eram pagos para que o título existisse.

Por mais que se saiba o que aconteceu com este mercado em meados de 2008(literalmente quebrou), é interessante verificar pelo filme como a percepção de que esse enorme problema estava se aproximando era notável, seja por quem olhava apenas as planilhas com os pagamentos atrasados ou por quem visitava condomínios inteiros abandonados.

A lição mais notável a respeito deste filme é que devem ser observados os dados dos setores para verificar se “verdades eternas” realmente o são. Além disso, fica que há importância em não se deixar levar pelo mainstream indefinidamente. Não que seja necessário se desconfiar de tudo e de todos, mas é muito mais sólido observar os fundamentos dos setores do que as opiniões sobre eles.

Essas lições parecem válidas apenas para o mercado financeiro, mas são válidas para qualquer relação social pessoal ou profissional. Analisando a verdade dos dados, separamos o que é encaminhamento de situações do que é mero palpite.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em junho de 2019:

– Blog da Guide Investimentos (21/06/2019): https://blog.guide.com.br/textos/a-grande-aposta-indicacao-para-a-emenda-de-feriado/

NETSHOES NA MAGAZINE LUIZA: INTEGRAÇÃO COM BASTANTE POTENCIAL

Após uma emocionante disputa entre Magazine Luiza e Centauro, a Netshoes acabou ficando com aquela primeira. Não se tratou de uma questão puramente financeira, afinal, enquanto Centauro ofereceu US$4,10 por ação, Magazine Luiza ofereceu R$3,70. Se não foi uma questão financeira, o que teria contribuído para essa aquisição?

Magazine Luiza é uma empresa que se modernizou e, em virtude do acompanhamento que realiza do varejo e das novidades integrativas presentes nele – como a otimização de logística e a compra direto por meios móveis -, mostrou impressionante ganho de valor acionário nos anos recentes. Dado o conhecimento do nosso varejo nacional e a recente expansão para regiões que antes não tinha acesso, não é difícil dizer que é uma das mais fortes concorrentes à expansão da Amazon no Brasil.

Netshoes é uma empresa da qual dificilmente se ouvem reclamações – ou, quando se ouvem, são rapidamente resolvidas. A queridinha do setor esportivo já representa recorrência de compras com seus clientes, mas uma dificuldade em termos operacionais e financeiros a impede de expandir-se nacionalmente. Inclusive, sua estratégia de expansão era desejada, mas muito custosa sobre seus resultados operacionais, o que colocava à prova sua real capacidade. Ou melhor, a impedia até agora.

Centauro, outra proponente na disputa, tem um grande capital operacional e conhecimento no setor esportivo, isso seria de fato grande vantagem para a Netshoes. Porém, a sinergia que acaba entregando mais valor – e que justifica a venda ter sido acordada com a Magazine Luiza por preço inferior – é o fato de que, ao lado da rede que se expandiu e se modernizou com tanta velocidade, ela pode cumprir justamente os planos de expansão.

A integração entre as duas empresas acaba sendo muito positiva basicamente porque o que uma busca de melhoria encontra na outra – e o que eventualmente teria falta, passa a ser suprida pela outra. Na prática, Netshoes joga muito bem no campo virtual, mas precisava de muito recurso para se expandir caso ficasse apenas no digital. E Magazine Luiza já tem a proximidade do varejo físico, mas estar em mercados mais específicos (e sobre os quais pode ditar os rumos de expansão com maior segurança) do meio digital, acaba por fortalecer ainda mais os negócios dela como um todo.

Existem análises que acreditam ter-se chegado a um limite sobre a expansão de valor do Magazine Luiza, que a otimização possível teria chegado ao máximo. Aquisições como essa que acabou de ser realizada podem dizer exatamente o contrário e o caminho de subida ainda esteja muito distante do fim.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em junho de 2019:

– Blog da Guide Investimentos (19/06/2019): https://blog.guide.com.br/textos/netshoes-na-magazine-luiza-integracao-com-bastante-potencial/

POR QUE O BRASIL NÃO DÁ CERTO no Terraço em Quinze Minutos #99

Nesta edição, Lucas Goldstein acompanha Caio Augusto, Paulo André, Rachel de Sá e Renata Kotscho Velloso respondendo às perguntas dos seguidores do Instagram:

raphamgomes: “Como tornar o Real uma moeda mais forte e até que ponto isso é bom ou ruim?”
marques_economista: “Qual a opinião de vocês sobre taxação de lucros e dividendos?”
tiagofachiano23: “Qual o próximo passo após a reforma da previdência?”
felipepnunes: “Quando o Brasil começou a errar como nação? Nem calçada aqui a gente faz direito”

MORO EM APUROS no Terraço em Quinze Minutos #98

Nesta edição, Lucas Goldstein acompanha Caio Augusto e Renata Kotscho Velloso com os seguintes temas:

Moro/Deltan são pegos por hacker: Juiz pode ter orientado investigações
Trump compra briga com México e FED em uma mesma entrevista
Governadores apoiam reforma da previdência, desde que sem regime de capitalização. Isso é um problema?

Orçamento Base Zero: um ótimo Plano B

Enquanto tramita a reforma previdenciária – agora chamada de Nova Previdência -, vemos na equipe capitaneada por Paulo Guedes um pensamento bastante interessante e, se formos ver, talvez seja a primeira vez que isso ocorra. A ideia é: temos um plano principal para as contas públicas que envolve equilibrar as contas no sistema de aposentadorias pelos próximos dez anos, mas, caso isso não ocorra, vamos alterar a perigosa trajetória da dívida pública por outro meio, que é a desvinculação de desembolsos do governo.

Essa ideia, que tem sido chamada pela imprensa de “Plano B”, não tem fácil execução, mas coloca um paradigma interessante sobre as alocações feitas nos diversos orçamentos públicos. Provavelmente, seria o quinto marco importante para as contas públicas desde a Constituição de 1988.

O primeiro destes marcos é a própria Constituição que, ao ampliar o guarda-chuva da atuação do Estado, ampliou ano a ano (e ainda o faz) o tamanho do orçamento necessário. O segundo, o Plano Real, que permitiu estabilização da moeda e, no fim das contas, acabou com o financiamento inflacionário que os entes públicos se acostumaram até então. O terceiro, a Lei de Responsabilidade Fiscal que, na virada do milênio, estabeleceu limites (ou ao menos recomendações) para os desembolsos públicos, sendo obrigatoriedade de mínimos para alguns setores como saúde e educação e recomendação de máximo para folha salarial. Mais recentemente, tivemos no Teto de Gastos o quarto, que força as alocações públicas a algo que na esfera privada já se conhece desde sempre: entender que, diante de limites, escolhas terão de ser feitas.

Orçamento Base Zero é, em linhas gerais, a observação a cada período dos desembolsos realizados e a análise sobre a necessidade de se continuar tal desembolso ou descontinuá-lo. Na prática, nenhuma despesa seria mais vinculada ao orçamento público – o que significa que ele não teria mínimo -, mas, em contrapartida, saídas que não geram tanto retorno quanto se espera podem deixar de ocorrer com maior facilidade, evitando desperdícios.

Imagine o caso de uma cidade em que a participação dos idosos dentre os habitantes é três vezes superior ao de crianças. Pense também em uma cidade em que o contrário ocorre e temos muito mais crianças do que idosos. Faz certo sentido imaginar que a primeira cidade demandaria mais desembolsos em saúde pública do que educação, ao passo que a segunda necessitaria de maior atenção a educação do que saúde, não faz? Mas, atualmente, as duas cidades estão sujeitas aos mesmos padrões mínimos de alocação orçamentária – e, na prática, mesmo se não precisarem de novos recursos em uma determinada área, o “carimbo” no dinheiro determina que terá de ser gasto. Logo, desperdícios ocorrem apenas na boa intenção de evitar que a área seja “esquecida”.

Baseado em quê poderiam ser os desembolsos, se não por uma fixação legal? Em dados socio-econômicos da região, por exemplo. Taxa de natalidade, composição demográfica, renda per capita e outros aspectos ajudariam.

Não é um plano tão simples, exige muito mais esforço do que simplesmente atualizar o orçamento pela inflação do ano anterior – como é feito atualmente na imensa maioria dos casos. Porém, dado que nem o Plano A será capaz de domar a questão fiscal por completo, trata-se de ideia que deve ser pensada seriamente. É mesmo um ótimo Plano B.

Publicações deste artigo, que foi escrito em abril de 2019:

– Revista da Associação Comercial e Industrial de Franca (ACIF Franca), Edição 271, Página 06: http://www.acifranca.com.br/SITE/edicao/acif-em-revista-edicao271.html

MAIO: O PASSADO NÃO DESCREVE O FUTURO – AINDA MAIS AQUI

O mês de maio, nos últimos anos, tem ficado conhecido como o temeroso período de perdas na bolsa de valores. A estratégia sell in may and go away (em tradução livre: “venda em maio e vá embora”) parece estar consolidada entre muitos, que já entram neste mês vendidos em diversas posições, aguardando a hora de confirmar suas expectativas.

Chegamos a maio de 2019. Durante a primeira quinzena, expectativas negativas tomaram o cenário. Reforma da previdência não passa mais, desaprovação ao governo começa a superar a aprovação, articulação política tendendo a zero… Em suma, o caos que se aguardava em termos temporais parecia dar sinais de sua presença.

Então fomos para a segunda quinzena de maio: as tramitações começaram a avançar, uma reforma tributária também entra em jogo por proposta do congresso (aquele que parecia apático a qualquer necessidade do país) e, quase ao final do mês, uma manifestação popular demonstra que o apoio à reforma previdenciária, diferentemente de outros períodos, é real e notável. Reversão do caos e, para surpresa de alguns (tantos), maio fechou no azul depois de muitos anos.

O que podemos aprender apenas com a análise de um mês observando atentamente os mercados no Brasil é fascinante. Podemos dividir este aprendizado em dois pontos.

Em primeiro lugar, lembremo-nos de uma das leis mais importantes das finanças: o passado não é capaz de descrever o futuro. Isso não significa que você não possa ter suas previsões, mas, que fique bem claro, o conjunto de dados passados, por si só, não consegue apontar direções futuras. Isso porque a quantidade de variáveis é imensa e, entre gestão interna das empresas e cenário externo que as rodeiam, tudo pode mudar e causar mudança na previsão realizada inicialmente. Caso seja considerado apenas o histórico de preços então, fica ainda mais difícil de apontar com maiores certezas a direção futura.

Outro aspecto importantíssimo é o institucional do Brasil. Tendo em vista nossa enorme gama de questões ainda a serem resolvidas – como a previdência, a simplificação tributária, a infraestrutura, dentre outras -, sinais de que alterações podem ocorrer ou que haverá continuidade do mesmo fazem muita diferença (além do que a própria gestão de cada empresa consegue direcionar). O anúncio de uma concessão de rodovias pode melhorar a logística e deixar as previsões futuras mais positivas (com uma queda de custo logístico), mas quando se anuncia por exemplo que o saneamento básico não será concedido à iniciativa privada, alguns investimentos que dependiam da expansão desta malha sanitária deixarão de ocorrer. Por aqui, essas duas coisas podem acontecer dentro do mesmo mês.

Provavelmente, se neste maio, que se encerrou na semana passada, o negativo tivesse prevalecido, a tese do “neste mês sempre observamos quedas” teria ganhado um ponto a mais no tempo – e mais adeptos para os próximos anos. Porém, sabendo que o passado não descreve o futuro (ainda mais por aqui), fique esperto quando ler previsões certeiras sobre um futuro “igual ao que já se viu”.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em junho de 2019:

– Blog da Guide Investimentos (07/06/2019): https://blog.guide.com.br/textos/maio-o-passado-nao-descreve-o-futuro-ainda-mais-aqui/

POR QUE DILMA ERROU no Terraço em Quinze Minutos #97

Nesta edição, Lucas Goldstein acompanha Caio Augusto respondendo às perguntas dos seguidores do Instagram:

savegocapital: “Depois da reforma da previdência, qual a medida mais importante a ser tomada?”
costadiego_bra: “inflação causa juro ou juro causa inflação?”
leaoteixeiraf: “falem em números: por que essa reforma vai dar certo. É porque o outro modelo é tão…”
leosouza_lss: “por que os governos anteriores tiveram que liberar tanto crédito após a crise de 2008? Como isso aprofundou a crise interna? E o que explica os juros e o consumo das famílias?”