INDICAÇÕES: O QUE LEMOS EM 2018

Nossa equipe se juntou para copilar indicações do que lemos em 2018. Veja abaixo:

THE SECRET OF OUR SUCESS – JOSEPH HENRICH

Victor Cândido

Nós, seres-humanos, somos uma espécie animal intrigante. Se fôssemos abandonados na natureza, muito provavelmente não iríamos conseguir superar até os desafios mais básicos, como obter comida, construir abrigos ou evitar predadores e morreríamos rapidamente. Sem falar que nossos “filhotes” possuem mobilidade quase nula e cabeças enormes que nem terminaram de se fechar quando nascem. E mesmo com todos esses fatores jogando contra, nós vencemos a natureza no jogo evolutivo e dominamos o mundo.

Como? A resposta óbvia que vem na cabeça de todos é: com a nossa inteligência singular no mundo animal. Mas não foi, nossa inteligência nem é tão singular assim, mas sim a nossa cultura, ela é a grande responsável pelo nosso sucesso estrondoso como espécie. Humanos são a única espécie com uma cultura exorbitante.

Nas mais de 460 páginas de The Secret of Our Success (Princeton University Press – R$89,90 ), o antropólogo formado em engenharia, Joseph Henrich, nos leva num divertido e cuidadoso ensaio, cheio de evidências empíricas que confirmam sua tese principal: Humanos não deram certo pela inteligência individual, e nem são a espécie mais inteligente, porém, foram capazes de criarem um super cérebro coletivo, denominado de cultura, que se perpetua de geração em geração. Se não fosse a cultura altamente desenvolvida dos humanos, nós não teríamos vencido os neandertais e produzido tecnologias engenhosas, linguagens sofisticadas e instituições complexas que nos permitiram e permite nos expandir com sucesso em uma ampla gama de ambientes diversos.

Apenas para ilustrar a questão da limitada inteligência individual dos humanos, o próximo experimento foi extraído do livro, mostra uma comparação interessante, onde macacos e humanos foram colocados para jogar um teste, que consegue medir alguns tipos de inteligência, como memória de curto prazo, memória de trabalho e a inteligência social (que mede a nossa capacidade de aprender com a experiência de nossos pares). O resultado é incrível, os chimpanzés e o orangotangos tiveram desempenho similar aos humanos em todos os testes, exceto em um, o de inteligência social, onde ganhamos de lavada.

Logo fica claro que o sucesso estrondoso dos humanos não é fruto de nossa cabeça gigante, mas sim de uma enorme cabeçona coletiva, que pensa sem parar a milhares de anos.

STRUCTURAL REFORM PRIORITIES FOR BRAZIL – IMF WORKING PAPER, NINA BILJANOVSKA E DAMIANO SANDRI

Rachel Borges

Sob o contexto de décadas de baixo crescimento econômico e produtividade estagnada, os pesquisadores do FMI conduzem um estudo empírico partindo da necessidade urgente de reformas estruturantes para acelerar a produtividade no Brasil. Desenvolvem então uma análise empírica para definir as reformas de maior prioridade a serem conduzidas pelo governo brasileiro de modo aumentar a produtividade e, portanto, retomar o crescimento econômico sustentável.

Para tanto, estimam primeiro o impacto de diferentes reformas na produtividade do país (incluindo à estrutura jurídico-legal, leis trabalhistas e abertura comercial) com base em dados históricos e de outras economias com estruturas semelhantes. Depois, usam dados empíricos sobre a opinião pública em relação a cada uma destas reformas – pois, afinal, políticos precisarão aderir a causa e defender no Congresso reformas muitas vezes com impactos em grupos de interesse específicos, pensando sempre em se manter no poder via seus eleitores, não é mesmo?

O estudo traz então uma interessante conclusão: reformar o setor bancário terá o maior impacto na produtividade total dos fatores na economia brasileira, além de levar consigo o maior apoio popular, além de não requererem grandes mudanças legislativas. Na linha de recentes esforços liderados pelo Banco Central e o Ministério da Fazenda, os pesquisadores apontam para reformas que visem a melhora da alocação de recursos via redução de crédito subsidiado, diminuição da participação do Estado e fomento à competição no setor financeiro (como Fintechs). Importantes primeiros passos foram dados nos últimos dois anos, esperemos que o novo governo valorize também essa ótima leitura.

PRINCÍPOS – RAY DALIO

Pedro Lula

“Princípios: Vida e Trabalho” é um daqueles livros marcantes. Ray Dalio, um dos maiores investidores do mundo, é fundador da Bridgewater Associates, a quinta empresa privada mais importante dos Estados Unidos e a mais eficaz gestora de hedge funds do mundo, teria então todos os motivos para viver no conforto de sua vida e ciclo social, com tudo, desde os anos 90 Ray vem nutrindo junto a seus investidores uma série de cartas e recomendações sobre investimentos e sobre a vida pessoal-profissional, que após longos anos decidiu transformá-las em um magnífico livro.

O autor tem o cuidado de transformar o livro numa espécie de conversa, uma bate-papo inicialmente sobre a sua jornada de vida, usando de exemplo as diversas situações que passou, quando quebrou sua primeira empresa, seu filho especial, quando errou sua tese de investimento e custou muito milhões, quando desenvolveu sua nova metodologia de investimentos, como tratou e selecionou seus funcionários, enfim, o que Dalio chama de jornada do aventureiro, para depois, na segunda parte do livro abrir para a sua série de Princípios.

Nesse sentido, o autor escreve uma espécie de guia, com uma série de situações hipotéticas e conselhos, para conseguir alcançar sucesso pessoal e profissional, de uma forma muito autêntica. Conceitos como mente aberta, radicalmente transparente, radicalmente sincero, evolução pessoal, não tolerar problemas, definição de objetivos, discordância construtiva, reputação e pessoas extraordinárias são vistos ao longo da diversas páginas de leitura.

O próprio Ray comenta que sua atual fase de vida é de transmitir conhecimento, promover um mundo melhor e apoiar as pessoas, com certeza a leitura desse livro é uma viagem a cabeça de uma pessoa genial, que deixa um legado de vida incrível.

100 DIAS ENTRE O CÉU E O MAR – AMYR KLINK

Eduardo Scovino

Essa eu dedico para todos que, assim como eu, são amantes do remo. Amyr Klink é um sujeito deveras ousado. Nesse relato, ele conta a vez que saiu do porto da cidade de Lüderitz, no sul da África, e remou até Salvador durante 100 dias.

Isso mesmo, amigos. Remando. A bordo do Paraty, Klink nos fala de sua intensa (bota intensa nisso) relação com o mar, da vida marinha que o acompanhou durante a travessia e também alguns dramas por estar completamente sozinho em alto mar.

O que me chamou muita atenção no livro foi que, antes de qualquer coisa, era um desafio de logística. Tudo havia sido muito bem calculado, levando em consideração o lugar da partida – preste bem atenção quando ele fala das correntes de Benguela – e da alimentação balanceada e do estoque de comida e água a bordo.

A cereja do bolo: Amyr Klink é economista de formação. Nunca pensei que economia e remo fossem dar uma mistura tão rica e intensa como “100 dias entre o Céu e o Mar”.

JOB MARKET SIGNALING – MICHAEL SPENCE (1973)

Arthur Lula

Você já parou para pensar que se as pessoas não tivessem diplomas ou certificados, e não tentassem construir um bom currículo, as empresas simplesmente não conseguiriam diferenciar os trabalhadores? Pois é, Spence ilustra nesse elegante paper, que é um resumo de sua tese de doutorado e foi publicado no The Quarterly Journal of Economics, como funcionam as sinalizações de mercado, sobretudo no mercado de trabalho. Claro, utilizando modelos teóricos. Essa dica de leitura vai para aqueles que desejam um pouco de abstração, mas lidando com um tema muito interessante e que aborda situações de informação imperfeita nos mercados.

O problema todo começa do fato de que os empregadores não conseguem apenas “no olhar” saber quão produtivo é um trabalhador, num clássico caso de assimetria de informação. Há um tempo de aprendizagem logo quando se contrata alguém, e esse tempo varia de trabalhador para trabalhador, logo escolher o trabalhador que minimize esse tempo é certamente uma decisão de investimento – uma decisão sob incerteza, quase uma loteria, para ser mais claro. Essa decisão pode ser baseada em probabilidades condicionais e experiência passadas.

Se existem o mesmo número de pessoas com alta produtividade e outras de baixa produtividade, você tem chances iguais de contratar cada tipo, caso não tenha informações sobre elas. Se você pretende remunerar o trabalho pela produtividade, mas não tem conhecimento desta, acaba oferecendo uma remuneração esperada (algo como a média dos dois grupos). Essa situação pode gerar um caso extremo em que não há incentivos para pessoas de alta produtividade participarem do mercado, pois estariam recebendo remuneração abaixo da sua produtividade, sobrando um mercado de apenas pessoas de baixo desempenho – o caso da seleção adversa (que não é tratada pelo paper, mas vale a pena ler sobre).

Resumindo de forma bem grosseira, o autor propõe alguns modelos, mas destaco o de sinalização via educação (ainda que custosa) como forma de aumentar a informação, diferenciação e identificar produtividade. Dado a estrutura de mercado e a avaliação dos empregadores de qual é a escolaridade média (por exemplo) que pretendem contratar, os indivíduos vão ajustar o seu próprio nível de escolaridade mediante ao custo de fazê-lo. Alguns podem achar muito custoso e não o fazer, por exemplo. Em algum equilíbrio desse mercado, o empregador poderá fazer previsões da produtividade esperada para qualquer indivíduo desse mercado teórico, observando seu nível educacional.

O problema é que esse equilíbrio teórico pode não indicar um aumento de bem-estar, dado o custo de adquirir escolaridade para sinalizar a produtividade. De certa forma, só será vantajoso adquirir mais educação se os custos de sinalização estiverem negativamente correlacionados com a produtividade.  Você já parou para pensar que educação pode ter retorno social negativo, mas um retorno privado positivo? É um caso particular e se ficou curioso, leia o paper.

Em suma, esse é um dos trabalhos iniciais bem interessantes que há no ramo da economia da informação, de cunho bem teórico, mas que pode aguçar sua vontade de estudar essa área.

A LOJA DE TUDO – JEFF BEZOS E A ERA DA AMAZON

Caio Augusto

Provavelmente você leitor já fez ou conhece quem fez alguma compra na Amazon. Deve saber também da revolução tecnológica e varejista que ela representa – e que faz dela, não surpreendentemente, uma das maiores e mais valiosas empresas do mundo atual.

O que você não sabe sobre a Amazon pode encontrar neste livro. Divido em três partes, apresenta um dos empreendimentos mais bem sucedidos da história juntamente a seu representante maior, Jeff Bezos.

Superdotado, versátil e sempre buscando pesquisar empreendedores de sucesso – tendo em Frank Meeks, franqueador da Domino’s Pizza de Virgínia que enriquecera -, Bezos foi um dos tantos que apostou na internet na virada do milênio (e um dos poucos que conseguiu provar que seu modelo de negócios era robusto o suficiente para seguir em frente).

Com nome inspirado no maior rio do mundo e logo que dá a entender que lá você encontrará tudo “de A a Z”, a atual loja de tudo começou com o objetivo de superar o serviço de livrarias virtuais existente à época, meados dos anos 1990. Desde o início o plano era de ser imenso – primeiro como “a maior livraria do mundo” e, com o passar do tempo, “a maior seleção da Terra”.

A ambição traduziu-se em prática a partir do foco maior sobre dois aspectos fundamentais: o atendimento ao cliente e a eliminação de inconformidades na cadeia de fornecedores objetivando oferecer produtos aos menores preços possíveis. Hoje, a percepção sobre a empresa é exatamente essa.

A obra apresenta, em suma, como a Amazon e seu criador estão umbilicalmente ligadas e, assim sendo, como o avanço da empresa tem conexão com o pensamento ambicioso de Bezos em oferecer de tudo a todas as pessoas.

SAPIENS: UMA BREVE HISTÓRIA DA HUMANIDADE – YUVAL HARARI

Arthur Solow

A história dos humanos no planeta Terra é bem mais interessante do que você imagina. Se antes os Sapiens – a espécie humana que prevaleceu e resiste até hoje – disputava comida e bens de sobrevivência com outros animais, em condição de igualdade, hoje subjuga completamente fauna e flora ao seu bel-prazer, em nome do desenvolvimento econômico.

Misturando história, biologia, filosofia e sociologia, Harari descreve momentos históricos da evolução humana em detalhes, como a Revolução Cognitiva, da Agricultura, a Industrial e finalmente a Revolução Científica. Essa última, inclusive, é aos olhos do autor uma das mais perigosas, pois não sabemos muito bem as implicações de seus estudos e experimentos. ‘Realidades Imaginadas’, nos termos do autor, foram determinantes para a evolução humana, como a formação dos impérios e posteriormente dos estados nacionais, adoção do sistema capitalista e a influência das religiões.

A evolução não foi nada linear, e muitas escolhas foram tomadas para chegar onde estamos atualmente. Destruímos florestas e extinguimos espécies inteiras de plantas e animais (e inclusive outras espécies de humanos) em nome do progresso.

Será que depois de tudo isso e com toda a tecnologia atual e a oferta abundante de bens de consumo, que até pouco tempo era inimaginável, nos tornou mais felizes que antigos caçadores-coletores de 15 mil anos atrás? Perguntas como essa rondam a cabeça do autor, e nos fazem refletir sobre o nosso próprio modo de vida.

DEVELOPMENT AS FREEDOM – AMARTYA SEN

Lucas Adriano

Quando o objetivo é analisar os efeitos da pobreza e a sua intensidade sobre diferentes grupos sociais, o livro “Development as Freedom”, do Nobel Amartya Sen, é simplesmente in-dis-pen-sá-vel.

Nessa obra, Sen analisa a pobreza de uma maneira pioneira, considerando a sua incidência em diferentes dimensões. É dado destaque para certos fatores, como: educação, saúde, regionalismo e empoderamento feminino. Tais fatores são considerados como responsáveis pelo agravamento de uma situação de pobreza.

“Development as Freedom” possui um quê de filosofia, algo devido ao próprio entendimento da pobreza, como algo que limita a liberdade dos indivíduos, mas também pela crítica profunda realizada ao libertarianismo. Mas esse “quê de filosofia” de modo algum torna a obra abstrata e distante da realidade, muito pelo contrário! A discussão filosófica apenas eleva o nível de entendimento acerca de exemplos econômicos reais, que são apresentados ao longo do texto.

A obra de Sen ultrapassa o estudo da pobreza e de suas causas, percorrendo um caminho mais abrangente, que é o de entender o real significado do que seria liberdade humana.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em dezembro de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (26/12/2018): https://blog.guide.com.br/textos/indicacoes-o-que-lemos-em-2018/

O que a Equipe do Terraço leu em 2018?

Há certas coisas que, via de regra, fazem parte da tradição de todo fim de ano. Vão desde o especial do Roberto Carlos e a piada do pavê, até a ceia de Natal e os fogos de Reveillon. Mas claro, além disso, o que não pode faltar, são as indicações dos melhores livros/artigos lidos pela equipe do Terraço durante o ano que passou!

Para 2018, as leituras foram bem diversificadas, algo que junto com a tradição de final de ano, também não é nenhuma novidade. Dado que mesmo sendo um espaço de discussão predominantemente econômica – o que por si só já oferece um leque quase inesgotável para ser explorado – o Terraço vai MUITO além disso, abrangendo temas mais entrelaçados a política, a história do Brasil e as relações internacionais.

Sendo assim, sem mais delongas vamos para as indicações.

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Observação: as recomendações foram escritas pelos próprios membros e, deste modo, expressam as opiniões dos mesmos.

Eduardo Scovino

Gene: uma história íntima – Siddhartha Mukherjee

Vamos começar com o início de tudo: os genes!

Vencedor do badalado Prêmio Pulitzer de não-ficção de 2011, este livro consegue conectar a evolução dos estudos a respeito do Gene, com marcos da história da humanidade – coisas que a  princípio – não possuem muita ligação. Mukherjee consegue explicar, com extrema clareza e didática, os primeiros passos de cada teoria, as frustrações dos cientistas de cada época, as descobertas acidentais e, claro, sobre o que provavelmente nos aguarda em poucos anos.

É incrível a ligação entre o avanço dos estudos sobre mutação genética e os sucessos de bilheteria de Hollywood. É impressionante as ligações que Mukherjee faz com histórias aclamadas, como Quarteto Fantástico, Homem Aranha, Hulk e tantos outros.

Também é surpreendente quando Mukherjee explica acontecimentos notórios do século XX como o Nazismo e a União Soviética sob a ótica dos genes. Depois que passei por esse capítulo, passei a entender que as aulas de Nazismo e Segunda Guerra devessem ser dadas com um professor de História e um de Biologia na mesma sala.

Recomendo a todos que gostam de ciência e procuram entender um pouco sobre como o estudo de estruturas tão pequenas podem saltar à nossa realidade com tanta frequência.

Victor Candido

A Man on the Moon – Andrew Chaikin

Da descoberta dos genes e todas as suas implicações, vamos diretamente para o espaço.

É bem provável que você saiba, que o primeiro homem a pousar na lua disse, assim que pisou em solo lunar: “Este é um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade”. Mas provavelmente não deve ser do seu conhecimento, que o terceiro homem a pisar na lua, na missão Apollo 12, disse: “whoooopie” ao pular do último degrau do módulo lunar em direção ao solo lunar. Ou que na missão Apollo 15, levaram um carro para lua.

Todos fatos incríveis que fizeram parte do maior esforço científico da história: a viagem do homem da Terra até à Lua. O verdadeiro surrealismo que se tornou realidade. Pouco se conhece das demais missões lunares e da epopéia que foi o esforço de se dominar a tecnologia para ir e voltar em segurança ao nosso astro vizinho. Nos limitamos a saber que nós (humanidade) já fomos até lá.

O livro A Man on The Moon, de Andrew Chaikin. E para quem não curte livros, o seriado da HBO, de 1998, From the Earth to the Moon, que é baseado no livro e produzido por Tom Hanks, que viveu o protagonista Jim Lovell no filme Apollo 13. Essas obras se conectam e contam a história de como a humanidade, com seu espírito explorador, pode fazer coisas incríveis.

Ao contrário de Neil Armstrong, que virou símbolo do programa espacial americano, existiram 400.000 pessoas envolvidas no esforço de colocar um homem até o final da década de 60 na lua. Em 1962, em um discurso na Universidade de Rice, o então Presidente John Kennedy, disse: we choose to go to the moon, e colocou a meta de fazerem isso antes do final da década, ou seja, a NASA tinha 8 anos para alcançar a ambiciosa meta. Naquele momento a NASA tinha 15 minutos de voo espacial tripulado. Para ir à Lua precisaria de centenas da horas a mais, de tecnologia e materiais que ainda nem existiam e que teriam que ser inventados.

Entre 1967 e 1969, missões tão importantes quanto o próprio pouso lunar aconteceram: como o voo incrível da Apollo 8 que foi até a órbita lunar e circulou algumas vezes a lua, mostrando que era possível ir até lá e voltar com segurança, no natal de 1968 a Apollo 8 transmitiu ao vivo da Lua, para o mundo todo, via televisão. Com a figura cinza da lua no centro da imagem, os três astronautas: Frank Borman, Jim Lovell e William Anders leram o livro gênesis da bíblia. A missão foi um sucesso retumbante, o próximo passo era pousar na lua.

O livro de Chaikin é uma janela para uma história surreal, um surrealismo real. E nos faz lembrar que a humanidade pode sim fazer o que quiser, basta ter um objetivo claro e mobilização para tal.

Arthur Solow

Um homem, um rabino – Henry Sobel

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A partir da mobilização de vários indivíduos com um objetivo bem definido, é possível fazer coisas incríveis. Mas alguns homens em especial, conseguem obter grande destaque de maneira individual, mesmo aqueles que possuem uma trajetória marcada por imperfeições e que estejam longe da unanimidade.

Em relação a esses homens, sempre há uma história oculta, mas que gostamos de julgar antes mesmo de conhecê-la com detalhes. É o caso do Rabino Henry Sobel, por muitas vezes lembrado apenas pelo fatídico episódio do furto das gravatas em Miami, ocorrido em março/2007. Mas sua história pela democracia e pelo povo judeu no Brasil se sobrepõe com sobras sobre o episódio das gravatas e se misturam com a própria história política brasileira.

Sobel é reconhecido pelo seu sotaque forte, pelas frases curtas e pelo seu trabalho de décadas à frente da Congregação Israelita Paulista (CIP), sediada no Bairro da Bela Cintra, São Paulo. Mas uma história chama a atenção: após a morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, Sobel duvidou publicamente da versão dos militares, que argumentavam que Herzog havia tirado a própria vida. Com isso, determinou o enterro do jornalista em região comum do cemitério, e não em localidade afastada, devido às leis específicas do judaísmo. Além disso, desafiou o regime ao celebrar um culto ecumênico na Praça da Sé dias depois, juntamente com o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns.

Mas sua dedicação ao judaísmo e a CIP trouxe marcas duradouras em sua vida privada: a própria família (esposa e filha) reclamavam constantemente de sua ausência em casa. Henry Sobel sequer é unanimidade – longe disso – dentro da comunidade judaica, por suas posições tidas como reformistas, mas sua história é importante para lembrarmos que nossos erros e decisões moldam quem nós somos e que nossa atuação ativa pode mudar a vida de muitas pessoas e do país que vivemos.

Caio Augusto

Ah, como era boa a ditadura… A história dos últimos anos da ditadura militar nas charges da Folha de São Paulo – Luiz Gê

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Se a história de pessoas guarda diversos pontos conflitantes, com a história de eventos políticos e sociais, não é diferente. Como teria dito o economista Pedro Malan, “no Brasil até o passado é incerto”.

Um dos momentos que mais marcaram a história brasileira – e ainda marcam – foi o período militar. Após os movimentos de rua de 2013 e todas as repercussões políticas deles advindos, pudemos observar alguns grupos conclamando a volta dos militares do poder, tal qual ocorria na ditadura.

Assustado e inconformado com esse tipo de manifestação pela volta da ditadura militar, Luiz Gê, chargista que observou e externou em seus trabalhos os anos finais do regime, decidiu reunir em um livro muito do que produziu entre 1981 e 1984.

Diferentemente de muitas obras que focam em aspectos como a supressão de liberdades políticas e de discurso, essa obra se direciona essencialmente ao que acontecia nos campos da economia e da política naquela época. Inflação em níveis altíssimos, desabastecimento, o início de uma série de planos econômicos mal-sucedidos e angústias relacionadas com os últimos anos do período militar estão todas presentes.

Talvez as impressões mais marcantes da obra sejam duas: primeiramente, para quem viveu e acompanhou a economia nos anos finais da ditadura brasileira, a impressão era de que diuturnamente o país iria acabar; em segundo lugar, para quem não teve essa vivência, mesmo a atual situação complexa do Brasil (com uma situação fiscal grave a ser encaminhada) parece absolutamente tranquila e de fácil lida perto do que pudemos observar naquela época.

Lucas Adriano

The “São Paulo Mystery”: The role of the criminal organization PCC in reducing the homicide in 2000s – Marcelo Justus, Daniel Ricardo de Castro Cerqueira, Tulio Kahn e Gustavo Carvalho Moreira


Bem incerto são determinados efeitos acarretados em toda sociedade, supostamente atribuídos a certos grupos.

Assim, o artigo aborda o aparente “mistério” que permeia o sucesso na redução da taxa de homicídios no estado de São Paulo, a partir dos anos 2000. Como possível fator determinante para essa redução, foi analisada a atuação do PCC, organização criminosa que se fortaleceu justamente nesse período, de diminuição no número de homicídios em São Paulo.

Será que o crescimento do PCC, teria de alguma forma monopolizado o crime, impondo um maior regramento nas ações criminosas? Ou terá havido algum acordo implícito entre a organização e as forças de segurança do estado? Questões como essas são levantadas no artigo, que faz relações acerca da possibilidade de um grupo à margem da lei, ter a abrangência e a organização suficientes para poder impactar o estado mais rico do Brasil.

Mesmo com todo o poder e sofisticação operacional do PCC, este não teria sido responsável direto pela redução dos homicídios em São Paulo. Apesar de ter sido constatado pelo trabalho, que a atuação da organização teria ligação dentre outras coisas, com a diminuição de certos crimes, como o de abuso sexual, dentro das penitenciárias paulistas.

O artigo é extremamente interessante, seja devido a robustez dos métodos econométricos que são empregados, como pela seriedade e pelo extremo conhecimento técnico de seus autores, acerca do tema criminalidade. Fora que, a proxy utilizada, a atuação de uma organização criminosa como fator relacionado com a redução da taxa de homicídios, raramente é discutida, de maneira séria e embasada pelo menos.

Rachel de Sá

O Inverno do Mundo, Kenn Follett

Em relação a incertezas, poder se dedicar ao estudo de um grande livro, também é uma delas.

Mas promessa é dívida, e nesse caso felizmente. Como prometido ao final de 2017, dediquei grande parte de meu 2018 imersa nas 910 páginas do segundo livro da trilogia do filósofo e escritor Britânico, Kenn Follett.

Seguindo a segunda geração de famílias distintas, mas entrelaçadas pelo emaranhado histórico europeu de meados do século XX, o livro se inicia na Segunda Guerra Mundial e avança às negociações da Liga das Nações e novelas diplomáticas daquilo que será a base da economia e política globais que antecedem o longo período da Guerra Fria. A riqueza de detalhes históricos continua a impressionar o leitor, construindo personagens que vão de jovens alemães frustrados com as mentiras de uma Guerra que já perdeu o sentido, à cabos do exército norte-americano em Pearl Harbor e marinheiros da histórica batalha de Midway, e ingênuos pesquisadores russos na construção do que viria a ser a bomba atômica.

Ao terminar o livro, a única dúvida que fica é: a Guerra Fria será tão interessante assim para meu 2019?

Arthur Lula Mota

Autoregressive Neural Network Processes – Sebastian Dietz (2010)

Diferente dos meus colegas do Terraço, vou optar por indicar uma leitura técnica: uma tese de doutorado. Esse trabalho é bastante interessante por apresentar novas metodologias para trabalhar com séries de tempo e fazer projeções. Sebastian, ao longo das 194 paginas nos introduz ao mundo das redes neurais e como estabelecer relações com os modelos clássicos autorregressivos, colapsando nos modelos conhecidos como AR-NN (Autoregressive Neural Newtork).

Esses modelos podem apresentam performance melhor do que os tradicionais ARIMA por trabalhar com maior desempenho em situações de processos não lineares, saindo daquele mundo bem-comportado que estudantes de econometria (por exemplo) são inseridos no início de sua formação. Outro ponto positivo dessa tese é nos acostumar ainda mais com aplicações de redes neurais e suas funções chamadas de neurônios, um ferramental que tem crescido nos últimos anos, acompanhando o potencial computacional e a facilidade de aprendizagem.

A elegante apresentação de modelos univariados e multivariados nos abre novos caminhos para estudar fenômenos interessantes, sobretudo na economia, com modelos que envolvem cointegração (os NN-VEC), combinando relações lineares de longo prazo e ajuste não lineares. Por fim, encerra com aplicação dessas metodologias para a predição de algumas variáveis que envolvem a indústria automobilística alemã e sua relação com a demanda no mercado americano, e a taxa de câmbio USD/EUR – sobretudo avaliando o período da crise mundial.

Em suma, é um livro técnico para aqueles que desejam trabalhar com projeções, por exemplo, e gostam de conhecer novas metodologias.

Pedro Lula Mota

Os Mercadores da Noite – Ivan Sant’anna

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O céu vai anoitecendo, e já vamos rumo a última indicação de livro.

Ivan Sant’anna é uma daquelas figuras únicas do mercado financeiro brasileiro. Formado em mercado de capitais pela New York University, foi operador de mercado durante 40 longo anos, tanto na Bolsa do Rio, Nova Iorque como Chicago, além sócio de um banco. Foram anos de navegação nos revoltosos mares dos mercado, enfrentados os mais variados tipos de situações: como crises, especulações, quebra de países, mudança de regimes, mercado em alta, ganhando e perdendo muito dinheiro, isso em uma época onde a tecnologia e digitalização ainda eram muito incipientes.

Pois bem, Ivan decide então mudar de carreira e se dedicar a um antigo sonho, o de ser escritor.  Se tornou autor de diversos livros desde os anos 90, sendo o Os Mercadores da Noite um de seus maiores clássicos. O livro é um ficção, uma novela do mercado financeiro em forma de thriller eletrizante, ao melhor estilo frenético das mesas de operações. A história versa sobre os mercadores da noite, operadores que estudavam os mercados na calada da noite de domingo, planejando suas megaoperações, analisando variáveis econômicas como moedas, grãos, juros, ações e etc.

O livro conta a história de dois grandes especuladores dos mercados globais, Julius Clarence, megaespeculador de Wall Street, e seu rival, Clive Maugh, administrador de grandes fortunas do Banco Centro Europeu de Lausanne, o temível Sindicato. O conflito entre esses gigantes dá origem a um colapso do mercado financeiro mundial.

Dicas de Livros da anos anteriores:

O QUE A EQUIPE DO TERRAÇO LEU DE BOM EM 2017?

https://www.terracoeconomico.com.br/o-que-equipe-do-terraco-leu-de-bom-em-2017/embed/#?secret=yn82W4Uhu3

O QUE A EQUIPE DO TERRAÇO LEU DE BOM EM 2016?

O que esperar da economia brasileira em 2017?

O que esperar da economia brasileira em 2017? Nossa equipe discute vários temas centrais que vão dar o que falar em 2017, na economia e política nacional. Confira esse “olhar do terraço” e participe comentando o que você acredita que irá acontecer esse ano, aqui na Terra Brasilis.

ARTHUR LULA MOTA

Política Fiscal:

Por ora, não houve ajuste fiscal. A retórica conhecida e amplamente desmentida é que o ajuste fiscal levou o país para a recessão desde 2015. O argumento é falacioso por dois simples motivos: a recessão começou em 2014 e não houve corte de gastos desde então, muito pelo contrário, as despesas do governo estão crescendo. Em 2017 não será diferente.

Mesmo com a aprovação da PEC do teto dos gatos, a despesa pública continuará crescendo, pressionando o déficit primário. É importante elencar os motivos: i) o teto é baseado na inflação do ano passado, que no caso de 2017 será a inflação de 2016. A inflação de 2016 será algo em torno de 6,40% ao passo que 2017 apresentará inflação na meta (4,50%). Apenas nessa brincadeira já ouve aumento real (6,40% em cima de um crescimento dos preços de 4,50%); ii) Mais do que isto, os gatos com Saúde e Educação terão uma evolução especifica ano que vem, onde o piso do primeiro ficou estabelecido como 15% da Receita Corrente Líquida de 2017 e o segundo com piso de 18% da receita de impostos de 2017. Desta forma, teremos forte aumento reais nestas duas rubricas.

Isso quer dizer que a PEC é ruim? Não, apenas que ela promove um ajuste muito mais gradual e menos agressivo, o que fará com a relação Dívida Bruta/PIB ainda tenha uma trajetória crescente nesses primeiros anos, invertendo apenas lá na frente. A situação fiscal brasileira ainda é crítica, e a Reforma da Previdência é mais um passo dessa batalha.

 

LEONARDO PALHUCA

Política Monetária:

Parece que a inflação arrefeceu. A retomada da credibilidade na autoridade monetária, aliada a uma desinflação de preços de alimentos e de serviços (este último muito fortemente influenciado pela brutal crise económica pela qual o país passa) fizeram com que a inflação de 2016 esteja projetada já dentro da meta do BC, após um 2015 em 10,7%. E o melhor ainda: a inflação para os próximos anos – 2017 e 2018 – já está estimada na meta. Assim, com a atividade ainda se retraindo e com ociosidade e com o Banco Central nas mãos de quem sabe fazer, há um bom espaço para a queda de juros no Brasil em 2017.

Uma continha básica: se a inflação continuar sua trajetória de queda, o Banco Central deverá perseguir uma taxa real muito próxima da nossa média no passado recente, algo em torno de 5% – 6%. Inflação em 4,5% e taxa real em 6% equivalem a uma taxa Selic nominal de 10,5%. Justamente a previsão mediana de mercado. Com a Selic nos atuais 13,75%, devemos ter uma queda mais acelerada dos juros. Não que isso vá reavivar a economia brasileira. Mas desta vez, a queda de juros não será na marretada e a inflação parece que ficará controlada.

CAIO AUGUSTO

Política Interna:

Três temas devem ser centrais na política brasileira em 2017: 1) A possível cassação da chapa Dilma-Temer pelo TSE: denúncias sobre doações irregulares para a campanha da chapa vencedora em 2014 estão sendo analisadas e há possibilidade de que Temer deixe a presidência caso ocorra a condenação. Há uma tentativa da defesa de Temer de desvincular suas contribuições às de Dilma, mas tal justificativa é tida como juridicamente fraca; 2) Com a possível saída de Temer: eleições para o novo presidente. Segundo a constituição, caso um presidente sofra impeachment ou se ausente por qualquer motivo, as eleições são diretas se o ocorrido for nos primeiros dois anos de mandato e indiretas se forem nos dois últimos. Porém, após a mini-reforma eleitoral de 2015, ficou decidido que eleições indiretas só ocorrem se a saída acontecer nos últimos seis meses do mandato. Com isso, podemos ter eleições diretas em 2017; 3) Por último e não menos importante, a delação da Odebrecht e os rumos da Lava Jato: a famigerada “delação do fim do mundo” tem indicado o envolvimento de dezenas – se não centenas – de parlamentares em esquemas de corrupção, e os efeitos disso serão sentidos fortemente em 2017. Qualquer tentativa de encerramento abrupto das investigações, como se temia após o processo de impeachment, deve ser contida – uma vez que aqueles que teriam interesse nisso estão (ou logo estarão) no alvo da mídia, da pressão popular e das investigações. Eduardo Cunha também deve delatar, mas é pouco provável que sua delação cause mais danos que a da Odebrecht.

Em suma: na política, 2017 tende a ser mais agitado que o ano que está se encerrando. Talvez pela previsibilidade cada vez menor deste cenário: quando do impeachment de Dilma, imaginava-se que a entrada de Temer iria colocar um rumo na situação econômica; algo já se iniciou – como a PEC do Teto, que foi aprovada -, mas o muito que faltaria – reformas previdenciária e trabalhista, por exemplo – dependem de um fator político que pode deixar de existir, apesar da atual equipe econômica ser muito boa. Isso sem falar no vácuo de lideranças políticas ocorrido agora: dificilmente quem assumir as rédeas com uma eventual saída de Temer vai querer ter alguma relação com a situação atual – e, com isso, as reformas devem cessar seu andamento.

 

RACHEL DE SÁ

Economia Internacional:

Enquanto isso, no cenário internacional, a eleição de Donald Trump nos EUA e a decisão do Reino Unido de abandonar o projeto político-econômico da União Europeia (o famoso Brexit) contaminaram o até então interregno benigno vindo de além mar. No curto prazo, o novo ambiente político eleva o grau de incerteza e aversão ao risco nos mercados internacionais, impactando negativamente países considerados mais arriscados – principalmente emergentes, como o Brasil. No médio prazo, a normalização da política monetária norte-americana, acelerada por uma provável política fiscal expansionista conduzida pelo Presidente recém eleito, torna-se importante fator para decisões de política monetária de países como o Brasil, ao atrair investidores estrangeiros de volta aos juros não mais tão baixos assim na terra do Tio Sam e impactando moedas (e, consequentemente, índices de inflação) em terras Tupiniquins. Por outro lado, ainda é incerto o impacto de uma política protecionista norte-americana e de uma União Europeia enfraquecida pela saída dos britânicos. Enquanto políticas contra o livre comércio nos EUA impactarão negativamente o volume do comércio global, a baixa inserção do Brasil em cadeiras globais de valor o protegerá de maiores impactos; ao mesmo tempo, países antes fora do radar europeu, como o Brasil, passarão a ser vistos como opção para aproximação comercial para um Reino Unido obrigado a negociar sua vida do zero. Em suma, incerteza e cautela serão as principais palavras no cenário internacional de 2017.

 

PEDRO LULA MOTA

Investimentos:

A perspectiva para 2017, do ponto de vista do mercado de investimentos, especialmente para a bolsa de valores é construtiva. A inflação retornando a meta e cada vez mais ancorada irá proporcionar um ciclo de corte de juros mais consistente, e por sua vez, terá um efeito positivo sobre as empresas e seus múltiplos. Causando um alvo ao custo de dívida, impulsionado pela melhora do ambiente econômico, com o crescimento das receitas e resultados mais fortes do que os anos anteriores.

Em uma análise rápida da matriz de Preço/Luro alinhada ao percentual de Crescimento dos Lucros, podemos elaborar uma análise de sensibilidade da cotação do Ibovespa. O valor de preço justo entre as variáveis corresponde aproximadamente 73 mil pontos, correspondente a up-side de 24% para o próximo ano, evidentemente que esta é uma projeção do valor justo dos papéis e trabalha com o cenário benigno de nenhum grande choque exógeno ou evento que possa depreciar o mercado. Fato é que, mesmo após a recuperação do índice em 2016 em torno de 40%, tal recuperação esteve mais ligada a euforia política e diminuição do risco-pais, agora a valorização tende a ser mais consistente e alinhada aos fundamentos macroeconômicos e microeconômicos de cada setor ou empresa.

Ademais, outra novidade – após de ano de ostracismo –  é a volta dos IPOs (oferta pública de ações). Como o mercado financeiro vive de boatos, estima-se que 20 operações estão no pipeline do próximo ano, número um pouco excessivo em nosso ponto de vista. Compõe o hall de nomes: Unidas, Movidas, Carrefour, XP Investimentos, Bio Ritmo, IRB, etc. A questão que estas operações costumam ser ótimas oportunidades de investimentos, pois o mercado normalmente não precifica de forma perfeita tais ativos, gerando oportunidades de arbitragem e/ou de alocar em empresas com ótimos fundamentos para um cenário de longo prazo.

Para aqueles mais conservadores e que não queiram se arriscar em fortes emoções da bolsa de valores, a renda fixa ainda assim é uma alternativa rentável. Apesar do ciclo de corte de juros, ele ainda é elevado, atualmente estamos falando de um cenário de taxas de juros real em torno de 8%, o que gera oportunidades de investimentos em títulos pré-fixados (travando a sua taxa de juros atual). Títulos atrelados à inflação começam a perder atratividade, especialmente após o grande boom ocorrido em anos anteriores (o investidor que teve sangue frio nesse período, obteve taxas nunca antes vistas como 16%a.a. durante 5 anos, sem risco, coisas de Brasil.

No mundo de investimentos as premissas são dinâmicas e os movimentos são rápidos. Então, estejamos em alerta para um novo horizonte que vem se abrindo.

 

LEONARDO SILVÉRIO

Reformas Microeconômicas:

Pacote para sair da crise, pacote para incentivar a economia, Conselhão de empresários. O Brasil, em especial os dois últimos governos do PT, adora esse tipo de saída para os problemas. A questão é que estas não são saídas.

Demora-se em média 83 dias para abrir uma empresa no Brasil. Nossos vizinhos chilenos demoram apenas três. Se abrir o próprio negócio já é uma tortura, ao tocá-lo no dia a dia percebe-se que aquele foi apenas o primeiro obstáculo. Empreendedores brasileiros levam em média 2,6 mil horas por ano só preenchendo a papelada. Os bolivianos, em segundo lugar, levam menos da metade do tempo: 1.025 horas. Não há pacote ou Conselhão que resolva isso a não ser boas reformas.

O governo de Dilma Rousseff incentivou a desvalorização da moeda e forçou as taxas de juros para baixo mesmo com a inflação em trajetória de alta. Com isso, o governo ignorou as reformas microeconômicas necessárias. Felizmente, eu acredito que o governo Temer colocou estas reformas microeconômicas em pauta. Posso estar sendo otimista demais, mas o final de 2016 me dá esta brecha. Com isso, a equipe econômica pode tornar o país mais competitivo e saber que nem tudo é câmbio desvalorizado ou medidas macroeconômicas. Os empresários precisam fazer negócios de maneira simples, não muito mais que isso. E não ser um herói forçado.

 

VICTOR CÂNDIDO

Reforma da Previdência:

Intertemporal, essa é a palavra que tem guiado as reformas fiscais do governo Temer. Equilíbrio intertemporal das contas públicas, com a já aprovada PEC55 e agora com a PEC da reforma da previdência, tudo isso para um ajustamento fiscal que dure décadas e não alguns poucos anos. A confiança de longo prazo do país depende dessa confiança intertemporal.

A reforma não é dura, é necessária. Hoje para se aposentar com 100% do benefício o indivíduo deve trabalhar algo em torno de 41 anos. Então para se aposentar com o teto, segundo as regras antigas, um sujeito de 23 anos se aposentaria aos 64 anos. Com o mesmo tempo de contribuição e com as novas regras, ele se aposentaria com 92% do benefício, ou seja, 8% de taxa de sacrifício, se ele quiser os 100% vai ter que trabalhar mais 8 anos. O exemplo mostra que a reforma não é tão dura quanto se pensa e que ninguém vai precisar trabalhar até morrer para ter o teto.

Importante notar também que mais de 90% dos benefícios pagos pelo INSS são de até 5 salários mínimos, e quase 70% do total é salário mínimo. A reforma a ainda mantém os benefícios atrelados ao salário mínimo, ponto negativo, que deveria ser revisto, porém, uma batalha de cada vez.

ARTHUR SOLOW

Privatizações:

Com mais força no início do Governo Temer, o assunto das Privatizações/Concessões cairam de volume após as pautas políticas ganharem espaço nos noticiários. Temer chegou a dizer que queria privatizar “tudo o que for possível”, em diversas áreas como aeroportos, saneamento, energia e rodovias.
Mais do que as concessões, temos que pensar na lógica por trás disso tudo. Assim como no caso da PEC dos Gastos, que trouxe uma discussão sobre o orçamento do Governo e a alocação dos recursos, a possível “onda” de privatizações nos leva a refletir: quais são os setores que o Governo deve ser dono de empresas? Faz sentido usar recursos públicos para isso, ou seria melhor utiliza-los de outra forma? Há algum setor absolutamente estratégico para o país? Se há alguma área que a iniciativa privada seja mais eficiente e capaz de entregar o mesmo resultado, vamos em frente.

 

– Post colaborativo publicado no Terraço Econômico em 02/01/2017: http://terracoeconomico.com.br/o-que-esperar-da-economia-brasileira-em-2017

– Post colaborativo publicado em Investing Brasil em 04/01/2017: https://br.investing.com/analysis/o-que-esperar-da-economia-brasileira-em-2017-200171445

 

O que a equipe do Terraço leu de bom em 2016?

As férias chegaram, finalmente. É hora de digerir esse 2016, um ano de muitos acontecimentos. E quem disse que as férias de fim de ano são só pra comer (ou pavê), piadas ruins a parte, é momento de por a leitura em dia! E para te ajudar a escolher o que levar pra ler nas férias, fizemos a lista dos livros que a nossa equipe mais gostou em 2016.

Ps: todas a recomendações foram escritas pelos próprios membros e expressam as opiniões dos mesmos.

VICTOR CÂNDIDO

  • The Courage to Act – Ben Bernanke O homem que guiou o FED, o Banco Central americano, durante a crise de 2007/08, discute suas memórias e analisa todos passos tomados para conter a maior crise financeira desde 1929. O livro é bem interessante, pois é um exercício de reconhecimento dos limites de um policymaker e também de como a política monetária precisou ser rediscutida de forma bastante ampla para a solução da crise. Bernanke desenhou os programas de afrouxamento quantitativo, ou quantitativing easing, que foram decisivos para a recuperação da economia americana. Se você quiser ler apenas um livro sobre economia nas férias, recomendo esse catatal de 600 páginas.
  • The Wright Brothers – David McMcullough Automaticamente todos vão dizer: que mané irmãos Wright, aqui é Santos Dumont. Esse livro tira o mito dos irmãos e os analisa de uma forma ímpar. E infelizmente, sim, eles voaram antes do nosso Santos Dumont. Inclusive no ano que St. Dumont voou o 14 bis, os irmãos Wright já tinham um avião que decolava normalmente. O interessante da história deles, é a vontade de criar uma máquina que imitasse os pássaros. Wilbur e Orville Wright estudaram até o ensino médio, eram modestos, aprenderam tudo sozinhos. Possuiam um pequeno negócio de produção de bicicletas, onde aprenderam as habilidades mecânicas necessárias para construir seu primeiro avião, o histórico Flyer. Uma passagem interessante é quando eles precisam comprar um motor para o avião e nenhuma fabricante se habilita a vender, os próprios decidem produzir seu motor, mais leve e de alumínio, uma inovação para época, tudo isso sem nunca antes terem colocado as mãos em um motor. Leitura mais que recomendada. 

CAIO AUGUSTO

  • Os números (não) mentem – Charles Seife. A profissão de economista demanda que sempre tenhamos à mente provas do que estamos falando – e, na maioria dos casos, coloca-se como preferencialmente que estes dados sejam numéricos. Contra o senso comum, este livro mostra que existem diversos truques matemáticos que moldam mensagens. No fundo, o livro é um lembrete importante: é sempre sadio manter o ceticismo e procurar entender as razões dos eventos econômicos, porque ter os dados sozinhos – ou montar correlações espúrias, como alguns economistas costumam fazer – não irá fazer sua explicação ser mais convincente.
  • Cartas a um jovem economista – Gustavo H. B. Franco. Um livro que discute temáticas quase atemporais dentro da economia, servindo para orientar quem pretende se encaminhar por esta área no ensino superior e levantar questionamentos diretos a quem já está na área há algum tempo. O autor dispensa maiores apresentações e viveu o que narra, o que torna a leitura ainda mais interessante. Se você gosta da discussão econômica mas tem dúvidas sobre se encaixar ou não neste campo, o segundo capítulo é um excelente tira-teima.

PEDRO LULA MOTA

  • A alquimia das finanças, Lendo a mente do mercado – Georges Soros. O livro é uma especie de diário do grande especulador e filantropo George Soros, escrito após o episódio em que ficou mundialmente famoso ao apostar contra o banco central britânico (e a libra), acertar e quase quebrar a instituição. A linguagem é simples e didática, em que Soros demonstra o dia a dia de suas posições em seu hedge fund, desenvolve a teoria que batiza de “teoria de reflexividade”, evidencias as limitações das premissas de mercado e faz duras criticas ao sistema – apesar de ser um dos seus maiores expoentes. 
  • Sociedade com custo marginal zero – Jeremy Rifkin. O autor elenca uma grande quantidade de dados e exemplos para sustentar sua tese de que: as novas tecnologias estão quebrando paradigmas e patrocinando o florescer de uma novo sistema econômico, que pode ser considerado um novo capitalismo ou um rompimento com o mesmo. Rifkin explica como a Internet das Coisas em conjunto com as tecnologias de energia e transportes estão alcançando grau gigantesco de interconexão, elevando a produtividade dos processos, solapando o custo marginal e compartilhando os benefícios entre todos os usuários dessa grande rede. Como resultado, o lucro passa a ter um papel secundário. Leitura obrigatória para compreender as mudanças recentes em nossa sociedade.

ARTHUR LULA MOTA

  • Central banking in theory and practice – Alan S. Blinder. O livro é uma compilação de palestras na LSE (London School of Economics) cujo objetivo é contar como é a “vida” de um banqueiro central. Une a experiência acadêmica e prática de um homem que foi vice chairman do Fed (Banco Central Americano) na Era Greenspan. Trata da variedade de complicações que um dirigente de banco central precisa enfrentar na tentativa de implementar, na pratica, a abordagem clássica de metas e instrumentos. Descreve como foi o início da utilização dos modelos para a política monetária, algo que hoje é básico para nós. Na época, ele os defendia como guia, mas com um certo ceticismo. Outro debate importante do livro, e que recentemente nos visitou, é a importância do Banco Central independente.
  • O desafio brasileiro – Ensaios sobre desenvolvimento, globalização e moeda – Gustavo H. B. Franco.Um clássico, escrito por uma lenda. Um dos heróis do Plano Real, Gustavo Franco descreve com maestria o debate em relação as diversas visões de como se estabelece o desenvolvimento, abertura comercial e o combate a busca pela moeda sadia (fim da hiperinflação). Seu sarcasmo já muito conhecido tomou a melhor forma neste livro, sobretudo ao tratar da escola Inflacionista do espectro do pensamento econômico

LEONARDO PALHUCA

  • Economic Facts and Fallacies – Thomas Sowell. Basicamente sobre como alguns fatos podem ser mais bem explicados com rigor econômico mais apurado e como políticas podem ser enganosas a priori, mesmo que com boas intenções. Exemplo clássico do livro: problema de moradia em cidades americanas que tentaram resolver com regulação errada. Resultado: maior déficit habitacional e maior preço de aluguel.
  • Ludwig Erhard: a biography – Alfred C. Mierzejewski. Biografia do ministro das finanças da Alemanha no pós-guerra, durante o governo Adenauer. Foi o responsável pela liberalização dos mercados na Alemanha, tnato de bens quanto de fatores, indo contra as recomendações dos Aliados de ter uma economia mais controlada, como na França. Co-responsável pelo milagre alemão, foi primeiro-ministro por um breve período depois do Adenauer, mas não era muito político. Era bem técnico e as ideias e políticas dele foram responsáveis por colocar a Alemanha onde está hoje. E ele ainda fumava durante entrevistas.

RACHEL DE SÁ

  • Trópicos utópicos – Eduardo Giannetti. Uma espécie de apanhado de divagações do cientista social e economista, o livro trata desde questões de cunho histórico-filosófico como a proximidade de política e religião ao longo dos séculos, quanto de tecnicalidades do debate econômico atual como padrões de desenvolvimento e sustentabilidade. De leitura leve apesar da densidade dos assuntos, o livro traz um olhar diferente ao indagar o que devemos desejar e esperar do Brasil como economia e país de incrível multiplicidade étnica e cultural.
  • Temos extremos – Míriam LeitãoRomance de estréia da jornalista econômica Míriam Leitão. A história se passa em uma fazenda mineira, na verdade duas histórias, que se conectam por essa fazenda. A primeira é sobre uma família que sofreu muito com a ditadura militar e vai para a fazenda comemorar o aniversário da matriarca. Enquanto a segunda história é sobre dois irmãos, escravos, que viviam na fazenda e que lutavam contra a escrivadão. Como as histórias se conectam? Não vou falar, leia o livro, vale a pena. 

LEONARDO SIQUEIRA

  • A Riqueza das nações no século XXI – Bernardo Guimarães. O livro aborda questões econômica de uma maneira racional e sem se deixar tentar por apelos políticos. Questões como deveria o BNDES emprestar tanto como empresta a juros subsidiados, lei do conteúdo local de fato impulsiona uma economia,entre outras são respondidas. Bernardo, faz um livro muito simples e didática, capaz de ser lido em 15 dias. A leitura é prazerosa e enriquecedora de como raciocinar economicamente.
  • O fator Churchill – Boris JohnsonQuando Boris escreveu este livro era apenas um Jornalista entusiasmado. Hoje ele é ex-prefeito de Londres e chanceler das relações exteriores britânicas. Gosto do Livro por mostrar – ao contrário do que muitos pensam – que Churchill foi um desacreditado a vida inteira. Seu próprio pai foi um dos que acharam que ele não seria ninguém na vida. Não só desacreditado, Churchill em mais de uma vez na carreira foi colocado no Limbo, como quando comandou a operação de Galipoli e perdeu de maneira vergonhosa. Mas Churchill se reinventava, começou a se expor em rodas que as pessoas o ouviam e se tornou num dos maiores – senão o maior – líder da Inglaterra moderna.

ARTHUR SOLOW

  • Como matar a borboleta azul: Uma crônica da era Dilma – Monica B. de Bolle. O livro mostra a linha do tempo do governo Dilma, desde o início, no qual a Presidente usufruía de amplo apoio popular, aproveitando a carona de seu padrinho político (Lula), até o momento mais dramático de sua passagem na presidência com o afastamento e posterior confirmação do Impeachment. Uma crise política e econômica dessa magnitude não surge da noite pro dia; pelo contrário, como é mostrado no livro que mistura dados econômicos, literatura popular e uma dose de sarcasmo, as políticas adotadas foram as responsáveis pela situação que vivenciamos atualmente.
  • Sonho Grande – Cristiane Correa. A história de sucesso de Jorge Paulo Lehman, e seus fiéis escudeiros Marcel Telles e Beto Sicupira é interessante do início ao fim. De uma promissora carreira no tênis até a formação da maior cervejaria do mundo, Lehman soube como poucos delegar funções e responsabilidades para aumentar seu próprio patrimônio. Seu trabalho, na maioria das vezes, foi resgatar empresas que não apresentavam bons resultados e transformá-las em exemplo de gestão e lucratividade. E, claro, com uma pitada de sorte no meio do caminho; embora, no todo, o esforço e a dedicação dessas três figuras do empreendedorismo tenham contado muito mais.

TALITHA SPERANZA

  • Condições de Liberdade – Ernest Gellner. Neste livro denso e original, Ernest Gellner demonstra que a grande diferença entre as ideologias totalitárias e o liberalismo ocidental é a existência da sociedade civil – idéia que nos ajuda a entender como uma determinada sociedade funciona de fato, e como difere das formas alternativas de organização social. Além disso, mostra a influência do islamismo no mundo contemporâneo, sustentando que o fracasso do marxismo foi um dos fatores que propiciou o fortalecimento progressivo do Islã.
  • Por que as nações fracassam – Daron Acemoglu e James RobinsonPor meio de um texto instigante, Por que as nações fracassam responde à pergunta que há séculos instiga diversos estudiosos: por que algumas nações são ricas e outras são pobres, divididas por riqueza e pobreza, saúde e doença, comida e fome? Neste livro, Daron Acemoglu e James Robinson tratam das diferenças abissais de receita e padrão de vida que separam os países ricos do mundo, como Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha, dos pobres, como os da África subsaariana, América Central e do Sul da Ásia; Os autores fazem uma demonstração cabal de que são as instituições políticas e econômicas que estão por trás do êxito econômico (ou da falta dele). Trata-se de uma leitura que oferece um vastíssimo leque de exemplos históricos para demonstrar como mudanças podem contribuir para instituições favoráveis, inovações progressistas e êxito econômico ou, ao contrário, para instituições repressoras e, em última instância, decadência ou estagnação.

 

 – Post colaborativo publicado no Terraço Econômico em 15/12/2016: http://terracoeconomico.com.br/o-que-equipe-do-terraco-leu-de-bom-em-2016