SÓ SE FALA EM DÓLAR no Terraço em Quinze Minutos #139

Nesta edição, Caio Augusto acompanha Daniele Chiavenato, Paulo André e Rachel de Sá com os seguintes temas: Banco Central se posiciona mediante escalada da cotação do dólar Tabata Amaral e Rodrigo Maia juntos por melhorias para o Bolsa Família Contas públicas continuam comprometidas, mas há esperança?

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Lições de Kyiosaki-Lechter: viva dos rendimentos, esqueça o capital (parte 3)

Continuo apresentando as quatro breves lições a respeito do livro Pai Rico, Pai Pobre, de Robert T. Kyiosaki e Sharon Lechter. Isso é, aquelas que este que vos escreve considera serem mais importantes no best seller de finanças pessoais. Neste chega a seu terceiro capítulo, após falar sobre ativos (e não passivos) e eficiência no uso do orçamento pessoal, falemos sobre os rendimentos! Esqueça o capital!

Construindo patrimônio

Esse ensinamento pode estar no topo de prioridades de quem já investe altos montantes e pensa até em parar de trabalhar, mas se engana quem pensa que este artigo dialoga apenas com este perfil. Na verdade, o alvo aqui são todas as pessoas que pensam sobre dinheiro e na construção de um patrimônio para se resguardar seu futuro.

Há uma ilusão acerca daqueles que têm dinheiro, supostamente fazem uma retroalimentação entre seu estilo de vida (possivelmente mais caro em termos de consumo) e os bens acumulados ao longo do tempo: “a pessoa é rica porque tem como gastar”. É justamente nesse ponto que muita gente se engana, as pessoas acumulam bem porque conseguem viver um degrau abaixo do que ganham, não porque gastam mais do que ganham.

Há uma pergunta que incita muitas respostas em termos de consumo e quase nenhuma em termos de investimento: o que você faria se ganhasse alguns milhões no próximo sorteio da Mega Sena? A resposta média se aproxima bastante da clássica cena do Pica Pau: “iates, mansões, automóvel…”

É claro que, a depender do quanto você ganhe, vai querer ajudar seus familiares e realizar sonhos que antes não eram possíveis. Contudo, o pecado está em não acreditar que há dia seguinte. Inclusive, alguns casos práticos que mostram como isso pode mesmo ocorrer.

O cenário de vencedor na Mega Sena é pouco provável, então vamos à realidade dos fatos. Considerando que você consiga juntar um alto montante durante décadas de sua vida. Ótimo, chegou ao tão sonhado milhão de reais acumulados, após muitos anos de investimento (erros e acertos) e alocação do dinheiro que foi sobrando período a período. Se você chegou a este ponto ou mesmo almeja chegar, pense no seguinte: não basta chegar, mas é preciso permanecer (ou melhorar) nessa situação. Por esse motivo, o máximo que você pode gastar desse montante são seus rendimentos.

Vamos aos números, considerando este montante de R$1.000.000,00 (que, reforço, você juntou durante muitos anos e com muitos investimentos diferentes, pois essa missão realmente está longe de ser fácil), se você conseguir um investimento que te dê um retorno de 7% ao ano (já líquido de impostos), são R$70.000,00 anuais e cerca de R$5833,33 a mais a cada mês.

Levando em conta que você começou a trabalhar com 25 anos e demorou 30 anos para juntar esse montante (juntando R$500,00 por mês, a uma taxa mensal de 0,80% de rendimento), pode passar a contar com um salário razoável e extra que, a depender de sua situação aos 55, vai te permitir inclusive deixar de trabalhar.

Não existe caminho fácil

Convém dizer por uma terceira vez, para que realmente não exista enganos por aqui: não se trata de uma missão fácil, envolve ter um compromisso consigo mesmo ao longo do tempo. Trata-se de guardar recursos para seu eu do futuro e ouvir muito durante o caminho que “isso é besteira, pois você nunca sabe o dia de amanhã”. A parte paradoxal é que, no fim das contas, não saber como será o dia de amanhã deveria ser o maior estímulo possível para que você se prepare hoje, financeiramente, fisicamente e emocionalmente.

Essa lição, de todas as que o livro apresenta, é uma das mais difíceis de seguir. Porque você, se ainda não tem patrimônio, tende a acreditar que nunca acumulará tal montante inimaginável. Pode ter certeza, basta consultar alguém que acumulou patrimônio por toda a vida para descobrir como vale a pena dar valor àquilo que se construiu. Uma grande crítica sobre a educação financeira recai justamente sobre esse ponto: os educadores financeiros estariam imaginando um mundo colorido em que todos seriam racionais e capazes de seguir normas e mudar suas realidades.

Realmente, não são todos os indivíduos que decidirão por poupar recursos para o futuro, nem serão todos que optarão por pensar sobre o futuro. Na verdade, pouquíssimos entre os que acompanham o Terraço Econômico tomarão alguma decisão mesmo. Porém, se você que estiver lendo fizer parte do grupo dos que tomarão alguma decisão, independente do ponto que você estiver em termos de patrimônio agora: começando ou já finalizando seu planejamento, lembre-se que viver dos rendimentos é muito mais adequado do que reduzir o capital acumulado após chegar onde você desejava. Subir a enorme escada dos investimentos pode ser complicado, mas descer dela pode ser muito mais rápido e certamente uma decepção.

 

Publicado no Terraço Econômico em 20/11/2019

Ambiente de negócios: de onde virá o real crescimento sustentável

Nos últimos anos temos caminhado rumo a mudanças econômicas consideráveis, as maiores desde a redemocratização. Discutimos um limite aos gastos do Estado, uma adequação ao sistema previdenciário e estamos prestes a discutir mudanças sobre o ambiente de negócios. Este último aspecto pode, sem exageros, mudar a cara da economia brasileira para as próximas gerações.

Segundo o Doing Business, que é uma pesquisa realizada pelo Banco Mundial em cerca de 200 países para levantar as facilidades e dificuldades do ambiente de negócios, não estamos na segunda centena de países. Em alguns aspectos, como o que envolve o pagamento de impostos, estamos entre os últimos dez colocados. Em outras palavras: realmente o ambiente de negócios no Brasil é inóspito.

Existem atualmente duas possibilidades bastante positivas para mudar esse cenário e permitir uma melhoria considerável desta situação: uma reforma tributária e a chamada medida provisória da liberdade econômica.

A primeira possibilidade atualmente se divide em dois modelos diferentes: termos um imposto único a ser cobrado a cada transação bancária efetuada (proposta encabeçada por Marcos Cintra, secretário da Receita Federal) ou então um imposto sobre valor agregado (há pelo menos duas propostas, sendo uma delas capitaneada pelo economista do Centro de Cidadania Fiscal, Bernard Appy). Na visão deste que vos escreve, embora os dois modelos promovam uma facilitação no processo de pagar impostos, os impostos únicos são soluções simples para problemas complexos – e têm efeitos adversos que fazem a ideia não ser positiva no final das contas – e, enquanto isso, impostos sobre valor agregado podem adequar o país às melhores práticas internacionais.

Já a segunda está mais disponível e sua aprovação está sendo discutida. Tal medida provisória reduz uma quantidade de burocracias atualmente existente a empresas de pequeno porte – que representam, na prática, 99% de todas as empresas, segundo o Sebrae. Exigência de alvará para pequenos negócios e startups que não ofereçam perigo à saúde ou à segurança pública, por exemplo, deixará de existir. Para quem empreende, não há dificuldade de se entender o quanto reduzir burocracia no dia a dia é benéfico para a produtividade – dado que, dessa forma, tempo que seria perdido em processos não produtivos agora poderá ser utilizado em novas formas de otimizar o negócio.

Segundo o mais recente Doing Business, no Brasil as empresas passam cerca de 2000 horas e aproximadamente R$60 bilhões por ano lidando com burocracias. Reduzir esse tempo e essa imensa quantidade de recursos gastos tem um enorme potencial de crescimento para nossa economia. E, diferentemente do que vimos nos últimos ciclos de impulsionamento econômico, seria agora com sustentabilidade ao longo do tempo.

Publicado na Revista da ACIF Franca, edição especial de 75 anos da entidade, página 94

DECISÃO NÃO INTUITIVA: SACAR OU NÃO O FGTS?

Temos, a partir de determinação do atual Ministério da Economia, a possibilidade de sacar recursos do FGTS novamente. Da vez mais recente em que isso ocorreu, no governo Temer, era possível sacar todo o valor contido em contas inativas. Agora são duas as possibilidades: de realizar o saque de R$500,00 por conta inativa ou ativa – há possibilidade, por Medida Provisória, que o valor passe a ser de R$998,00 -, que é o chamado saque imediato, ou fazer um saque proporcional ao saldo uma vez ao ano mas com certos condicionantes, que é o chamado saque aniversário. Na outra vez, a escolha estava entre sacar os recursos ou deixá-los com o rendimento pífio fornecido pelo gestor do mesmo (o governo). Agora, há condições que tornam não tão óbvia a escolha.

Causa de uma certa desilusão neste ano, o FGTS agora se põe no centro de uma dúvida. Vale a pena ou não sacá-lo? É importante observar as novas regras para então decidir. Dentre elas, a que mais deve impactar nessa decisão é: caso opte por fazer o chamado saque imediato (nos próximos períodos, com valor máximo por conta inativa ou ativa), o valor limite de R$500,00 (ou R$998,00 com a MP) só pode ser retirado nesta vez e, se a opção for pelo saque aniversário (fazendo isso nos meses próximos ao mês de seu aniversário), embora um valor proporcional possa ser sacado todos os anos, em caso de demissão apenas a multa de 40% poderá ser sacada, não mais o saldo todo como anteriormente – sendo que este valor restante só poderá ser sacado em condições específicas.

SACAR OU NÃO SACAR?

No fundo, vai depender da sua disponibilidade de dinheiro em curto prazo ao longo do tempo.

Parece confuso, mas não é tanto assim. De olho em seu saldo de FGTS acumulado – aquele que você recebe de tempos em tempos pelos correios – e em seus rendimentos mensais, se faça a seguinte pergunta: caso eu seja demitido hoje, precisarei de todo esse recurso disponível ou é mais razoável que eu o tenha disponível em parcelas a cada ano?

Numericamente, pense em dois exemplos para tentar encaixar sua realidade. Imagine que seus rendimentos sejam, líquidos, de R$2.500,00 por mês e que seu saldo de FGTS seja de R$6.000,00. Caso você opte pelo saque aniversário, em um dos meses seu rendimento passará a ser de R$3.100,00 líquidos (pois, segundo a tabela da Caixa, nessa faixa de saldo residual é possível que sejam sacados 20% dele, R$600,00, no caso, 24% acima do que você costuma receber), mas, em caso de demissão com o saldo nesse mesmo montante, no lugar de receber R$8.400,00 (o saldo somado a multa de 40% do mesmo), receberá apenas R$2.400,00.

Agora imagine que seus rendimentos líquidos sejam de R$6.500,00, com um saldo de R$10.000,00, que você opte pelo saque imediato e tenha apenas essa conta disponível, ainda ativa. Neste caso, no mês do saque (que se limita a R$500,00 por conta), seus rendimentos líquidos serão de R$7000,00 (7,7% a mais) e, apesar de manter as condições anteriores para o saldo que lá restar (em caso de demissão você recebe o estoque somado a multa de 40%), não haverá outra oportunidade para fazer esse saque, a não ser que você preencha os requisitos das outras condições para isso.

No fim das contas, tudo se resume a colocar na balança os dois lados dessa questão: com seus rendimentos líquidos atuais, seria mais interessante ter um acréscimo de valor todos os anos em algum dos meses e em caso de demissão poder sacar apenas o valor da multa, pegar os recursos uma vez só ou deixá-los lá e ter um saldo maior a ser sacado em caso de ser demitido?

Apesar dos exemplos numéricos e da “balança”, se ainda assim a escolha ainda estiver pouco intuitiva, aqui vai uma sugestão: caso você tenha rendimentos líquidos mensais que lhe permitam ter uma vida razoavelmente confortável e, na atual situação, você possuir uma reserva de emergências e eventualmente investimentos que lhe auxiliem nesse aspecto, aproveite para sacar estes recursos e complementar seu bem estar ou seus investimentos; porém, caso sua situação seja de ter esses rendimentos apenas capazes de cobrir suas despesas mensais com pouca ou nenhuma sobra de caixa todos os meses (e não exista reserva de emergência ou outros recursos que possam ampliar sua liquidez em casos extraordinários), deixe para ter acesso a esses recursos apenas nas situações específicas em que a Caixa determina.

A sugestão acima se baseia na seguinte observação: se você já tem outros recursos em certa disponibilidade, conseguirá aproveitar os saques anuais para complementá-los e, em caso de demissão, terá certo montante que poderá absorver a situação de curto prazo. Já na situação em que você não tem outros recursos além dos rendimentos mensais para suprir eventuais momentos de desequilíbrio financeiro (como uma demissão), farão mais falta os recursos advindos do FGTS, seja ele com a multa de 40% ou apenas a multa.

Situação ideal que gostaríamos de ver nossos leitores é justamente a de estarem em possibilidade de sacar seus recursos disponíveis no FGTS a cada período, sem necessária preocupação com valores a serem recebidos em caso de demissão. Mas, caso você ainda não tenha disponibilidade suficiente para custear pelo menos alguns meses de seus gastos em caso de demissão (a famigerada reserva de emergências), pense bem antes de abraçar a supostamente óbvia escolha de sacar os recursos – ainda que, como no exemplo numérico deste artigo, eles possam significar um considerável aumento de rendimentos líquidos em um dos meses do ano.

É possível que você, leitor, discorde dos apontamentos numéricos levantados neste artigo. Não há problema nisso, afinal, os recursos lá disponíveis são seus, não deste que aqui está escrevendo. Ainda assim, fazemos um apelo: reflita, mesmo que rapidamente, sobre a balança que apresentamos aqui. Não deixe que a disponibilidade de recursos no curto prazo possa te prejudicar em caso de uma inesperada demissão – ou, caso estiver na situação mais confortável, não deixe de aproveitar para ter um recurso adicional para contribuir em seu bem estar ou em sua árdua caminhada rumo à independência financeira.

Cada caso é um caso, há sempre o que analisar. Que todos os nossos leitores tomem a melhor decisão para seus respectivos saldos de FGTS!

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 18/11/2019

DÓLAR: O “NOVO NORMAL” É R$4,00?

A data de descobrimento do Brasil é o ano de 1500 (mais corretamente, 1492). Porém, temos algumas datas que representam mudanças de paradigmas quase análogas ao momento em que “nascemos” como país. Em termos de economia, da possibilidade real que se passou a ter de planejar o valor do dinheiro, essa data é o ano de 1994. O Plano Real, sem exageros, representou uma guinada sobre o problema que se pensava ser eterno em nosso país: a inflação.

Logo de sua criação, dentre outros mecanismos utilizados para demonstrar que agora o plano ia mesmo dar certo, surgiu a equiparação ao valor do dólar. Durante um tempo considerável, (entre 1994 e 1999) nossa recente moeda valia um dólar ou até menos, sendo que a ideia era a de manter a estabilização do que acabava de ser criado sem efeitos inflacionários.

Como em economia nunca há almoço grátis, temos que esse paraíso do dólar custou em juros. Os dois mecanismos, apesar de diferentes, podem se interligar quando o câmbio é fixo: o fluxo de entrada e saída é estimulado ou contraído não apenas com base na compra e venda de dólares, mas também da atratividade gerada ao capital advinda das altas taxas de juros nominais (e dos juros reais altos). No fim das contas, chegamos a ter, em março de 1999, taxa Selic de 45% ao ano.

Vendo não ser possível mais segurar as variações do câmbio, e diante de um processo complexo de crise em países emergentes no final dos anos 1990, decidimos que o câmbio por aqui poderia variar. Inicialmente havia sério temor de que o efeito inflacionário faria a moeda desabar (afinal, menos de cinco anos antes a situação era abarrotada de planos malsucedidos justamente por não fazerem sua parte contra a inflação). Ainda que aos solavancos, não foi o que aconteceu, felizmente.

Porém, nessa virada de século se estabeleceu algo importante. Em 04 de maio de 2000, outro marco importante: a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000) surge para determinar que há limite de endividamento para a máquina pública. Com essa mudança, junto vem uma discussão que se formulava desde poucos anos antes: era preciso que o país respeitasse o chamado Tripé Macroeconômico.

Expressão muito falada principalmente em tempos de instabilidade – quando se pensa que deixará de existir -, o Tripé Macroeconômico se baseia no seguinte: o câmbio deve ser livre, a inflação deve ter metas e deve haver superávit primário para demonstrar que o lado fiscal está comportado. Não é uma mágica, mas essa estrutura permite de vez que a economia deixe de se preocupar com sua própria estabilidade e passe a focar em desenvolver-se e crescer.

Não muito tempo após esse “tratado de estabilidade”, veio o ano de 2002 e o “efeito Lula”. Alguém que, dizia-se, tinha real capacidade de implodir tudo aquilo que havia sido conquistado com sangue, suor e lágrimas, estava para sentar na cadeira mais poderosa do país. Sorte a nossa, como país, que ele se comprometeu a não fazer isso (na famigerada Carta ao Povo Brasileiro). Foi eleito, cumpriu sua palavra neste aspecto e a economia apresentou evolução interessante. Importante notar que, quando de sua eleição, o dólar superou a temida barreira dos R$4,00.

Políticas econômicas acertadas – ao menos durante a Era Palocci no Ministério da Fazenda – fizeram a dívida pública se reduzir (afinal, havia superávit fiscal considerável todo ano), a inflação não se descontrolar mais e, juntamente ao fluxo imenso de capital que vinha do crescimento superlativo da China (do qual somos até hoje grande fornecedor), vinha um dólar que sinalizava que tínhamos chegado no pote de ouro no fim do arco-íris. Durante muitos anos era possível imaginar que nossa cotação da moeda yankee não superaria os R$2,00.

Lula sai com popularidade e com um histórico razoavelmente positivo de políticas econômicas executadas; teve de “virar a mão” em 2008, como muitos países do mundo, para absorver o choque forte da crise internacional e, supostamente, Dilma, que entraria em 2011, seria a responsável por parar a máquina de gastos em que se transformou o país.

Avançamos um pouco no tempo, estamos em 2014. Ano eleitoral. Vendia-se um país “sem problemas” pelo governo que lá estava e “com necessidade de reformas estruturais” por quem queria chegar a ele pela via eleitoral. Aqui, falamos do dólar, então é impossível não lembrar da bravata de Guido Mantega sobre a cotação: “Vai quebrar a cara quem apostar na alta do dólar”. Parece que foi a senha para que a moeda fizesse uma escalada impressionante. A moeda, que há tempos não superava R$2,50, rompeu a barreira dos R$3,00 e parecia não parar mais de subir. Entre janeiro e fevereiro de 2016, no auge das movimentações do impeachment, que se consumou mais adiante, o dólar novamente supera a barreira dos R$4,00.

Durante o período de Temer, mesmo enquanto as expectativas eram positivas e seu governo não lutava diuturnamente para não cair, o dólar jamais esteve abaixo de R$3,00 – e, em decorrência da turbulência eleitoral, em seu último ano, entre agosto e setembro, viu novamente a marca temida de R$4,00 ser superada.

Agora, com Bolsonaro, no câmbio tivemos um recorde. Todos os 51 fechamentos diários entre 16/08/2019 e 28/10/2019 ficaram acima de R$4,00 (apenas o deste último dia fixou abaixo, em R$3,99). E, mesmo após ter fechado essa sequência, não deixou de abraçar essa faixa ou mesmo superá-la diariamente. Seria então a anteriormente temida marca de R$4,00 o “novo normal” para o câmbio do dólar?

PARA ONDE VAI O DÓLAR?

A pergunta “para onde vai o dólar” é perigosa e induz a erro, principalmente quando falamos de previsões que vão até as quatro casas após a vírgula. Porém, no contexto geral, é possível que temos de lidar com esse “novo normal”. Isso acontece em decorrência de um contexto novo que o Brasil passa, em que a taxa de juros consegue ser reduzida com mais sustentabilidade (enquanto você lê este texto estamos com Selic meta de 5% e ela deve encerrar o ano em 4,5%, algo inédito em termos nominais), se foca em ajustar o lado fiscal (previdência já aprovada e outros direcionamentos em constante discussão) e, aparentemente, esse dólar nas alturas não oferece o mesmo perigo inflacionário de antigamente.

Outro ponto que coloca panos quentes sobre a preocupação com o valor da moeda do Tio Sam é a expectativa – por vezes ilusória, dado que ocorre desde 2017 – de que haverá uma grande entrada de capitais externos no país quando algum grande evento de ajuste ocorrer. Dizia-se que esse grande evento era a saída de Dilma Rousseff, depois a aprovação da reforma da previdência ou mesmo uma grande reestruturação do Estado brasileiro.

De fato há um conjunto robusto de reformas em discussão, mas é preciso notar que nosso lado fiscal segue bastante insustentável – ainda neste ano discutimos se a Regra de Ouro (emissão de títulos de dívida para pagamento de despesas correntes) precisaria continuar a valer, ou se o Teto de Gastos não poderia ser flexibilizado – e que, aos que estão se esquecendo, a dificuldade de articulação política para aprovação de medidas segue sendo “Nível Brasil”, não há nada de “jogo ganho” neste país que ainda é o paraíso dos grupos de interesse estabelecidos há décadas.

Parece que superar a marca temida de R$4,00 já não é mais tão assustador assim. Em todo caso, é no mínimo curioso que a marca que significava até muito pouco tempo atrás “liguem todos os alertas porque agora a coisa complicou” tenha virado, possivelmente, o “novo normal”. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 11/11/2019

BLACK NOVEMBER, WEEK OU FRIDAY: CUIDADO!

Entramos em um mês que, de alguns anos pra cá, se tornou a época de uma oportunidade a mais de descontos no comércio. A data de Black Friday, iniciada nos anos 1990 nos EUA e popularizada nos anos 2000, chegou no Brasil no início dos anos 2010, já virou mania por aqui.

Dentre as diferenças entre a versão do Tio Sam e a que temos por aqui, a primeira é que nos EUA essa data constitui-se em um dos principais eventos do comércio, enquanto que por aqui tem aumentado em importância, mas ainda estando distante de datas como dia das mães, dia dos namorados e natal. Outra diferença é o que nos motiva a escrever esse artigo.

Nos EUA, a data é única. Trata-se de um dia em que o objetivo é de esvaziar os estoques acumulados no ano para que as lojas passem a se preparar, com produtos novos, para as compras de natal. Por aqui, também começou com um dia, em algumas lojas (físicas e eletrônicas) tornaram-se a ser uma semana e, em alguns casos, até o mês todo.

A data brasileira que se estica a cada ano mostra a tentativa, que coincide com a atual lenta recuperação econômica observada, de movimentar o comércio por aqui. Não parece ser coincidência que essa data virou semana e depois mês de 2016 até agora. O comércio faz um esforço intenso para sair do marasmo – e, às vezes, isso ocorre com incentivo do governo (como na Semana do Brasil, nas proximidades do 7 de Setembro, iniciada em 2019).

Na prática, o que ocorre com o esticar desse período especial de promoções não é difícil de entender: a chuva de comerciais que tentam te mostrar que é hora de trocar basicamente tudo que você tem é ainda mais intensa. Se a Black Friday, sendo um dia, já é um belo incentivo para que você adquira algo que não precisa, imagine o que ocorre quando um mês todo passa a ser dedicado a essa causa comercial.

COMPRAR OU NÃO NA BLACK FRIDAY?

Primeiramente, a dica que pode ser dada é: pense sobre as necessidades (ou não) de fazer aquisições, independente da época. É possível que você realmente esteja precisando (ou mesmo desejando) adquirir algo e, na prática, essa pode ser mesmo uma boa oportunidade para fazer tal aquisição. Acompanhe os preços por plataformas de comparações ao longo do tempo para ver se as oportunidades são reais.

Em segundo lugar, não se deixe seduzir por grandes oportunidades que surgem “do nada”. Não há almoço grátis, como já se sabe da clássica frase dos economistas: uma grande oportunidade pode virar um item desnecessário a mais em sua casa (e dinheiro a menos em seu bolso).

Por último, mas não menos importante: além de realizar desembolsos, busque também oportunidades de investimentos nessa época. Explicamos: assim como muitas lojas te oferecem oportunidades para gastar, temos hoje muitas casas de investimento abaixando os valores de entrada para investir. Com a Selic nos níveis atuais, trata-se de um nobre “unir o útil ao agradável”; aproveite tais oportunidades. Na Guide, durante todo o mês de novembro, por exemplo, todos os fundos de previdência da Icatu (cerca de 60) estão com os mínimos a R$1.000,00 ou aportes mensais de R$100,00. E ainda tem mais oportunidade para aparecer.

Em suma, esteja consciente do que lhe é oferecido e não caia em oportunidades boas apenas para quem oferece. Dado que era apenas um dia, virou semana e agora mês, quanto mais consciente você estiver, menos agora e nos próximos anos você cairá em armadilhas.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 04/11/2019