BLACK FRIDAY BRASILEIRA: A ACEITAÇÃO AOS POUCOS ACONTECE

Não é difícil verificar como diversos hábitos brasileiros acabam sendo importados de outros lugares. Do Natal com bonecos de neve em pleno verão ao Halloween que ainda espanta muitos ao ouvir “doces ou travessuras? ”, no encerramento de outubro, já vimos muitos hábitos estrangeiros sendo adotados aqui. Um dos mais recentes é a Black Friday.

Há diferentes versões para a origem desta data, mas a mais aceita remonta aos anos 1960 na região da Filadélfia, nos Estados Unidos. Aproveitando para fazer compras após o feriado de Ação de Graças, quando os preços caíam (já que a tradicional troca de presentes por lá ocorre antes dessa data), os lojistas tinham uma oportunidade de sair do “vermelho” e voltar ao “preto” com o aumento nas vendas.

A tradição foi importada ao Brasil em 2010, estando majoritariamente presente no e-commerce nacional desde então. Quanto ao Natal já se sabe que “pegou”; o Halloweenainda caminha e não pudemos chegar a alguma conclusão do tipo; e a Black Friday? Para isso é válido olharmos os dados:

Segundo os dados da E-bit, que faz levantamentos sobre o e-commerce brasileiro, a evolução é impressionante. De um evento importado e de pouca importância, hoje temos na Black Friday um dos pontos relevantes ao comércio eletrônico no país.

Essa evolução ocorre apesar dos apelidos de má-fama que pegaram no evento, como “Black Fraude”, vindos esses de uma prática infelizmente comum nos primeiros anos de, nas proximidades da data, os preços serem aumentados para, logo em seguida, serem anunciados como “grandes promoções”. Ferramentas de monitoramento de preços como o Zoom e o Buscapé auxiliam cada vez mais o consumidor na missão de descobrir os reais descontos.

A melhor recomendação segue sendo a de observar os preços por um tempo e a real necessidade de adquirir bens ou não com os descontos dessa época antes de gastar seu dinheiro – ou, melhor ainda, de aproveitar ofertas de investimentos em vez de gastar. Mas é inevitável admitir que, sim, a Black Friday é algo que parece ter vindo para ficar em nosso país.

E não se esqueça! A Black Friday da Guide vai até o final de novembro. Participe!

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em novembro de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (26/11/2018): https://blog.guide.com.br/textos/black-friday-brasileira-a-aceitacao-aos-poucos-acontece/

BREXIT: COMPLEXO MESMO SE NÃO SE CONCRETIZAR

Dentro do pacote de eventos que indicam que o mundo será mais nacionalista nas próximas décadas, tivemos o Brexit. Colocado como plebiscito em 2016, a saída da Grã-Bretanha do bloco da União Europeia foi aprovada pela população, mas, até os dias atuais, seguem em aberto os pontos práticos do que essa saída significaria.

A saída indicada em plebiscito de 2016 teve uma série de motivos, dentre os quais podemos citar o desejo de maior autonomia em decisões orçamentárias, o peso das decisões econômicas sobre o bloco, questões diversas relacionadas a imigração e também dificuldades no relacionamento entre as partes desde o início (tendo sido necessários alguns anos de discussão para que a entrada na Comissão Europeia ocorresse de fato, nos anos 1970).

As previsões a respeito dessa saída variam entre a possibilidade de um maior crescimento da economia com essa independência maior e a redução de possibilidades econômicas devido a maior complexidade de regras (e barreiras tarifárias). Qualquer que seja o caso, os efeitos práticos só serão observados a partir do momento em que um acordo virar prática.

O acordo apresentado até então pela premiê Theresa May é considerado total, direto e capaz de causar fricções entre as partes. Isso porque, segundo ela, a população deu seu recado sobre querer essa saída aprovada.

Oficialmente, a saída se dará em 29 de março de 2019. Até esta data, é preciso que ocorra – sob a pena de que o comércio literalmente trave – um acerto para definição de regras a serem respeitadas mutuamente. Cada uma das duas partes com suas definições próprias, mas com regras em comum para que o comércio ocorra. Há, dentro do plano atualmente proposto, a ideia de que a cada seis meses os conselhos da Grã-Bretanha e da União Europeia se reúnam para discutir os avanços observados.

A não definição dos termos de acordo pode deixar uma janela aberta sobre a eficácia de uma mudança tão grande para a própria Grã-Bretanha. Tal janela está se refletindo, por exemplo, na saída de pessoas do Reino Unido (a maior em uma década) e até influenciando que pessoas estoquem alimentos para o caso de um não-acordo acabar sendo a realidade ao final do primeiro trimestre de 2019. Segundo o FMI, a economia do Reino Unido irá encolher neste caso.

Trata-se de uma questão ampla e altamente relacionada com o sentimento nacional de proteção que busca reverter a queda de barreiras (em termos de transações e migrações) que ocorre em boa parte do mundo hoje em dia.

Com algum acordo mais suave, com este acordo proposto ou com nenhum acordo, a complexidade de uma mudança como essas vai além do pedido de maior autonomia interna e menor necessidade de ajuda a outros membros. Tem muito a ver, no fim das contas, com o meio com o qual os países podem ou não se ajudar em futuros eventos de crise econômica.

Brexit abre uma possibilidade concreta de deixar o mundo todo mais caro, mais complexo e menos partidário de um comércio livre – fenômenos estes fortemente observados dos anos 1990 até o meio da década atual, que começam aos poucos a serem revertidos.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em novembro de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (22/11/2018): https://blog.guide.com.br/textos/brexit-complexo-mesmo-se-nao-se-concretizar/

PETRÓLEO E PETROBRAS EM QUEDA, COMBUSTÍVEIS TAMBÉM

Os preços internacionais do petróleo têm observado quedas constantes nos últimos tempos. Ontem, dia 13/11, representou o décimo segundo dia seguido de queda. Tal período de baixa não ocorre desde os anos 1980.

Esse resultado ocorre por uma questão de produção da commodity: os EUA aumentaram sua produção, superando hoje a marca de 11,5 milhões de barris extraídos por dia. Mesmo a demanda em um de seus valores máximos históricos e com uma redução de produção anunciada pela OPEP em cerca de 0,5 milhão de barris por dia para dezembro, o preço segue caindo.

Com os efeitos dessa redução de oferta ainda não sendo sentidos e o preço então caindo (tanto Brent quanto WTI estão em seus valores mais baixos dos últimos 12 meses), podemos observar também a queda de valor das empresas que produzem, beneficiam e negociam o petróleo. Petrobras, por exemplo, vê suas ações perderem valor, mas agora por um motivo óbvio: seu produto principal está perdendo valor.

É importante frisar que este motivo é óbvio porque, em tempos de congelamento virtual de preços, graças ao subsídio necessário para manter o preço estável quando o petróleo tinha seu barril negociado a preços bastante altos (acima de US$110 por barril), assim que este observou vertiginosa queda (chegando a ficar nas proximidades de US$30 por barril) tivemos de manter o preço para, fazendo caixa, reduzir a dívida gerada a Petrobras por este motivo.

Por falar em preços, outra coisa que há um bom tempo não se via no Brasil deve voltar a acontecer em breve: a Petrobras já repassou às refinarias reduções no preço e, continuando essa queda, se já não se puderem ser observados, muito em breve veremos preços menores nas bombas de combustível. E, importante notar, pelo motivo correto de redução de preços, não por alguma canetada burocrática.

Os fenômenos de oferta e demanda costumam apenas serem defendidos no Brasil quando significam que os preços irão para baixo. É difícil achar algum defensor de congelamento de preços quando estes começam a cair. Porém, não se pode perder de vista que a possibilidade para queda de preços só ocorre quando se permite que eles também subam. Sem permitir oscilação, voltam à tona os caros subsídios que acabam sendo pagos por todos no fim das contas.

Petróleo caindo, ações da Petrobras seguindo este ritmo e, em breve, preços dos combustíveis também. Possivelmente isso deve aliviar a pressão sobre a política de preços da Petrobras (que deve passar de “malévola” para “uma boa ideia” segundo a opinião pública a depender da continuação dessa queda de preços) – e também a pressão sobre o governo de Bolsonaro, que terá de decidir sobre a continuidade dos subsídios ou fim deles ao diesel a partir do primeiro dia de 2019.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em novembro de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (14/11/2018): https://blog.guide.com.br/textos/petroleo-e-petrobras-em-queda-combustiveis-tambem/

2019: o ano em que “mudar isso daí” vira realidade (ou não)

Após um período eleitoral sui generis, com direito a atentado, campanha sendo levada basicamente por redes sociais e ausência de debates no segundo turno, chegamos ao Presidente Bolsonaro, eleito com pouco menos de 58 milhões votos. A esperança de muitos, desconfiança de outros mais, a partir de primeiro de janeiro de 2019, presidência de todos.

Liderado pelo sentimento de mudança (e pelo antipetismo), Jair Bolsonaro conseguiu o impressionante feito de, sem um grande partido, sem tempo de TV, sem recursos enormes do fundo partidário, sem ter feito campanha ativa e sem ter anunciado um plano com profundidade, conseguir ser eleito presidente do Brasil.

Agora a questão não se dá mais sobre quem deveria ocupar o cargo mais alto do executivo e os porquês disso, mas sim sobre o que aquele que irá ocupá-lo fará em termos práticos.

A empolgação no curto prazo é notável: bolsa de valores superando recordes nominais, investimentos que aguardavam desde meados de 2014 começam a ser anunciados, expectativa de juros começa a diminuir na ponta futura. Tal animação advém do fato de que o PT, cujo plano era economicamente destrutivo (um verdadeiro emulador do primeiro mandato de Dilma, o que poderia ser chamado facilmente de Plano “Agora Vai”), não ter vencido o pleito. Isso já basta para o mercado respirar aliviado.

Esquece-se (seletivamente, talvez) que o plano elaborado pela equipe de Bolsonaro não é de uma riqueza de detalhes que chame a atenção. Não que isso seja novidade, já que a maioria dos programas de governo dos treze candidatos era razoavelmente vaga. Mas, de novo, para não nos perdermos: aqui falamos daquele que ganhou, que irá assumir o posto no primeiro dia de 2019.

Uma das expressões mais ditas – e até imitadas – do presidente eleito é “tem que mudar isso daí”. Tal fala enche de esperança muitos dos que decidiram depositar sua confiança por meio do voto nele. Se pararmos para pensar, realmente o Brasil tem muitas coisas que poderiam ser alteradas para que fosse possível termos vidas melhores: a burocracia poderia ser menor, o peso e a interferência do Estado, o retorno de nossos impostos poderia ser mais perceptível, a violência poderia ser muito menor, a educação melhor, etc. Nisso, estou de acordo com o Bolsonaro. Porém, o que será que significa em termos práticos esse “mudar isso daí?”.

O país vive uma grave crise fiscal que já dura mais da metade desta década. Se isso for mantido, a corda orçamentária logo arrebentará. Isso não é novidade para quem acompanha a economia brasileira e o drama de quem, como já ocorre em estados como MG, RJ ou RS, nos quais os servidores recebem até o salário parcelado porque não há recurso suficiente para o tamanho dos gastos. Este parece ser um dos pontos principais de mudança que devem ser enfrentados, uma vez que, com o orçamento público apertado, o poder de atuação do Estado acaba também se limitando – no caso, o orçamento está cada vez mais direcionado ao pagamento de aposentadorias e menos a todas as outras áreas.

Sim, ainda há muito a se anunciar e a transição entre Temer e Bolsonaro ainda precisa avançar bastante para que o plano de mudanças possa ser enfim encaminhado para a realidade. Porém, com anúncios hoje muito mais focados no objetivo do que nos aspectos que práticos de como isso ocorreria (como esse, de Paulo Guedes, afirmando que o Brasil sairá do déficit fiscal em apenas um ano, o que parece improvável), é preciso que se mantenha os pés no chão quando tratamos do futuro do país.

Não, não está tudo resolvido só porque o PT não foi eleito. A situação é muito complicada e demanda esforços reais muito maiores do que os empenhados em discursos inflamados e frases feitas. O corporativismo brasileiro (empresarial e político) ainda é forte demais para que pensemos que o liberalismo econômico terá passagem livre.

E, por mais que alguns possam discordar veementemente, há sim uma chance real de que “mudar isso daí” seja mais uma das soluções fáceis, rápidas e quase sempre ineficientes que o brasileiro tanto ama declarar apoio.

Acompanhemos os próximos capítulos, mas tenhamos certeza de que o ano que vem será um belo indicativo de tudo que ocorrerá nos próximos quatro anos – se será mais do mesmo (o que resultará em grande decepção) ou se veremos mudanças positivas que impactarão as próximas gerações, como todos nós esperamos.

Publicações deste artigo, que foi escrito em novembro de 2018:

– Terraço Econômico (07/11/2018): http://terracoeconomico.com.br/2019-o-ano-em-que-mudar-isso-dai-vira-realidade-ou-nao

– Investing.com Brasil (08/11/2018): https://br.investing.com/analysis/2019-o-ano-em-que-mudar-isso-dai-vira-realidade-ou-nao-200223632

Tem que mudar isso aí (depois voltar isso aí)! Terraço em Quinze Minutos #56

Nesta edição, Lucas Goldstein, Caio Augusto, Daniele Chiavenato e Renata Kotscho Velloso abordam os temas:

Democratas retomam o controle da câmara nos EUA
Ministro Guardia sem papas na língua no Roda Viva
Falta muito: Brasil entre os 100 melhores do mundo no relatório Doing Business, do Banco Mundial
Vai e volta: Bolsonaro fraqueja mais que Ronaldinho na final de 98
Jogada arriscada: Moro deixa Lava Jato e é o novo ministro da justiça

Impactos pontuais e desdobramentos da paralisação dos caminhoneiros

Iniciada no dia 21 de maio e finalizada entre o final deste mesmo mês e junho, a greve dos caminhoneiros mostrou ao país o que significa sermos dependentes do modal rodoviário.

 

Confira o artigo na íntegra na Revista da Associação do Comércio e Indústria de Franca (página 14, edição número 266).

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em setembro de 2018:

– Revista da ACIF Franca (Mês 10-2018): http://www.acifranca.com.br/SITE/edicao/acif-em-revista-edicao266.html

REFORMA DA PREVIDÊNCIA: VOTAR A QUE ESTÁ LÁ OU PAUTAR UMA NOVA?

A questão mais destacada do próximo governo é o encaminhamento da questão fiscal. Os gastos do governo superaram as receitas pela maior parte da atual década e, segundo previsões realistas, isso só deve mudar após a virada para a próxima década. Dentro da questão fiscal, um dos itens mais importantes – se não o mais relevante – é a reforma da previdência.

Embora tenha sido sinalizada como prioridade pela equipe econômica de Jair Bolsonaro, antes mesmo de angariar esforços para sua aprovação, será preciso tomar uma decisão importante: votar a proposta já em tramitação ou apresentar uma nova.

Essa decisão pode impactar sensivelmente os próximos anos do governo de Bolsonaro.

A atual reforma, capitaneada pela equipe econômica de Temer, inicialmente apresentaria uma economia de 800 bilhões de reais ao longo das próximas décadas, mas, após a passagem por comissões diversas e a reversão de praticamente metade dessa economia, acabou não sendo votada basicamente porque os esforços do presidente se voltaram a manutenção de seu mandato após o fatídico Joesley Day, em maio de 2017.

Caso a proposta atual não seja votada, o assunto não será deixado de lado: uma nova proposta será elaborada e seguirá o caminho legislativo para possível aprovação.

A proposta de Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central) e Paulo Tafner (especialista em Previdência) é uma ideia que surgiu mais recentemente. Sua diferença para a que atualmente está no Congresso para ser votada é o fato de que acelera o modelo de transição (entre a idade mínima que será proposta para o ano atual e o tempo que demorará para se chegar a idade mínima do futuro) e coloca na conta todos os setores, colocando regimes especiais para algumas categorias, mas não deixando nenhuma com o regime atual. Outra notável diferença: a economia para as próximas décadas seria de R$1,27 trilhão.

Numericamente, fica claro que uma reforma que, ao menos inicialmente propõe uma economia igual ao triplo da que temos atualmente, seria preferível. Porém, o fator político faz com que a escolha não seja tão óbvia assim: sendo a reforma previdenciária um dos fatores que mais indicarão a capacidade real de mudanças do governo Bolsonaro, é muito salutar que ela venha a ocorrer em 2019 (preferencialmente nos primeiros três trimestres do ano). Não se sabe qual o tempo que demoraria para uma nova reforma ser inteiramente discutida pelo Congresso, mas é provável que colocar para votação a reforma atual seja mais rápido.

Talvez será esta a primeira das escolhas complexas do governo de Bolsonaro: votar a reforma previdenciária existente (evitando que no fim reforma nenhuma seja aprovada) e futuramente discutir uma ampliação (com base em ideias como a de Fraga-Tafner) ainda em seu mandato ou queimar um pouco de seu atualmente forte capital político buscando uma reforma mais ampliada (e talvez não aprovar nada).

Importante frisar esta questão: algo precisa ser feito em relação ao desembolso do governo que mais puxa para baixo os resultados fiscais.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em novembro de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (05/11/2018): https://blog.guide.com.br/textos/reforma-da-previdencia-votar-a-que-esta-la-ou-pautar-uma-nova/

“A culpa não é minha, eu votei no Aécio” e a volta dos que não foram

Passados alguns dias da decisão em segundo turno que levou Jair Bolsonaro a se eleger como 38º presidente do Brasil, temos agora uma onda bastante parecida com a observada em 2014 quando Dilma Rousseff foi reeleita: quem não votou na chapa vitoriosa aderiu ao curioso movimento “A culpa não é minha, eu votei no Aécio”. Como somos o país oficial da memória curta, aos esquecidos, uma imagem para lembrar desse movimento segue abaixo:

Com a chegada de 2018, anos de ressaca político-econômica fizeram seu efeito sobre a mente do brasileiro. Estamos recém-saídos da maior crise em décadas, ocorrida no biênio 2015-2016 e, semana a semana, seguimos acompanhando a longeva Operação Lava Jato, com mais de 50 fases já efetuadas e um verdadeiro terremoto sobre as bases políticas tradicionais do país.

A “inocência” de não ter acompanhado ainda os efeitos de uma imensa investigação pode, ao menos em parte, justificar o “alívio” de alguns em não ter votado na chapa petista em 2014 e, supostamente, não ter tido culpa sobre a catástrofe econômica que se confirmou a seguir. Entretanto, mesmo esse não conhecimento não consegue justificar que alguém tenha responsabilidade ou deixe de ter em relação a uma eleição.

Por mais óbvio que pareça, em uma democracia como a brasileira leva o pleito aquele que tiver ao menos 50% + 1 dos votos válidos, seja em primeiro ou segundo turno. Este que vence, passa a governar para todos aqueles do universo eleitoral, não apenas para os que nele depositaram seu voto. Então: aqueles que votaram em Bolsonaro, aqueles que votaram branco, nulo ou que votaram na chapa de Haddad, ao final da apuração dos votos, escolheram em conjunto que Bolsonaro deveria governar.

“Não o aceito como presidente, não foi meu candidato.”

Em uma democracia, a escolha social é feita por essa maioria – não é questão de concordar ou não, mas de aceitar a democracia como ela é. Na prática, com exceção à eleições em que há margem considerável entre o candidato vencedor e o que perdeu, é uma questão de lógica que a proporção entre os que não aprovam o eleito e o aprovam possa ser próxima. No caso da eleição de 2018, então, isso fica ainda mais evidente, dado que os dois candidatos que chegaram ao segundo turno eram os dois com a maior rejeição entre os treze que disputavam.

Com poucos dias de confirmação de Bolsonaro como presidente, os fantasmas do “vou torcer pra dar errado porque não votei nele” ou “não o aceito como presidente” estão de volta. Más notícias para você que está falando ou pensando nisso: sim, ele é seu presidente e as decisões que ele vier a tomar, sejam elas boas ou ruins, valerão pra você como brasileiro. Igual ao que ocorreu com Dilma em 2014 e exatamente da mesma maneira que ocorreu e ocorrerá com todo presidente eleito em nossa democracia.


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Por enquanto, temos uma chuva de especulações sobre o que pode ser o governo de Jair Bolsonaro. Alguns nomes sendo indicados e esparsos planos – que sequer foram apresentados realmente em detalhes aos eleitores durante a campanha – começam a ser informados. No fim das contas, importarão mesmo as ações práticas a serem tomadas na transição de governo com Michel Temer e a partir de primeiro de janeiro de 2019 diretamente de Brasília.

Mesmo ainda na fase de especulações e pouco desenho do que será feito, já vemos retomado o discurso de que talvez tenhamos errado em escolher Bolsonaro como presidente – e, é claro, se não este artigo não estaria aqui, com uma boa dose de “e a culpa é sua que votou nele ou se absteve”.

Eis a realidade: pela primeira vez desde 1989 tivemos uma pulverização de candidatos com chance real de eleição. Lá, 22 chapas; aqui, 13. Tivemos sim muitas opções diferentes dos extremos representados por Bolsonaro e Haddad. Inclusive essas opções foram apresentadas em horário eleitoral e em diversos debates. Porém, a escolha feita por muitos foi a de “votar em um extremo para abolir as chances do outro”. Com essa ideia, não é surpreendente que tenhamos levado os dois extremos para o segundo turno e que, pasmem, um dos dois acabou sendo eleito.

Alguns retomarão o ponto de que somos uma jovem democracia, ainda aprendendo a fazer suas escolhas. Outros, que somos um país formado por pessoas facilmente levadas por movimento de manada eleitoral. Independente da vertente que você acredita, tenha em mente para as próximas eleições que o voto deve ser dado de olho no potencial que os candidatos podem oferecer, não na insana ideia de que “pelo menos com esse não teremos o outro”.

E, por mais duro que seja admitir, a culpa (troque por “responsabilidade”, se achar que alivia alguma coisa) de fazer essa escolha é de todos nós. Ou, melhor dizendo: toque os violinos como a orquestra do Titanic fez, mas veja que se o navio afundar, você estará junto.

Publicações deste artigo, que foi escrito em outubro de 2018:

– Terraço Econômico (01/11/2018): http://terracoeconomico.com.br/a-culpa-nao-e-minha-eu-votei-no-aecio-e-a-volta-dos-que-nao-foram?fbclid=IwAR0_lpqGana3bDqkxhcXKv7Mml3pI-z6o0DJgy1zughkQBw-ocw7iVwa4Ao

A INTERNET E AS ELEIÇÕES: UMA NOTÁVEL MUDANÇA

Alguns meses atrás, quando começavam a se desenhar e oficializar as chapas políticas para a eleição do cargo mais alto do poder executivo, os olhos dos analistas políticos procuravam saber ao máximo sobre as alianças que se desenhavam. Com essas alianças, muito mais do que apoio ideológico – que podemos questionar se existe de verdade no Brasil – vinha também orçamento no fundo partidário e tempo de televisão. O famigerado Centrão, amálgama que comanda o poder legislativo com partidos de menor calibre, era o alvo preferido.

No fim das contas, nas proximidades do fim do período de oficialização de campanhas, o Centrão acabou ficando com Geraldo Alckmin. Neste momento, uma das falas que, ex post, acabou se transformando na maior falácia do ano, veio à tona: “Alckmin pode não ter a força que esperamos hoje, mas basta começar a campanha na TV que a coisa muda”.

Pois é, a coisa mudou mesmo, mas de modo que poucos acreditavam que seria possível. As inserções começaram, o considerável tempo de TV passava e nada acontecia. Alckmin deixou a disputa no primeiro turno com menos de 5% dos votos válidos, Bolsonaro levou no segundo turno com 55%. O segundo candidato teve menos de dez segundos de tempo de televisão graças a sua aliança partidária reduzida a partidos nanicos.

Observamos em 2018 um fenômeno que deve entrar para os livros de história: a mudança do meio principal de atração, não só de interesse, como discussão política. Na época de Vargas, o rádio. Desde as eleições de 1989, a televisão. Hoje, a internet.

Pode-se discutir amplamente sobre as distorções que isso pode gerar nas informações espalhadas e a validade que elas tenham ou não, dado que o meio emissor de informações passa de “uma fonte principal em um horário determinado” para “fontes diversas e 24 horas por dia”, mas é inegável que, de forma contundente, podemos dizer que o meio pelo qual o brasileiro médio tem acesso a tópicos que o fazem decidir seu voto, mudou.

Em 1989 tivemos o emblemático caso de Ulysses Guimarães, que mesmo tendo o maior tempo de televisão e apoio de partidos acabou ficando em sétimo lugar na disputa geral. Porém, a situação se diferencia atualmente porque não havia outro meio de massa envolvido na questão e, com a televisão mesmo, foram difundidas as ideias de Collor e Lula, que foram ao segundo turno. O caso ficou inclusive conhecido como Maldição de Ulysses – se bem que, após essas eleições, podemos adicionar Alckmin a ela também.

Nas próximas eleições poderemos ter ou não confirmação deste fenômeno. Mas, se um candidato com menos de dez segundos de televisão conseguiu vencer a presidência basicamente movimentando sua campanha por atuação orgânica em redes sociais, não podemos deixar de esperar que ocorra continuidade deste novo meio.

 

Publicações deste artigo, que foi escrito em outubro de 2018:

– Blog da Guide Investimentos (31/10/2018): https://blog.guide.com.br/textos/bolsonaro-venceu-e-o-mercado-com-isso/

Bolsonaro presidente: Especial Terraço em TRINTA minutos #55

Momento histórico no Brasil!

Contrariando expectativas, Jair Bolsonaro é eleito presidente da república. Lucas Goldstein, Arthur Solow, Caio Augusto e Victor Cândido se reúnem para analisar, em um especial de trinta minutos, o segundo turno e os desafios da nova gestão.

E mais, a queda das livrarias: Saraiva anuncia fechamento de 20 lojas e Livraria Cultura entra em recuperação judicial