REFORMA DO ESTADO no Terraço em Quinze Minutos #137

Nesta edição, Caio Augusto acompanha Paulo André e Rachel de Sá com os seguintes temas: Governo Bolsonaro apresenta pacote econômico para reformar o Estado brasileiro ENEM 2019 desperta antigos debates sobre a economia Qual a lógica em reduzir o número de municípios brasileiros? Leia os artigos do Terraço Econômico em: terracoeconomico.com.br (https://gate.sc/?url=http%3A%2F%2Fwww.terracoeconomico.com.br&token=a074fb-1-1569005498946)

 

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ANA CARLA ABRÃO E O PLANO SÃO PAULO no TerraçoCast #166

Nesta edição especial e exclusiva, Caio Augusto acompanhou Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman e responsável pelo time de acompanhamento externo do Plano São Paulo, medida do Governo do Estado de São Paulo que buscará flexibilizar a quarentena no estado a partir de 11 de maio. Eis os assuntos tratados:

– Existe estimativa em termos regionais do escalonar da flexibilização, ou a ideia será de partir para uma abertura do estado como um todo?

– Dentro do plano de flexibilização existe a ideia de acompanhamento (tracking) das pessoas, tal qual o Nobel de Economia Paul Romer está sugerindo para Nova York?

– Já existe algum plano contingencial para o caso das metas iniciais não serem alcançadas? Como funcionará este monitoramento? Gostou do nosso podcast? Compartilhe com quem você gosta! É com muito amor, satisfação e suor que produzimos conteúdo novo constantemente pra você.

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O tripé Bolsonaro está em ruínas

Diretamente dos tempos do pós segundo turno das eleições de 2018, ficamos sabendo pelo recém-eleito que, para além de uma plataforma baseada no liberalismo de seu “Posto Ipiranga”, teríamos também um bastião da justiça para demonstrar que não haveria ali dúvidas sobre o forte combate à corrupção. Sergio Moro, convidado para o Ministério da Justiça e Segurança Pública seria, ao lado de Paulo Guedes no Ministério da Economia, um pilar fundamental do governo.

Temos então, desde o princípio, que o governo procurou se sustentar basicamente sobre o seguinte tripé:

  • – O estabelecimento de uma economia liberal, pautada em reformas que procurassem desburocratizar e desestatizar a economia do Brasil;
  • – O combate da corrupção e do crime organizado;
  • – A defesa dos bons costumes e de valores apresentados como conservadores.

Você leitor já deve ter verificado nesta mesma coluna que o primeiros dos pilares tem caminhado para a ruína. Isso ocorre porque há em curso o Plano Pró Brasil, que é uma espécie militar do PAC petista que vai buscar, da mesma maneira vaga como tentado há poucos anos (e também em outros períodos anteriores, como o regime militar), um programa de grandes obras públicas para gerar empregos. Com uma situação fiscal já insustentável – é sempre importante lembrar que 2020 será o sétimo ano seguido de déficit fiscal – e agravada pelos desembolsos necessários adicionais em função da batalha contra o coronavírus, a ideia inicial de grandes nomes da ala econômica como o Secretário do Tesouro Mansueto Almeida de deixar os desembolsos para o alívio dos efeitos econômicos com a pandemia apenas para a duração dela estão indo por água abaixo.

A sexta-feira

Nessa última sexta-feira, dia 24/04/2020, mais precisamente a partir das 11 horas, o segundo item do tripé ruiu – ao menos oficialmente – com o anúncio da saída do agora ex-Ministro da Justiça Sergio Moro. Esse anúncio não foi apenas o de “um pedido de demissão”, mas sim de algo bem maior: o do paradoxo de um governo teoricamente anti-corrupção que, ao passar dos dias, se revela como cada vez menos republicano.

Durante a dura apresentação de motivos que motivaram sua saída, o principal ponto ressaltado por Moro foi que a promessa de autonomia em sua atuação não teria sido cumprida pelo Presidente. Após comentar de alguns casos em que teria sido publicamente desautorizado pelo ex-chefe, disse que o grande estopim do não cumprimento dessa promessa foi a exoneração de Maurício Valeixo do comando da Polícia Federal (PF). Segundo Moro, a exoneração de Valeixo, realizada por Bolsonaro de maneira unilateral e sem confirmação de que seria feita antes de que de fato saísse no Diário Oficial da União, não teria sido realizada por motivos técnicos, mas por motivos exclusivamente políticos.

A história é mais longa e ainda carece de maiores esclarecimentos, inclusive estando em uma verdadeira guerra de narrativas com capítulos que envolveram de um pronunciamento de quase cinquenta minutos do presidente – em que o assunto principal quase não apareceu, sendo sucumbido por uma lavagem de roupa suja que lembra um fim de namoro conturbado – a troca de mensagens no Twitter. Mas de maneira geral, o que ficou entendido é que Bolsonaro gostaria de um novo chefe da PF que fosse mais “alinhado”, tendo um maior comprometimento consigo mesmo e consequentemente, um menor comprometimento com investigações autônomas e imparciais. Cabe destacar que os filhos de Bolsonaro ultimamente vem sendo investigados. Flávio Bolsonaro está na mira devido a um esquema de “rachadinhas” (servidores comissionados que estariam devolvendo parte do salário a ele), enquanto Carlos Bolsonaro é investigado como sendo o mentor do chamado “gabinete do ódio”.

Após o anúncio de Moro, todos ficaram na expectativa da resposta de Bolsonaro acerca do episódio. Essa resposta veio por meio do já citado pronunciamento que, per se, merece um comentário especial. Cercado por seus Ministros (sobreviventes), no que talvez tenha sido um dos pronunciamentos mais constrangedores da história da política brasileira, falou de tudo um pouco. De falas totalmente anacrônicas do presidente (como o fato de que até o esforço de “desligar o aquecedor da piscina do Palácio da Alvorada” ele havia feito, dando a entender que seu compromisso com a austeridade era real) até a uma tentativa bem barata de comoção (como quando afirmou que “sempre abria o coração para o Sergio Moro”, no que aparentemente acredita nunca ter sido correspondido).

Ministro da Economia – pelo menos por enquanto – Paulo Guedes também acabou sendo um dos destaques, mesmo sem ter dito nenhuma palavra. É que, se uma imagem vale mais do que mil palavras, a imagem de Guedes durante o pronunciamento pode estar gritando que ele pode ser o próximo ministro que vai passar no RH: era ele o único informalmente vestido, sem paletó, de máscara e com um sapato que mais parecia mostrar que na verdade ele estava descalço. Isso sem falar nas singelas e contidas duas palmas dadas após o encerramento da longa fala de Bolsonaro.

O que tudo isso nos mostra?

É importante apontar que a saída de Moro, além de revelar toda a hipocrisia de um governo supostamente “anti-corrupção”, também revela todo o autoritarismo de um presidente que acredita – ao menos em sua cabeça – ser dono de uma nação. Ele inclusive chegou a citar algo, dentro de suas tergiversações diversas, de que “a Polícia Federal se preocupou mais com a Marielle [Franco] do que com seu chefe supremo”, quando apontou que não teria recebido a mesma atenção a investigação feita pelo órgão em relação ao atentado que sofreu durante a campanha presidencial.

A impressão que se tem é que parece que tudo pode ser feito, desde que não desagrade ao todo poderoso presidente Bolsonaro. O ex-Ministro da Saúde, Luís Henrique Mandetta, que o diga, já que foi outro que ousou a desagradar o presidente e veio a sofrer o poder da “canetada presidencial” que culminou em sua saída do Ministério.

Sobre o terceiro item que compõe o tripé de Bolsonaro, cabe pedir uma mãozinha para Walras. Segundo Walras, se “n – 1” mercados estão em equilíbrio, consequentemente os “n” mercados estarão. O pressuposto de Walras também pode ser utilizado aqui, pois se dois itens de um tripé estão em ruínas, consequentemente o terceiro também estará no chão em breve. Temos dessa maneira que ficará bastante insustentável a defesa do conservadorismo e dos bons costumes sem os pilares da economia liberal e da justiça isenta.

Moro apontou como principal motivo de sua saída a sequência de momentos em que fora desautorizado por Bolsonaro e que a gota d’água teria sido a exoneração do diretor da Polícia Federal. A mesma promessa de não interferência havia sido feita a Paulo Guedes e, pelo que podemos observar com o tal Plano Pró Brasil – que sequer contou com a presença do Ministro da Economia em sua apresentação -, não é possível descartar que ele seja o próximo a desembarcar do atual governo.

Sem o pilar da Justiça Isenta e nem o da Economia Liberal, até quando o governo Bolsonaro sobreviverá? É mister lembrar que quando o comandante do navio manda todos aqueles que dão as más notícias embora, não fica ninguém para avisar de alguma eventual rachadura – e então quando se nota o naufrágio já é inevitável.

Collor e Dilma sabem bem o que esse “isolamento junto aos que não te contam as más notícias” significa e Bolsonaro, se ainda quiser se atentar a isso (e não seguir culpando o mundo por suas próprias trapalhadas), talvez possa reverter a situação.

Mas não dá para negar que a impressão é de que o jogo efetivamente já acabou.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 27/04/2020

Plano Pró-Brasil: desagradando a gregos e troianos

Já está amplamente enraizado como conhecimento popular tupiniquim que algo dificílimo de ser feito é o tal do “agradar a gregos e troianos”. Isso quer dizer que não tem jeito: ao tomar decisões, ainda mais as que envolvem muitas pessoas – ou populações -, alguém(ns) sempre ficará(ão) desagrado(s). Mas e o “desagradar a gregos e troianos”, também seria tão difícil? O Plano Pró-Brasil mostra que não.

Não é surpresa para ninguém que a crise sanitária provocada pelo Coronavírus está provocando diferentes reações de governos ao redor do mundo e que, além da sua elevadíssima taxa de transmissão e contágio, essa doença também está sendo veloz em levar recessão econômica aos países. Considerando esse cenário de profunda desaceleração econômica global, a maior desde 1929 segundo o FMI, é que o governo federal apresentou um plano de retomada pós-crise intitulado como Plano Pró-Brasil. Esse plano, que parece se inspirar no famoso “Plano Marshall”, visa reativar os investimentos em infraestrutura, objetivando criar 1 milhão de empregos com obras públicas, prevendo aportes de R$ 30 bilhões até 2022.

Apesar do momento de profunda crise, o Plano Pró-Brasil parece estar muito longe de ser uma solução ou sequer de ser um paliativo eficiente. Tal diagnóstico se dá pelo fato de que, tais quais ideias como congelar preços e inserir cláusulas de conteúdo nacional em produções diversas (como meio de incentivar a indústria brasileira), o mote deste programa falha em não ter determinações em termos de prazos e objetivos reais, mantendo-se apenas apegado a chavões e expressões bonitas que nada apresentam em termos de ideias novas ou eficientes.

Se por um lado esse plano vai na direção oposta a toda agenda liberal que estava sendo praticada pela atual equipe econômica do Ministério da Economia – a de privatizações e a de redução do gasto público – por outro, os críticos dessa mesma agenda liberal criticam a timidez e o direcionamento dos gastos desse plano. Ou seja: trata-se de um plano que desagrada a todos de certo modo.

Acerca do Plano Pró-Brasil também falta consenso, e até mesmo dentro do próprio governo federal. Falta de consenso é eufemismo, dado que as diretrizes do plano aparentemente desagradam até mesmo o Ministro da Economia, o “posto Ipiranga”, mais conhecido como Paulo Guedes. O secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Salim Mattar, também teceu considerações acerca da inviabilidade do atual esboço do Plano Pró-Brasil. Segundo o secretário, essa inviabilidade consiste na incapacidade atual do governo brasileiro de financiar um plano nos moldes do Plano Marshall.

Outro “calcanhar de Aquiles” do Pró-Brasil é a sua associação com o malfadado Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) – feita, inclusive, pelo próprio Guedes. Mesmo correndo o risco de cair em anacronismo, a comparação entre os dois planos é quase que involuntária, dado que os dois planos envolvem elevados gastos públicos direcionados para o setor da construção civil e um certo descompasso entre ideias megalomaníacas e seus respectivos custos de execução. Esse tipo de comparação é outro ponto negativo, dado que o PAC serviu como instrumental para um gigantesco esquema de corrupção, tendo envolvido as maiores empreiteiras do país.

A expressão “de boas intenções o inferno está cheio” também ajuda a explicar esse plano. Tal qual o PAC, a ideia é de, em um período bastante complicado para a economia, colocar o Estado como sendo motor da manutenção das atividades. Em teoria isso não parece ser ruim, dado que, por ser o ente com maior capacidade de endividamento, o Estado realmente tem cacife para isso. Porém, os entornos de todo tipo de programa desse tipo em nosso país de Estado gigante mostram que, no fim das contas, quem tiver mais força conseguirá recursos (independente de precisar deles ou não), projetos tentados anteriormente com ineficiência mais de uma vez – como a tal da indústria naval brasileira – voltam para uma nova malfadada tentativa e, é claro, a bonita foto em que são enquadradas as supostas “conquistas do Brasil Grande” esconde a parede manchada dos custos que ficarão para as próximas gerações.

E não é força de expressão: no caso do PAC pagaremos os subsídios até 2060 – e, aparentemente, apesar do “Plano Marshall” da época, não tivemos avanços na produtividade do país, embora algumas empresas tenham gostado bastante do dinheiro barato utilizado para os seus projetos.

No fim das contas, tenha o leitor bastante claro em sua mente que, quando o dinheiro barato é colocado na mesa, ninguém é tolo de não pegá-lo. Essa ideia de que “apenas quem precisaria se utilizaria de recursos de um programa desse tipo” tapa o sol com a peneira. Em plena época de pandemia, em que a trajetória da dívida pública (aparentemente terminada com a reforma da previdência, dado que nada de tão relevante assim veio após ela) mostra que uma estabilidade esperada para 2022/2023 em torno de 80% só vá acontecer com sorte após 2030 superando 100% do PIB, é bastante temerário que se pense com seriedade em um plano que envolva a ampliação da participação do Estado de maneira maciça na economia.

Um adendo importante sobre esse tipo de programa é que ele promove na economia o que chamamos de efeito crowding out. Esse efeito, saindo do economês, significa o seguinte em termos práticos: já que o governo está atuando nesse setor, não faz sentido que eu em vias privadas atue. A grande dificuldade sobre isso é que há impossibilidade lógica do governo atuar em todas as áreas possíveis e, quando começa a ficar muito cara essa aventura empreendedora e ele decide sair, deixando muitos setores que talvez nem deveriam estar presentes com reclamações evidentes.

Novamente citamos aqui a indústria naval como exemplo: mesmo sendo mais eficiente adquirir navios estrangeiros vemos uma tentativa por parte do Estado de tempos em tempos de “fazer uma indústria nacional” disso; na prática o dinheiro é despendido, quando fica caro o Estado pula fora e a conta, juntamente com os desempregados, ficam, com o perdão da expressão, a ver navios.

É importante ressaltar que esse artigo não quer dizer que o Estado tenha de ter efeito nulo sobre a pandemia que vivemos atualmente. Ele tem mesmo que participar com medidas de alívio aos agentes produtores e consumidores. Porém há uma diferença notável entre oferecer um alívio durante o tempo da pandemia e esticar o rol de gastos do governo de maneira mais perene – especialmente levando em consideração que, caminhando para o sétimo ano seguido em déficit primário, não tenhamos condições reais de arcar com esse tipo de ideia.

Desse modo o Programa Pró-Brasil comprovou que sim, é possível desagradar a gregos e troianos sem dificuldade alguma. Do lado liberal ficou a ilusão de que esse governo viria para permitir que a iniciativa privada atuasse onde fosse mais eficiente e que o Estado se manteria nas regras do jogo. Já do lado mais estatizante fica o reclame de que “se a Alemanha faz tanto pelo seu povo nesses tempos difíceis podíamos fazer mais por aqui” (deixando de levar em conta, tal qual o governo que criticam tanto ser neoliberal ou algo que o valha, a dificuldade em fechar as contas que já dura quase uma década).

A receita para fazer isso é razoavelmente simples e está sendo executada agora novamente. Basta criar um plano que pretenda elevar os gastos públicos a partir de investimentos em um setor econômico previamente escolhido, provavelmente o da construção civil, que além de ser de baixa complexidade, também está relacionado a graves casos de corrupção na história recente. Claro, não podemos esquecer do principal, tudo isso é para “ativar a economia do país”.

Pelo visto, a pergunta sobre se veríamos esse filme novamente está sendo respondida a passos largos. Sim, veremos.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 24/04/2020

PETRÓLEO NEGATIVADO no TerraçoCast #165

Nesta edição, Caio Augusto acompanha Pedro Lula Mota, Renata Velloso e Rachel de Sá sobre os seguintes assuntos:

– Pedro, que negócio é esse de petróleo negativo? O que aconteceu?

– Renata, atualize nossos caríssimos ouvintes sobre o coronavírus ao redor do mundo (o já estabelecido CoronaNews)

– Rachel, além de crise na saúde e na economia por aqui também temos a política. Explica pra gente o que está acontecendo

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JAMES GULBRANDSEN DA NCH CAPITAL BRASIL no TerraçoCast #164

Nesta edição especial, Caio Augusto acompanhou James Gulbrandsen, Gestor da NCH Capital Brasil, nos seguintes assuntos: – O que as crises ensinam sobre os investimentos? – Focar no fundamento importa: o que você considera serem os verdadeiros pilares dos bons investimentos? – Racionalidade dos mercados: a ganância cega os agentes investidores ou no fundo somos mais racionais do que alguns eventos de bolha ou de ausência de fundamentos sugerem? Conheça sobre a NCH Capital no site deles: http://www.nchcapital.com.br/ Gostou do nosso podcast? Compartilhe com quem você gosta! É com muito amor, satisfação e suor que produzimos conteúdo novo constantemente pra você. Aliás, não se esqueça de conferir todos os conteúdos em nosso site: terracoeconomico.com.br Editado por ATHELAS Soluções em Áudio para Podcasts

 

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As três crises brasileiras em 2020

O título deste artigo talvez não soe tão intuitivo ao leitor. “Coronavírus nos traz uma crise na saúde, a paralisação das atividades nos traz uma crise econômica, mas qual seria essa terceira?”. A terceira é a mais surreal e evitável de todas elas: a política.

A visão pessoal do presidente do país, apesar de discursos que oscilaram entre o soft e o apontamento direto de que os governadores seriam responsáveis pela crise econômica que se aproxima, é de que as pessoas não deveriam temer o coronavírus porque 70% da população será contaminada e “não tem que se acovardar” com isso. Temos por aqui um dos solitários quatro líderes mundiais que apontam ser uma besteira (ou, como dito por aqui, uma “gripezinha”) toda essa preocupação que o mundo tem tido com essa doença.

Sobre as três crises

A primeira é a de saúde, dado que a rápida disseminação dessa doença faz com que o número de hospitalizados aumente, com necessidade inclusive de isolamento e, na prática, a capacidade dos hospitais se reduz para todos os outros casos. Pode mesmo ser uma doença com mortalidade relativamente baixa – estando em uma faixa entre 1~5% -, mas quanto mais contaminados, maior a necessidade hospitalar e maior o número de mortos. É justamente por isso que se busca desacelerar a velocidade de contágio com as medidas de isolamento social.

Em segundo lugar vem uma onda forte que é a crise econômica. A paralisação total ou mesmo parcial dos negócios ao redor do mundo faz com que as receitas caiam vertiginosamente e, por essa geração de renda diminuir, logo diminui-se a capacidade de manter as estruturas e os empregos. Com isso, uma diminuição considerável da renda que circula na economia ocorrerá e isso se traduzirá em uma forte recessão global. De acordo com o FMI, será a maior recessão desde 1929. Diversos países estão empenhando esforços em termos de política fiscal para suavizar a situação, mas mesmo diante disso uma recessão já está entre nós.

O aspecto sui generis que faz do Brasil ser Brasil é que por aqui não ficamos satisfeitos em ver que a situação está complicada o suficiente, é preciso sempre dar um passo a mais em direção ao abismo. Seguindo a linha de “fim do toma lá da cá” ou o que quer que isso signifique, o presidente afirma ser contrário a qualquer tipo de negociação com o Congresso e, ontem mesmo, discursou sobre isso para manifestantes que pediam uma intervenção militar. Fica difícil até para os analistas de cenários econômicos e políticos realizarem a descrição do tamanho do problema que tudo isso representa.

A terceira crise acelera a piora das primeiras duas

As últimas semanas têm sido tão intensas que talvez tenha escapado ao leitor que, na virada de 2019 para 2020, tínhamos como problema mais relevante a guerra comercial entre EUA e China. Mesmo essa, entre as duas maiores economias do mundo – com fortes repercussões globais -, ficou estacionada diante dos graves problemas que 2020 trouxeram (o coronavírus, a crise econômica e a guerra de preços do petróleo).

Isso significa em termos práticos que o mundo entendeu – ao menos até o momento em que este artigo é escrito – a diferença entre o importante e o urgente. O urgente não está batendo na porta, está derrubando a porta.

Porém, por aqui, a desacreditação por parte do líder do executivo em relação ao coronavírus é tamanha que até quem liderava a operação dessa guerra contra o coronavírus foi trocado porque “ofuscava a liderança do presidente” – só não se sabe que liderança era essa. Ah, a melhor parte talvez você não saiba: Teich, que entrou no lugar de Mandetta, pediu 15 dias para fazer um plano de combate ao vírus. O senso de urgência nesse país, no tocante ao setor público e sua capacidade de atuação, é assustadoramente inexistente. E como se fácil fosse, o líder do poder executivo decide que é hora mesmo de empenhar esforços contra “todos que o perseguem”.

Essa crise acelera as outras duas por um motivo razoavelmente simples de entender: enquanto as prioridades tanto do presidente quanto do congresso forem de quererem carimbar o momento com sua marca de “salvadores da pátria” e não de enfim encaminhar soluções, na área da saúde seguiremos sem diretrizes adequadas. Temos uma coordenação governamental entre os entes absolutamente desorganizada e isso dá a impressão de que quem é favorável ao isolamento é “politicamente contrário” a alguém. Na economia, todo tipo de auxílio anunciado será cada vez mais ineficiente, dado que, com um caos na saúde acima do que podemos lidar, a crise econômica será ainda mais severa e alongada.

Reorganização em uma organização que não existia

Os países mais desenvolvidos discutem soluções para a reabertura após esse período de quarentena. Mesmo em países como a Alemanha tem-se uma noção de que o conceito de normalidade pós-coronavírus é bastante relativo e, até o presente momento, estamos andando sobre uma fina camada de gelo em um lago imenso de incertezas.

Por aqui, lutamos para descobrir como fazemos para colocar em ordem algo que constantemente é desarranjado ou desacreditado.

Essa desorganização imensa vai ter um saldo não desprezível em termos de saúde e de economia. Vejamos as cenas dos próximos capítulos para acompanhar quais serão também os efeitos políticos.

Uma coisa é certa: trata-se de um dos momentos mais inadequados da história do Brasil para termos entrado em uma contenda política. Essa terceira crise vai acelerar a intensidade das outras duas e o nosso país sairá muito machucado disso tudo.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 20/04/2020

Coronavírus e pandemias: tem como estar preparado?

Dentre as diversas questões que o coronavírus levantou, uma delas é de natureza filosófica: seria essa doença um cisne negro ou não?

Cisne Negro (originalmente Black Swan) é um termo que, popularizado recentemente por uma obra homônima de Nassim Taleb, significa: aquele evento que, de tão inesperado e pouco provável, pega a todos de surpresa quando ocorre.

Inicialmente podemos admitir que, então, o coronavírus foi um desses eventos. Mas não dá pra descartar que certos avisos foram “dados” em anos anteriores. O que ficou mais famoso nos tempos recentes é o dado por Bill Gates, em um TED de 2015 que falava justamente do que seria a próxima grande preocupação do mundo: a disseminação de algum vírus contagioso tal qual foi o influenza H1N1.

Nas empresas, abertas ou não, o desafio existe

Tirando todo o texto motivacional possível, é imaginável que todos nós, como pessoas ou empresas, sempre precisamos de um empurrãozinho (ou de uma bela porrada como essa) para repensar os meios como atuamos em nossos respectivos mercados e em nossas relações sociais. Desde pequenos hábitos como o costumeiramente oriental de ir trabalhar utilizando uma máscara quando está doente (afinal, ninguém, conhecido seu ou não, precisa ter contato com seu vírus infeccioso), até o avançar mais profundo de seu negócio para o mundo digital, todos repensamos hoje o que talvez já poderíamos estar fazendo para lidar com o que vem a seguir.

Em um curtíssimo prazo, se seu negócio está fechado agora o “alívio temporário” de não ter de pensar em como lidar com aglomerações internas torna-se um martírio conforme se aproxima a época de retomar as atividades. Qual será o “novo normal”? O que as pessoas chamarão de “normalidade” passado esse cenário tão incerto?

Já você que faz parte da chamada cadeia essencial e continua trabalhando, deve estar vivendo com a angústia diária de não só redobrar os cuidados internos como passar o máximo de vezes possíveis a mensagem de que nenhum dos colaboradores deve achar que o cenário é “tranquilo o suficiente” para se reunir com amigos em casa (agora que muitos deles estão parados mesmo) e nem que é “alarmante o suficiente” para que todos entrem em parafuso.

Como será a volta?

 Está aqui um dos maiores mistérios, logo em seguida de “quanto tempo vamos demorar a mais em quarentena”: como é que vamos retomar as atividades (ou ampliá-las, caso você siga ativo) após tudo isso?

Em primeiro lugar é preciso admitir que talvez as mudanças que estejam ocorrendo agora tenham caráter mais permanente do que inicialmente possa parecer. O “vamos abrir os negócios de novo” pode até ocorrer, mas não dá para descartar que ocorra um receio das pessoas de se juntarem novamente. Sendo gestor de negócios, você precisa levar isso em consideração.

Por levar isso em consideração, pense que novos meios de consumo e utilização de serviços deverão emergir, se é que já não estão surgindo. O foco em digitalizar sua atuação ao máximo ou restringir aglomerações de qualquer natureza no caso de não ser possível digitalizar tudo, de oferecer proteção em termos de contaminação (possivelmente usar máscaras ou até face shields, oferecer álcool gel, etc) e de compreender que o receio em retomar “ao normal” estará presente em nossa nova realidade.

Um novo mundo, vindo ou não, demanda preparação

 Independente do modo que você visualize ocorrer a recuperação após essa pandemia, é preciso se preparar para um mundo que com chances não desprezíveis será realmente diferente.

Possivelmente você deve estar pensando que este que aqui escreve não está olhando para as tentativas intensas – e, não seria mentiroso dizer, até desesperadas mesmo – de digitalização de negócios que estão ocorrendo nesse exato momento. Mas, sinceramente, não falamos aqui de uma “via alternativa de faturamento”, mas sim de uma inserção real nesse universo.

Como a tecnologia tem sido utilizada para otimizar seu negócio? Não seria uma boa ideia aproveitar esse momento para repensar a imensa quantidade de papel utilizada ou nos deslocamentos desnecessários de pessoas dentro de suas instalações físicas? Pensar em meios mais eficientes de fazerem as informações circularem deve estar em pauta. Seja tanto pelo motivo de reduzir custos – dado que não está saindo de graça para ninguém essa bordoada do coronavírus – quanto pela visão de reduzir mesmo contato humano ao mínimo necessário.

Teorias de mapeamento de processos deverão ganhar mais espaço com tudo isso. Digitalização e otimização também.

Nunca foi missão fácil empreender. Mas olhando a parte cheia do copo, aquela oportunidade que você que é inovador sempre aguardou para gerar mudanças positivas e necessárias aos seus negócios (e sua vida) parece ter chegado.

Difícil não entender o tamanho do chacoalhão que o coronavírus ofereceu – mesmo aos mais preparados.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 17/04/2020

DÍVIDA PÚBLICA SUBINDO A LADEIRA no TerraçoCast #163

Nesta edição, Caio Augusto acompanha Renata Velloso e Arthur Lula Mota sobre os seguintes assuntos:

– Renata, atualiza pra gente as óticas econômica, política e de saúde em relação ao coronavírus (o já consagrado CoronaNews);

– Arthur, a estabilização da dívida pública que ocorreria nos próximos dois ou três anos em torno de 80% ficou para depois de 2030 já superando 2030. O que isso significa? Para onde estamos caminhando?

– Renata, atualize-nos sobre a situação das eleições nos EUA. Então o páreo vai ser entre Donald Trump e Joe Biden?

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O que importa olhar no Boletim Focus

Dentro do campo das previsões econômicas brasileiras temos um apanhado de dados apontados pelo mercado publicado semanalmente pelo Banco Central. É o Boletim Focus, divulgado nas manhãs de segunda-feira com expectativas de agentes do mercado para métricas como PIB, taxa Selic, câmbio e IGP-M (variáveis que estão presentes na vida de todos nós).

Até aí tudo bem, é realmente interessante que se tenha um acompanhamento do tipo. O problema é que, tal qual sobre as previsões mais amplas dos economistas, muitos têm um reclame sempre presente: o de que “não adianta nada olhar para o Focus porque ele nunca acontece”. Se você também está nesse time, tenho uma boa notícia pra você: há sim motivos para se acompanhar o Focus semanalmente.

É correto afirmar que as previsões que lá constam não vão acertar “a mosca”. Para ser bem sincero, é difícil ter quem em uma determinada altura do ano consiga acertar tantos dados assim com uma precisão impressionante. Ainda mais em um país como nosso em que a estabilidade passa bem longe de ser uma realidade. Apenas para ilustrar o que digo: menos de três anos após superar dois dígitos a inflação se colocou abaixo do centro da meta e de lá não saiu mais; a taxa básica de juros saiu de um patamar bastante elevado para seu mínimo nominal histórico em menos de quatro anos; e o câmbio, bem, saiu de uma faixa inferior a R$3,00 para ter como “novo normal” a faixa de R$4,00~R$4,50+.

Então, pra começo de conversa, sim estão corretos os que dizem que o Focus não acerta suas previsões. Em um país como o nosso, estranho mesmo seria que o um boletim semanal em qualquer altura do ano conseguisse cravar dados econômicos do final do mesmo (ou até dos próximos).

Mas então o que devemos olhar no Boletim Focus?

Há dois itens importantes a serem observados no boletim semanal de expectativas de mercado: a tendência entre boletins (e a que os anos futuros mostram) e o que dizem as cinco instituições que mais acertam (chamado Top 5).

Quanto ao primeiro ponto, a razão é bastante simples e direta: você pode estar informado sobre os dados que se têm atualmente ou pode estar focado no que eles vêm dizendo ao longo do tempo. Com uma chance não desprezível, caso você esteja no segundo caso, ficará menos surpreso com outras variáveis que nem estão lá. Um exemplo: caso você acompanhe a trajetória das expectativas para o PIB vai perceber que nos últimos anos mesmo com início otimista vemos um desinchar de expectativas ao longo do período; isso mostra como é preciso focar em avanços reais da economia e não em anúncios de que “estamos decolando”. Sobre esse lado, realmente você será menos enganado pelas os ruídos da economia e ficará mais a par das verdadeiras mensagens dela.

Já em relação ao segundo ponto, como medida de alinhamento de expectativas o Banco Central reúne as expectativas das cinco instituições financeiras que mais têm acertado em um anexo da divulgação semanal. Com isso, você pode ficar a par não só das expectativas gerais como também daquelas que provavelmente mais se aproximarão da realidade. Esse “foco dentro do foco” pode ajudar, por exemplo, a verificar se as instituições mais certeiras estão de acordo com os termos gerais ou são mais otimistas/pessimistas que o mercado em geral. Na edição que foi publicada nesta segunda-feira, por exemplo, enquanto o mercado visualiza a taxa Selic em 3,25% para o final de 2020, as instituições que mais acertam já veem essa taxa encerrando o período em 2,75%, tudo isso pela expectativa de que o IPCA deste ano já esteja rumando para 2% (e então haveria espaço para que a taxa, atualmente em 3,75%, caísse tanto assim).

Então olho ou não o Focus toda semana?

Temos, no fim das contas, que a crítica sobre os dados do Focus não é incorreta porque ele realmente não “acerta os dados”. Porém, levando em consideração que sua ideia seja a de estar mais por dentro das previsões econômicas para o ano (e também os próximos) e não querendo discutir o sexo dos anjos do “decolar do crescimento brasileiro” (como com certa frequência fazem as equipes econômicas de qualquer governo por aqui), não deixe de lado esse relatório publicado semanalmente.

A tendência importa e o direcionamento das instituições que mais têm acertado também. Com isso você realmente pode estar mais informado do que muitos que ouvem apenas o barulho e juram que estão vendo alguma imagem.

O Focus também está aqui no canal da Guide. O Focus sai toda segunda-feira no relatório Mercados Hoje atualizado. Acompanhe para entender melhor o que estamos apresentando!

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 13/04/2020