Seguindo a linha de indicações das sextas-feiras nesta coluna, hoje vamos falar sobre o filme Fome de Poder, que conta a história de como o McDonald’s virou a mundialmente conhecida franquia dos alimentos (e dos imóveis) que conhecemos hoje.
Ray Kroc, um esforçado vendedor de máquinas de milk-shake estava em sua rotina suada de convencimento para vender uma ou outra unidade quando recebe um chamado pedindo uma quantidade razoável de máquinas. Dada a dificuldade de vender uma, ele decidiu ir conferir se não era uma pegadinha. Conhece assim os irmãos McDonald, Dick e Mac.
Logo ao chegar, a surpresa: diferentemente de todas as lanchonetes daquela época, ali não parecia haver uma espera enorme entre o pedido e a chegada da comida e, para deixar tudo ainda mais surpreendente, havia uma grande fila. Em outras palavras: um baita sucesso que valia a pena ser observado mais de perto. Encontrando Mac, ouve dele “quer conhecer como a gente faz isso?”. Kroc não hesita e vai. Gosta tanto do que vê que chama os irmãos para jantar para saber mais sobre a história do negócio.
Para não dar spoiler e evitar que você fique desmotivado de assistir ao filme, falaremos não da história corrida em si, mas de algumas das lições que ele traz.
Trabalhe por processos e revolucione
É sabido que nem toda atividade dentro de um negócio pode ser padronizada, mas, ainda assim, pensar tudo como se fossem processos diferentes otimiza tudo. O grande diferencial do McDonald’s (e que, após ele, outras redes emularam) foi justamente esse: transformar o meio comum de servir comida em algo padronizado, com um caminho estabelecido e que deve ser seguido.
Pense em todas as atividades que você desempenha. Dificilmente 100% delas sejam novas todos os dias. No que você puder, coloque processos e veja como a eficiência geral aumenta.
Foque no que você é bom…
Logo ao início do filme os irmãos McDonalds contam que de um cardápio complexo com quase trinta itens notaram que 87% da receita vinha basicamente de hambúrgueres, milk-shakes, batata frita e refrigerante.
Já parou para pensar em quantas atividades diferentes você desempenha na vida que estariam só nos 13% de rendimentos enquanto algumas poucas em que há um real destaque pegam a fatia majoritária?
… mas sempre diversifique
A priori você pode pensar que o negócio do McDonald’s é a alimentação. Mas você está enganado, na verdade são os imóveis: hoje a empresa é uma das maiores detentoras de propriedades imobiliárias do mundo, porque compra as terras e faz contratos com os franqueados de modo com que eles apenas possam negociar com a própria rede.
Isso não significa que você deve forçar seus clientes a negociarem apenas com seu negócio – até porque, considerando a velocidade dos mercados, é praticamente impossível que você o faça com eficiência hoje -, mas sim que, dentro do seu campo de atividade, muito provavelmente existem oportunidades negligenciadas que poderiam ser tão rentáveis quanto o que você considera ser o campo principal hoje.
É importante alinhar as expectativas para gerar valor
A maior validação de um negócio ou processo é a realidade. Não adianta nada ter a melhor ideia do mundo se ela não tiver atratividade do mercado consumidor. Boas ideias demoram um pouco de tempo para serem aceitas, então trabalhe mais no alinhamento da visão de quem serão seus usuários do que em imaginar que eles não são inteligentes o suficiente.
Há uma parte no filme em que os irmãos McDonald, quando contando que o sistema deles dependia das pessoas irem até o balcão fazerem seus pedidos e levarem a comida embora (e não o tradicional “nossas garçonetes vão até você tirar o pedido”), disseram-se inicialmente decepcionados com a reação das pessoas diante disso. Provavelmente em algum momento do seu negócio você já passou por esse desacreditar: saiba que o melhor a se fazer é colocar quem vai usar a ideia pra ter a mesma visão sua (e tenha a humildade de reconhecer se isso não funcionar).
Delimite bem seu negócio e saiba dizer não
Nem todo negócio quer ser o maior do mundo no que faz. Nem todo negócio almeja fazer uma enorme fortuna. Ou, mais recentemente, com uma ida grande de empresas para a bolsa brasileira, é bom lembrar também que nem toda companhia quer abrir seu capital – algumas vão muito bem, são rentáveis e não querem ter mais sócios.
Negócio maduro é aquele que tem uma razoável orientação do que quer fazer e de onde pretende chegar – e, perdoem-nos o trocadilho, é aquele que sabe do que é que realmente tem fome.
Durante o filme observamos o sonho local de dois irmãos se tornar um espalhar nacional (e em seguida global) de um ambicioso empresário que trabalha na expansão. Não há problema algum de estar do lado de um ou de outro. O problema é não delimitar o que se quer fazer com seu próprio negócio antes que grandes mudanças aconteçam e seja tarde demais para dizer “não era bem isso que queríamos”.
Ah, e mesmo que pareça redundante, nunca se esqueça da importância dos contratos. Os formais, aqueles em que juridicamente você pode se apoiar. Conselho de gestão: contratos que não tem porta de saída são como verdadeiras arapucas.
Saiba com quem você faz negócios
A condição sine qua non de fazer qualquer negócio que envolva trabalhar em parceria é saber exatamente com quem você está lidando. Pode parecer uma frase forte, mas, sociedades empresariais têm mais laços que casamentos. Em um casamento, caso não dê certo, você se divorcia, define a guarda dos filhos e separa os bens. Em sociedades existem contratos, pessoas que daquilo tudo dependem, partes interessadas, metas a serem alcançadas.
A assimetria de informação sempre irá acontecer, devemos lidar com isso. Mas em toda negociação que envolva adquirir, expandir ou vender parte de seu negócio, saiba o máximo possível de quem estará contigo nessa. Ou, como costumam dizer os americanos, always know who you’re in bed with.
O filme deixa o espectador dividido entre ser Ray Kroc um gênio dos negócios ou um aproveitador. Deixemos essa avaliação a você após assistir essa verdadeira aula sobre negócios em franquias!