Enron: os mais espertos da sala e lições para a vida

Uma empresa que levou dezesseis anos para sair de 10 bilhões de dólares em ativos e chegar em 65 bilhões e, em apenas 24 dias, faliuO documentário Enron: os mais espertos da sala é sobre números superlativos, ego, jogadas arriscadas e muito dinheiro.

Enron foi uma empresa de energia dos Estados Unidos que, com forte base no estado da Califórnia, controlava esse setor por lá. Pautou, por um período considerável de tempo, por desregulamentações que a deixasse mais livre para operar. Mas foi esse ritmo de “liberdade absoluta” que permitiu que todos os problemas viessem a acontecer.

“Como a Enron ganha dinheiro?”

Logo ao início do documentário vemos cenas dos ex-executivos da empresa sendo interrogados publicamente a respeito das más decisões tomadas – e esse tipo de cena é mostrada em outras partes também. Em um determinado momento é feita uma pergunta que parece óbvia, mas para o filme faz todo sentido: como a Enron ganha dinheiro?

Tal pergunta é justificada pelo fato de que a Enron, sendo uma empresa de energia, deveria ganhar dinheiro como todas as empresas do setor, através das operações relacionadas ao mercado de energia. Certo?

Pois é, mas nela tínhamos dois detalhes obscuros que faziam com que tudo ocorresse de maneira diferente.

O chocante desvio ético…

Imagine a empresa que leva energia até a sua casa todos os dias. No Brasil, os preços finais que chegam pra você dependem do Sistema de Bandeiras Tarifárias, este que leva em conta o custo de produção da energia – quanto mais elevado estiver, mais será repassado aos consumidores em forma de aumento e o contrário também é verdadeiro. Já em relação aos players que produzem a energia, há o chamado Preço de Liquidação das Diferenças (ou PLD), que é, de maneira simplificada, o “preço de mercado” da energia quando comprada setorialmente (e que é definido em valores máximos e mínimos pela ANEEL todos os anos).

E, sim, há uma relação entre o PLD e as bandeiras tarifárias: quanto maior for o PLD, maior o aumento.

Na Califórnia, nos anos 1990, essa precificação era bem mais livre. E por bem mais livre entenda: quaisquer custos que pudessem ser repassados, seriam repassados diretamente ao consumidor.

E é aqui que entra o desvio ético. Se estiver lendo em pé, sente-se, porque por mais surreal que isso pareça, de fato aconteceu. Os operadores da rede de energia desligavam algumas partes do sistema para gerar uma escassez de energia que justificasse aumento no valor das contas. Expressões como “vocês precisam ser criativos para encontrarem um jeito de desligar a energia hoje” e “vamos tirar dinheiro das vovós da Califórnia” eram literalmente ditas por esses operadores em gravações que mais adiante se tornaram públicas.

Dessa maneira, enquanto a empresa conspirava diretamente para gerar faltas de energia que se refletiriam mais adiante em aumentos nas contas, as receitas acabavam sendo impactadas positivamente e, assim, um mesmo serviço de energia comum (e bastante questionável em termos de entrega) acabava se tornando uma lucrativa operação financeira, levando as ações a aumentarem consistentemente.

… e o eletrizante desvio contábil

Unindo a essa artimanha de promoção de escassez estava uma ideia que, até então, por mais simples que fosse, trazia resultados geniais. Essa ideia era a de aprimorar a valor presente ganhos esperados de operações que estavam em curso juntamente de um conjunto de “jeitinhos” para esconder as dívidas que ficavam no caminho.

Funcionava da seguinte maneira: a Enron atribuía em seus balanços a aquisição de novas instalações e, “já que ninguém dizia não ser possível”, atribuía logo no momento dessas compras toda a receita esperada com o futuro delas. Seria como, na prática, um investimento de vinte anos pudesse ser colocado na mesa como resultado do ano atual. Uma coisa é a expectativa de ganhos e resultados, outra bem diferente é o reconhecimento desses.

Para piorar a situação, em um emaranhado de diferentes empresas que foram sendo criadas, as dívidas acabavam sendo escondidas. A mistura de fogo com gasolina era a seguinte: as receitas incorporavam os ganhos ao longo do tempo que a Enron teria com as aquisições que fazia enquanto os custos dessas aquisições (esses que, tais quais as receitas, também eram de longo prazo) não entrassem em seus balanços.

Resultado? Uma empresa cujas ações subiam sem parar, dado que suas receitas eram cada vez maiores com despesas que não acompanhavam e dívidas que pareciam ser sempre estáveis.

Um detalhe impressionante dessa história é que a firma de auditoria, Arthur Andersen, quando “se deparou com a situação” literalmente começou a destruir os arquivos físicos que existiam buscando limpar os rastros da enorme fraude que fingiam não ver. Aliás, mesmo diante de questionamentos públicos da justiça, a empresa se negou a responder sobre.

No mundo das empresas de auditoria, até esse momento, chamavam as grandes empresas de Big Five, sendo elas a Arthur Andersen, a Ernest&Young, a KPMG, a Deloitte e a PriceWaterhousecoopers. A partir desse momento, sem surpresas, passaram a ser Big Four.

Como caiu o castelo de cartas?

O começo do fim de um problema é identificar que ele existe. Neste caso não foi diferente: em 05/03/2001 um artigo questionador chamado Is Enron overpriced? colocava na mesa uma pergunta importante: como uma empresa de energia pode estar tão bem diversificada e ganhar tanto dinheiro assim? Lembrando que a Enron ocupou por diversos anos um dos primeiros lugares da Fortune 500, ranking das maiores empresas dos Estados Unidos.

É claro que não foi apenas esse artigo que promoveu todos os questionamentos que vieram a seguir, mas ele parece ter estalado os dedos para que muitos acordassem do conto de fadas acionário em que viviam.

O assunto, que já esteve presente até em uma cena dos Simpsons, acabou rendendo discussões diversas sobre como setores de serviços públicos devem ser regulados e também sobre como algumas práticas contábeis – como essa de atribuir a valor presente os resultados esperados para o futuro – precisavam ser revistas.

Além de uma dívida de US$15 bilhões que ficou para trás, milhares de empregos foram perdidos e muitos americanos que tinham nessas ações parte de suas aposentadorias viram seus sonhos virar pó. Levando em conta que não se tratava de qualquer empresa, mas sim de uma das maiores dos EUA, esse baque tremendo não parecia sequer imaginável, até que de fato aconteceu.

Fica a dica: do documentário e para seus investimentos

As cifras que os executivos levaram para casa advindas de bônus milionários que surgiram a partir dessas fraudes e o rastro de perdas que ficaram para trás fazem com que esse documentário realmente seja para os que têm mais estômago.

A indignação fica latente quando ele acaba.

Porém, como diz aquela velha frase, você pode aprender errando ou observando o erro dos outros. Da virada do milênio pra cá muita coisa mudou, principalmente no tocante ao acesso da informação. Sabe aquela empresa da moda? Não vá na onda de quem grita por aí que você não pode ficar de fora. Procure a opinião de quem estuda sobre ou, se você entender disso, olhe os balanços, as previsões, os planos.

Sempre duvide daqueles que têm certezas demais e questionamentos de menos.

É claro que uma fraude dessa magnitude fica muito mais difícil de acontecer hoje em dia dadas as balizas legais existentes e também a esse fluxo informacional mais adequado, mas ainda assim esse tipo de coisa está sujeita sempre a acontecer: lembremo-nos por exemplo que todas essas mudanças não impediram por exemplo o escândalo da OGX que, segundo a CVM veio a apurar mais adiante, também tinha razões contábeis.

Assista a esse documentário e reflita sobre seus investimentos. Pode ser um tanto assustador pensar nisso, mas é melhor que seja pensado antes de se tornar vítima de mais alguma malandragem dessas.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 28/08/2020

INFLAÇÃO TÁ BAIXA OU NÃO? no TerraçoCast #191

Nesta edição, Caio Augusto acompanha Rachel de Sá, Renata Velloso e Victor Candido sobre os seguintes assuntos:

– Rachel, a inflação tá baixa mesmo ou não? Como os preços estão variando mas o IPCA segue tão baixo?

– Renata, apresente para nossos queridos ouvintes o Boletim Internacional (que, neste ano, é praticamente dominado por novidades sobre o coronavírus, o já consagrado CoronaNews);

– Victor, e essa rusga do Bolsonaro com o Guedes sobre o Renda Brasil? Ajude-nos a olhar esse caso de uma forma mais desapaixonada.

Gostou do nosso podcast? Compartilhe com quem você gosta! É com muito amor, satisfação e suor que produzimos conteúdo novo constantemente pra você.

Aliás, não se esqueça de conferir todos os conteúdos em nosso site: terracoeconomico.com.br

Esse podcast foi trazido a você pela Binance, a maior corretora de criptomoedas do mundo – e que agora está no Brasil. Saiba mais em http://www.binance.com !

Editado por ATHELAS Soluções em Áudio para Podcasts

 

Link para o episódio no Spotify

GUIA DOS ECONOMISTAS no TerraçoCast #190

Neste episódio especial, Caio Augusto recebe as autoras do Guia dos Economistas, um material focado em apresentar como o mundo da economia é mais diverso do que se imagina e poderia ser muito mais diverso socialmente do que é hoje. A conversa foi com Ana Luiza Pessanha (Formada na UFRJ e Vice Presidente da RioMais), Maria Oaquim (Formada e mestranda na PUC-Rio e parte da equipe da RioMais), Mariana Moura (Formada pela UFRRJ e mestranda UFV), Rebeca Vitelbo (Formada pela FGV-Rio) e Laura Karpusca (Aluna de pós-doutorado na FGV em São Paulo), sobre os seguintes assuntos:

– Ana Luiza e Maria, contem pros nossos ouvintes o que motivou vocês a criarem o Guia dos Economistas;

– Rebeca e Mariana, dado que o Guia está pronto, quais iniciativas devem derivar dele para que as sementes plantadas germinem e os objetivos sejam alcançados?

– Laura, levando em conta que o Guia está aqui e que existem iniciativas concretas para fazer com que ele seja uma realidade, o que vocês imaginam para o futuro da área da economia quando essas sementes gerarem frutos?

Link para o Guia dos Economistas: https://bityli.com/DBTIF

Gostou do nosso podcast? Compartilhe com quem você gosta! É com muito amor, satisfação e suor que produzimos conteúdo novo constantemente pra você.

Esse podcast foi trazido a você pela Binance, a maior corretora de criptomoedas do mundo – e que agora está no Brasil. Saiba mais em http://www.binance.com !

Aliás, não se esqueça de conferir todos os conteúdos em nosso site: terracoeconomico.com.br

Editado por ATHELAS Soluções em Áudio para Podcasts

 

Link para o episódio no Spotify

Qual o investimento mais amado do Brasil?

O ano era 2019 e o Bull Market estava feroz. Ibovespa acompanhando o ritmo global e subindo (quase) todo dia. A impressão era de que ações nunca mais iriam cair. Entrada de milhares de CPFs na B3, em um movimento extraordinário. Selic caindo e com sinais de que deve ficar baixa por muito tempo. De posse de todas essa informações, se você tentasse adivinhar qual foi a alocação financeira mais feita pelos brasileiros no ano passado, qual seria seu chute?

Separando em sete categorias e elencando-as da menos destacada para a mais, temos: em sétimo lugar, com apenas 2%, as moedas estrangeiras. Em sexto, com 3%, as ações (é possível que aqui já tenhamos alguns incrédulos leitores). Na quinta posição, com 4%, títulos públicos (“mas o Tesouro Direto não tinha se popularizado? só isso?”). Em terceiro lugar, com igual peso, de 5%, títulos privados (LCILCAdebênturesCDB) e previdência privada. Na segunda colocação, com 6%, os fundos de investimento.

Chegamos então a ele, o campeão. Com notáveis 84% de participação, monte que supera com facilidade a soma de todos os outros anteriores, a tradicional Poupança.

Esses dados estão na pesquisa Raio X do Investidor, da ANBIMA, que chega nesta publicação a sua terceira edição.

Apesar desse resultado um pouco controverso, é interessante observar que o movimento de redução de alocações na Poupança é notável, ainda que todas as outras seis categorias tenham ficado quase no mesmo patamar durante os três anos do estudo:

Por que será que isso acontece?

Dentre os motivos pelos quais isso acontece, podemos elencar por exemplo que isso tem relação direta com a Selic baixa sendo um fenômeno recente demais – incapaz ainda de inspirar alocações mais arriscadas -, a educação financeira ainda ser um certo tabu e, para além desses dois, o hábito de poupar ser dependente da renda e de como o consumo ocorre.

Em relação a esse terceiro item cabe fazer uma observação importante. Para quem pesquisa um pouco mais e lida mais organizadamente com suas finanças pessoais procurar alternativas mais rentáveis de investimento no cenário atual de baixa taxa básica de juros parece óbvio. Mas essa está longe de ser a realidade da maioria dos brasileiros. Dentre outros motivos, porque a renda se aproxima da subsistência. Segundo o IBGE, um quinto dos trabalhadores tinha renda média em 2019 igual a metade de um salário mínimo.

Os hábitos de uma boa lida com o dinheiro podem sim serem ensinados. Mas o caminho ainda é bastante árduo, tendo em vista que nosso déficit educacional é tão amplo que fica difícil elencar como prioridade o ensinar sobre dinheiro adiante de português e matemática, ainda que possam esses dois serem de alguma forma mesclados com aquele outro. Há outros problemas mais urgentes a serem resolvidos primeiro.

Mas há uma parte cheia nesse copo!

O estoque atualizado de recursos na poupança, para o mês de julho de 2020, é de R$973,669 bilhões – estoque esse que foi reforçado por uma entrada líquida de mais de R$110 bilhões nos primeiros seis meses desse ano. Quase um trilhão de reais na Poupança.

Neste ano temos o fator coronavírus, que tornou mais complexo qualquer tipo de previsão – algo que possivelmente pode ter contribuído para esse aumento de alocação na Poupança. Mas é aí que está a oportunidade: esse montante imenso de dinheiro que literalmente perde para a inflação pode ser atraído a alocações melhores.

O movimento de desbancarização do brasileiro, de uma caminhada a investimentos melhores, está apenas no começo. Existe um campo imenso para que novos produtos cheguem ao investidor e tornem-se possibilidades reais.

Lembremo-nos do gráfico acima citado: o movimento de queda de utilização da Poupança é maior do que o aumento individual em cada uma das outras categorias, mas como a queridinha do Brasil ainda tem um montante enorme (e rendendo abaixo de zero), não faltam motivos para que quem detém oportunidades mais atrativas possa colocar seus produtos na mesa.

O que dá pra esperar pro futuro?

Esse estudo da ANBIMA formará ao longo dos anos uma base de dados interessante sobre o que o brasileiro médio faz com seu dinheiro quando o coloca no sistema financeiro. A depender do evoluir dos três fatores aqui citados – a Selic seguindo em baixa, a educação financeira se tornando mais popular e o hábito de poupar também -, podemos observar uma mudança nesse cenário.

Importante ressaltar também que a Poupança tem forte presença no financiamento imobiliário nacional e, por este motivo, não dá para imaginar que nos próximos anos a queda seja tão forte que essa alocação praticamente suma. Ela deve continuar bastante presente.

Em todo caso, antes de imaginar que é “um completo imbecil” aquele que não tem uma bela e diversificada carteira, lembre-se que, na média, é de uma maneira absolutamente conservadora e tradicional que o brasileiro médio investe. A decisão entre “fazer troça” com isso ou contribuir com o escoamento desse dinheiro para diversos setores dependerá diretamente da qualidade do diálogo entre quem oferece produtos financeiros e quem pode alocar recursos neles.

Ou, mais diretamente: a batalha é árdua, mas há muito dinheiro na mesa. Oportunidade, para quem investe e pra quem quer captar recurso, não vai faltar!

POLÍTICA COM O CÉREBRO, NÃO O FÍGADO no TerraçoCast #189

Nesta edição, Caio Augusto acompanha Victor Candido, Renata Velloso e Rachel de Sá sobre os seguintes assuntos:

– Victor, fala pros nossos ouvintes sobre as mudanças que têm ocorrido na política. O governo finalmente entendeu que tem que ter base? O que isso significa?

– Renata, apresente para nossos queridos ouvintes o Boletim Internacional (que, neste ano, é praticamente dominado por novidades sobre o coronavírus, o já consagrado CoronaNews);

– Rachel, conta pros nossos ouvintes sobre as medidas em tramitação que buscam acionar os gatilhos do Teto de Gastos e também sobre essa possibilidade (que tem sido muito falada) do repasse do resultado do Banco Central para conta única do Tesouro. Pra que servem essas duas coisas?

Gostou do nosso podcast? Compartilhe com quem você gosta! É com muito amor, satisfação e suor que produzimos conteúdo novo constantemente pra você.

Aliás, não se esqueça de conferir todos os conteúdos em nosso site: terracoeconomico.com.br

Esse podcast foi trazido a você pela Binance, a maior corretora de criptomoedas do mundo – e que agora está no Brasil. Saiba mais em http://www.binance.com !

Editado por ATHELAS Soluções em Áudio para Podcasts

 

Link para o episódio no Spotify

Você sabe o que é Equity Crowdfunding?

Para começarmos todos na mesma página, vamos iniciar pelo conceito de Equity CrowdfundingEquity é o fazer parte de uma empresa, ser sócio, ter ações dessa firma. Crowdfunding é fazer a coleta de recursos de maneira mais ampla, geralmente focando em ter vários apoiadores diferentes com quantias menores de recursos aportados, sendo este todo o real diferencial para o projeto – é o que podemos chamar em bom português de “financiamento coletivo”.

Existem dois tipos de Crowdfunding: o de recompensas e o Equity. A diferença entre os dois é a seguinte: enquanto o primeiro ao receber recursos devolve mimos a quem decidiu participar da campanha e tem foco em projetos específicos (por exemplo o lançamento de uma obra literária), o segundo permite que você em troca do valor que aportar receba participação de uma empresa.

Tendo em vista o perfil mais fragmentado de recebimento de aportes – em menores valores mais com uma quantidade maior de pessoas -, Equity Crowdfunding costuma ser relacionado com startups, uma vez que nesses casos o financiamento ocorre de maneira mais direta e explicativa. Quase que literalmente nesses casos o “olho no olho” com quem está te vendendo a ideia faz muita diferença. Bem diferente de abrir o home broker e comprar uma ação de uma empresa da qual você dificilmente terá acesso direto à gestão.

Fique atento ao tipo de Crowdfunding para não se arrepender

Todo investimento via Crowdfunding é boa ideia? Como toda boa resposta de economista: depende. O diferencial de se investir em uma startup é que dessa maneira você pode estar em contato mais direto com ideias que podem desembocar em enormes projetos e lucros futuros. Ainda assim, é preciso que você esteja consciente que é necessário determinar o que você está comprando em termos de participação.

Um caso que ficou emblemático no mundo para deixar claro o que isso significa (da importância de você saber o que está comprando) é o da Oculus Rift. A empresa, que em campanha na plataforma de crowdfunding Kickstarter obteve US$2,5 milhões de dólares, foi vendida para o Facebook logo em seguida por US$2 bilhões. Isso acabou pegando mal no mundo do financiamento coletivo porque, no fim das contas, qual seria a necessidade de arrecadar dinheiro coletivamente se a empresa tinha essa outra enorme possibilidade diante de si (de ser comprada por um enorme conglomerado da tecnologia)?

Outro, que lembra pela provável não necessidade real de um financiamento coletivo, foi o da Hamburgueria Zebeléo, que virou piada amplamente na internet brasileira. Dos três que estavam no projeto, um havia acabado de ganhar o prêmio de R$150 mil por ter se sagrado vencedor do programa MasterChef, outro era um empresário razoavelmente bem-sucedido (que comentava inclusive de viagens internacionais que havia feito no vídeo que teoricamente atrairia a atenção para necessidade da doação) e outra era conhecida como um fenômeno jovem dos estudos. O vídeo dá uma dimensão do que a campanha objetivava.

Esses dois casos ilustram a seguinte verdade sobre esse tipo de crowdfundingsó entre nessa, do lado de quem pede recursos ou de quem oferece, se tiver minimamente alguma ligação lógica com a causa. Não é que você não possa ser um sócio apenas interessado no retorno advindo do negócio ou projeto, mas, diferentemente de uma ação em bolsa, aqui o risco está intimamente relacionado de como o negócio pode ir do céu ao inferno (ou vice-versa).

Entrar nessa por mero esporte pode ser o melhor jeito de jogar dinheiro ou a reputação no lixo.

Mercado cada vez mais popular!

Dois fatores fazem com que esse tipo de coisa fique cada vez mais popular em um país como o nosso: os juros baixos e os programas que falam das ideias inovadoras.

O primeiro caso, dos juros, é relativamente simples de compreender: em um país de juro de 1% ao mês no bolso sem muita preocupação, muitos dos projetos interessantes que as pessoas sonhavam em tirar do papel – e que geralmente demandam mais investimento do que sozinhos conseguem dispor – ficavam sempre para amanhã, literalmente porque não compensaria a disputa entre o dinheiro suado e o que trabalhava fácil pra você. Já hoje, com 1% sendo metade dos juros anuais (fora Imposto de Renda e outros que deduzem isso), o dinheiro está escoando para muitos outros mercados que não o da dívida pública.

O segundo caso é um pouco mais específico, mas é possível que o leitor já tenha se deparado também com ele: programas como o Shark Tank (que inclusive tem edição brasileira há alguns anos) mostram, diretamente, como ideias diferentes podem ser tiradas do papel. E esse tipo de programa traz dois conceitos importantíssimos a quem pretende entrar nessa: primeiramente, você precisa conhecer do seu negócio o suficiente pra saber o quanto pagariam por ele (não adianta tirar valuation da cartola, porque quem investe não tem tempo nem dinheiro a perder sem propósito) e, em segundo lugar, se você quiser petiscar, tem que arriscar.

Como investir em Equity Crowdfunding no Brasil?

A Comissão de Valores Mobiliários mantém uma lista ativa de plataformas de investimento colaborativo. O primeiro passo, seria consultar se a empresa que fornece tais oportunidades é regulada pela CVM, por uma questão de segurança do investimento a ser feito.

O segundo passo é entender a fundo da empresa que se quer fazer parte. Não que você vá ser o gestor dela ou executará atividades de alguma natureza, mas convém saber em quais ideias seu dinheiro entraria. Novamente: aproveite a oportunidade que você tem de fazer isso com um “olho no olho” muito mais intenso do que você tem ao abrir o home broker e comprar uma ação.

Um terceiro passo que sugerimos é justamente assistir diversos episódios desses programas que abraçam ideias inovadoras. Não para que você se force a ter ideias tão boas, mas para que verifique na prática que tipo de coisa quem participa desse tipo de investimento (seja solicitando recursos ou ofertando-os) está procurando e como descobrir se o negócio a ser investido é uma boa ideia ou uma barca furada.

A liquidez que o mundo visualiza hoje com os juros baixos aparentemente sendo o novo normal em todo canto é uma oportunidade de ouro para que você invista em ativos reais e em negócios de maneira mais direta, como é o caso do equity crowdfunding. Só não se esqueça que, diferente do mundo pacato de 1% sem esforço que tínhamos por aqui poucos anos atrás, os riscos não só existem como não devem ser desprezados.

 

Artigo publicado no Terraço Econômico em 20/08/2020

Políticas focalizadas e como elas chegam a quem precisa – Live Terraço + Pedro Nery

Políticas focalizadas (tais quais o Bolsa Família e o Auxílio Emergencial): como assegurar com que cheguem a quem de fato precisa? Nesta live os terraceiros Caio Augusto e Rachel de Sá recebem Pedro Nery (assessor legislativo do Senado Federal) para discutir esses e outros assuntos.

Link para a transmissão no YouTube

LIGA DE MERCADO FINANCEIRO (UNESP ARARAQUARA) no TerraçoCast #188

Neste episódio especial, Caio Augusto recebe o pessoal da Liga de Mercado Financeiro da Unesp de Araraquara-SP. Participaram do episódio Giulia Machado (Diretora de Recursos Humanos), Gustavo Bedenik (Presidente), Felipe Luz (Membro da Diretoria de Projetos) e Gustavo Gomes (Diretor de Projetos), sobre os seguintes assuntos:

– Giulia, conta pros nossos ouvintes um pouco da história da entidade;

– Gustavo Bedenik, qual o diferencial da entidade para os estudantes que decidem fazer parte dela?

– Felipe Luz, quais projetos vocês desenvolvem que atingem a comunidade fora da Unesp (ou ao menos fora do curso de vocês)? E Gustavo Gomes, como funciona a comunicação com os ex-membros?

Gostou do nosso podcast? Compartilhe com quem você gosta! É com muito amor, satisfação e suor que produzimos conteúdo novo constantemente pra você.

Aliás, não se esqueça de conferir todos os conteúdos em nosso site: terracoeconomico.com.br

Editado por ATHELAS Soluções em Áudio para Podcasts

 

Link para o episódio no Spotify

Bolsonaro I ou Dilma III?

Situação fiscal complicada. Alertas de todos os lados de que, com as contas não fechando, logo estaremos em terreno pantanoso. Reformas a serem feitas, cada vez mais inadiáveis. E quem ocupa o Palácio da Alvorada parece razoavelmente alheio a toda essa realidade. Se só te dermos esses dados, de qual governo você lembra primeiro?

As diferenças…

O segundo mandato de Dilma Rousseff começou com ares de engano a muitos dos que nela votaram. Em uma campanha que literalmente criou um personagem para brincar com quem via o que se aproximava – o Pessimildo – e evocava a todo tempo o otimismo, jamais se imaginariam por exemplo o descongelar de preços administrados e a súbita realização de que as contas públicas não fechavam mais. Aliás, sobre elas, logo ficamos sabendo que os resultados eram positivos apesar da gastança dos últimos anos por algumas malandragens contábeis – que vieram a derrubar a presidente pouco tempo depois.

Bolsonaro antes mesmo de entrar já listava entre suas principais diferenças com “isso daí” o fato de que teria como escudeiro na economia Paulo Guedes, um liberal de carteirinha que encaminharia o país para uma estada dourada de “libertação do socialismo” (importante lembrar que isso foi até citado no discurso da posse). O Super Ministro já entraria com todos os poderes necessários para permitir que o país enfim reduzisse o tamanho de sua máquina pública.

Em resumo, a diferença principal foi de diagnóstico ao início: em Dilma II foi a “surpresa” de virada ortodoxa diante das dificuldades que o país passava, em Bolsonaro I foi o afirmar categórico de que o país passaria por uma grande virada.

… e as semelhanças

Dilma trouxe Joaquim Levy, conhecido por sua austeridade em relação a contas públicas e até com um apelido bastante direto: “Levy Mãos de Tesoura”. O ponto crucial era de que tínhamos de fazer um ajuste fiscal severo, porque a situação era bastante delicada. Resistiu menos de um ano, tendo em vista que não conseguiu quase nada do que se propôs a fazer, tendo sido boicotado inclusive pela base do próprio governo.

Bolsonaro iniciou seu governo dizendo que não faria interferências políticas e que seus ministros seriam livres para escolherem suas equipes. Isso seria o cumprimento de uma promessa de campanha. Por mais que em outros ministérios isso não tenha sido cumprido à risca, no da economia a ideia foi mesmo de deixar Paulo Guedes direcionar as coisas. Direcionar, sim, executar, nem tanto.

Desde o início da gestão, as baixas no Ministério da Economia foram as seguintes: Marcos Troyjo (comércio exterior), Mansueto Almeida (Secretaria do Tesouro Nacional), Caio Megale, Rubens Novaes, Salim Mattar (Secretaria de Desestatização), Paulo Uebel, Joaquim Levy (BNDES) e Marcos Cintra (Receita Federal). Especula-se que Waldery Rodrigues e Carlos da Costa também estejam de saída em breve.

O desmonte ocorre indiretamente por ações do presidente. Declaradas explicitamente ou por meio de sutis mensagens, cada uma dessas saídas deu a entender que ocorreu porque, como sumarizou Salim Mattar, não havia vontade política de tocar as mudanças que precisariam ser tocadas. Ou, mais diretamente: se quem tem a caneta que manda não quer que mudanças ocorram, elas simplesmente não ocorrerão.

Se vamos repetir o passado, isso aqui acontecerá

Tal qual a escolhida a dedo por Lula, Bolsonaro passa por uma fase bastante positiva em termos de popularidade. Por quaisquer que sejam os motivos, a aprovação do presidente nunca esteve tão alta quanto agora. No Brasil, quando a popularidade está em alta, geralmente os mandatários não gostam de dar más notícias.

Levando isso em conta, se o passado se repetir, podemos esperar uma continuidade dos desembolsos específicos ao período da pandemia mesmo para um período maior. Para além disso, não será difícil observar a exaltação de programas que expandem os gastos públicos com obras e afins, sempre com o nobre objetivo de recuperar o Brasil da crise.

Mais atualmente o debate direto é em relação ao Teto de Gastos. A pressão sobre este é cada vez maior e, tendo em vista que “o Brasil não pode parar”, por mais altamente não recomendável que isso seja, não se pode descartar que uma flexibilização maior – possivelmente pelo esticar do período de calamidade fiscal até 2021 – do orçamento.

Diferentemente do período de Dilma em que havia a ilusão de que o espaço fiscal era maior, agora sob qualquer ótica que se observar não há espaço fiscal para esse tipo de artimanha. Não se assuste o leitor se ver em breve o tal Plano Pró-Brasil sendo retirado da gaveta.

Será que agora vai ser diferente?

Dado o espaço fiscal absolutamente estrangulado, muito se coloca em pauta que o governo não será destrambelhado o suficiente para, por exemplo, derrubar o Teto de Gastos. Em todo caso, com essa discussão ou não, a situação segue sendo bastante delicada – e esse limite legal pode mesmo vir a ser rompido em 2021.

Mas não podemos nos esquecer que a união entre líder popular/populista e gastos adicionais costuma dar samba em Terra Brasilis.

A depender da tensão atual entre Jair Bolsonaro e seu Ministro ‘Posto Ipiranga’, já se tem até substituto na área – e, pelo que consta, esse seria Roberto Campos Neto, atual presidente do Banco Central.

O histórico de preferências em termos de políticas públicas de Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro converge para um estatismo típico do Brasil. Fica aí para questionamento do leitor então: vivemos hoje o primeiro mandato de Jair ou o terceiro de Rousseff?

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos, que, pelo visto, serão eletrizantes.

 

Publicado no Blog da Guide Investimentos em 17/08/2020

DEBANDADA NA ECONOMIA no TerraçoCast #187

Nesta edição, Caio Augusto acompanha Victor Candido, Renata Velloso e Rachel de Sá sobre os seguintes assuntos:

– Victor, nas palavras do Paulo Guedes, houve nessa semana uma literal debandada no Ministério da Economia. O que ela pode significar, no fim das contas?

– Renata, apresente para nossos queridos ouvintes o Boletim Internacional (que, neste ano, é praticamente dominado por novidades sobre o coronavírus, o já consagrado CoronaNews);

– Rachel, aparentemente estão querendo esticar o estado de calamidade (aquele que permite que deixemos de lado as regras fiscais em nome do período extraordinário em que vivemos) até 2021. Qual o risco disso? E o que pode significar?

Gostou do nosso podcast? Compartilhe com quem você gosta! É com muito amor, satisfação e suor que produzimos conteúdo novo constantemente pra você.

Aliás, não se esqueça de conferir todos os conteúdos em nosso site: terracoeconomico.com.br

Editado por ATHELAS Soluções em Áudio para Podcasts

 

Link para o episódio no Spotify